sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

BAIRROS DA CIDADE XXVIII


2.3.6 - Bairro da Boavista - III 


Avenida da Boavista, cruzamento com as Ruas de Agramonte e 15 de Novembro. 
Quando ainda havia plátanos nas laterais e as linhas dos eléctricos traçavam os pneus dos automóveis.


Portão e Capela do Cemitério de Agramonte

“A 2 de Agosto de 1832, por motivos de ordem estratégica D. Pedro IV deu ordem para queimar e arrasar a importante casa de campo, muros e árvores da bela quinta de Agramonte, uma das mais formosas e produtivas dos subúrbios do Porto. D. Pedro foi pessoalmente levar a notícia, à viúva de Joaquim Pinho de Sousa e apresentar-lhe as suas desculpas, e assegurar-lhe que seria a primeira a ser indemnizada pelo seu justo valor logo que as circunstâncias o permitissem. Afinal parece que tal nunca sucedeu, apesar de repetidos requerimentos do tutor dos menores. Continuou um monte inculto até ser expropriado, em 1855, por uma quantia “miserável” para se construir um cemitério.” – texto coligido por Jorge Rodrigues.
Os cemitérios públicos portugueses foram oficialmente criados em 1835. Em 1855 a situação dos cemitérios no Porto alterou-se radicalmente , já que se deu uma grande epidemia de cólera. As autoridades civis conseguiram fechar os cemitérios privativos que não tinham condições e, paralelamente, mandaram construir, de forma apressada, um novo cemitério municipal: Agramonte.  O cemitério de Agramonte em finais do século XIX, tornou-se o modelo preferido para os cemitérios mais pequenos da cidade do Porto e arredores, sobretudo pelo facto de prestigiadas Ordens Terceiras da cidade terem estabelecido ali os seus cemitérios privativos (Carmo, Trindade e S. Francisco), que rapidamente se encheram de belos monumentos. Sendo assim, os cemitérios do Prado do Repouso e Agramonte são também verdadeiros "museus da morte". A Capela Geral do Cemitério de Agramonte, cuja construção foi aprovada pela Câmara Municipal do Porto em 24 de Maio de 1866, substituiu a capela original que era de madeira e existia desde a inauguração do Cemitério no ano de 1855. 
A planta é da autoria do Eng. Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa, Director e professor do Instituto Industrial do Porto. As obras de construção iniciaram-se em 1870/71, sendo a planta posteriormente alterada relativamente á capela-mor, que ficou com configuração redonda, saliente em relação ao edifício, o que não estava inicialmente previsto. 


O projecto da capela-mor, para ampliação da Capela, é da autoria do Arquitecto Municipal José Marques da Silva e datado de 22 de Fevereiro de 1906. 


Jazigo Municipal - fotografia de A. Amen



Capela da família dos Condes da Santiago de Lobão – foto de Teodósio Dias


Jazigo dos Conde de Ferreira

Joaquim Ferreira dos Santos (Porto 1782-1866) foi comerciante e filantropo. Tendo conseguido grande fortuna no Brasil e em África, em boa parte pelo tráfico de escravos de Angola para o Brasil, após o seu regresso a Portugal dedicou-se à filantropia. Fez construir 120 escolas primárias e contribuiu com valiosos donativos para a S. C. M. do Porto. Tendo contribuído financeiramente para causa de D. Maria II esta fê-lo conde em 1856. Com a sua herança foi construído um hospital para doentes mentais, que ainda ostenta o seu nome.


Jazigo aos mortos do incêndio do Teatro Baquet, de 21 de Março de 1888



Igreja do Santíssimo Sacramento – Inaugurada em 15 de Maio de 1938, foi obra da paróquia dirigida Mons. António Augusto da Fonseca Soares.


"Esta casa, na esquina da Avenida da Boavista com a Rua de Belos Ares, não foi construída por um qualquer «brasileiro- de-torna-viagem», nem foi propriamente demolida. Foi a morada do banqueiro Manoel Pinto da Fonseca, e destruída por um incêndio, no dia 14 de Outubro de 1926.
Os irmãos Pinto da Fonseca fizeram fortuna como negreiros. Quando regressaram, os dois dos irmãos fizeram carreira como banqueiros. Criaram a casa Fonseca que depois haveria de dar origem ao Banco Fonsecas e Burnay.
Hoje é o Bingo do Boavista...num prédio de Valentim Loureiro...É a vida..." Texto de António Coutinho Coelho.


Avenida da Boavista – à esquerda vê-se o telhado da casa de Boaventura de Sousa – lembrámo-nos muito bem destes plátanos, que foram abatidos para alargar as vias de trânsito, passar as linhas de eléctricos para as laterais e porque as suas raízes levantavam o piso e eram perigosas para os automóveis. Foto dos anos 40 do séc. XX? A casa da direita pertencia à família Chambers.


Palacete Boaventura Rodrigues de Sousa – Construído entre 1895 e 1900 - esteve desocupado de 1910 a 1926. Foi Colégio de Nossa Senhora do Rosário de 1926 a 1958 – Colégio dos Maristas de 1959 a 1991 e actualmente pertence ao BES.



“A primeira referência relativa á área abrangente da freguesia de Lordelo do Ouro, remonta ao século XII, mais concretamente ao ano de 1144. Pertencendo ao julgado de Bouças, Comarca da Maia do Bispado do Porto, Lordelo do Ouro é, por decreto-lei de 26 de Novembro de 1836, integrado no Concelho do Porto. Contava então, com cerca de 2.000 habitantes.Localizada no ponto de contacto entre o rio e o mar, Lordelo do Ouro era tipicamente lugar onde imperavam a marinhagem, a pesca e a construção naval como actividades principais. É de salientar que foi dos estaleiros do Ouro que saíram grande número de Naus da frota que partiu à conquista de Ceuta...


...Este bravo feito está testemunhado pelo monumento situado no Jardim António Calem, de autoria de Lagoa Henriques, que pretende homenagear todos os portuenses que contribuíram paro tal conquista.
A esta actividade marítima deve-se também a construção de monumentos religiosos, como é o caso da Capela de Santa Catarina e a Capela setecentista de Nossa Senhora da Ajuda, construídas em locais elevados, a mando dos marinheiros, seus devotos, de forma a serem avistadas desde a entrada da barra do Rio Douro.” In site da Freguesia de Lordelo do Ouro. 

No século XIX, Lordelo do Ouro assistiu à implementação de algumas unidades industriais de certa importância para a freguesia. Foi o caso da Companhia Portuguesa de Fósforos e da Fábrica de Lanifícios de Lordelo, hoje desactivadas.


Companhia Portuguesa de Fósforos - arquivo do CPF

“Os primeiros documentos oficiais que referem a indústria portuguesa de fósforos datam de 1870, embora se fabricassem, em pequenas oficinas e fábricas especialmente no norte, fósforos de enxofre, antes desta data. Em 1895, saem medidas legais restritivas, de forma a disciplinar o fabrico, provocando o desaparecimento da maior parte delas. Neste contexto, é fundada, por decisão governamental, a Companhia Portugueza de Phósphoros, cujos estatutos foram aprovados por alvará de 16 de Maio de 1895.  Através de uma proposta do político Hintze Ribeiro, foi concedido o exclusivo fabricação e o Estado viabilizou um contrato que acabou por ser assinado pelos accionistas das fábricas de fósforos em Abril desse mesmo ano. O objectivo consistia na exploração exclusiva do fabrico e venda de fósforos em Portugal, através de duas fábricas, uma no Porto e outra em Lisboa, nas quais eram produzidos fósforos de enxofre, integrais e fósforos amorfos ou de segurança, de cera e de madeira. Em 1925, finda a concessão estatal, ou seja, os trinta anos de exclusividade de mercado. A Match and Tabacco Timber Supply Co. adquiriu todo o activo e passivo da Companhia Portugueza de Phósphoros. Criada em 1926, a Sociedade Nacional de Fósforos (SNF) herdou os alvarás da extinta empresa, abrindo duas fábricas, uma em Lordelo do Ouro no Porto e outra no Beato em Lisboa, contando com a participação de 25% do Estado. A sua actividade consistia em dar uma resposta constante à concorrência das outras duas unidades existentes: a Fosforeira Portuguesa de Espinho e a Companhia Lusitana de Fósforos do Porto. Em 1930, a SNF formou uma parceria com a Swedish Match3 que introduziu nova tecnologia na produção da fábrica portuguesa. Segundo o Boletim Estatístico de 1963, a produção das quatro fábricas foi de mais de 16 biliões de fósforos, num valor superior a 100 mil contos, dos quais foram exportados mais de 400 toneladas de valor superior a 12 mil contos. Nessa altura, estavam empregadas nas referidas fábricas mais de 800 pessoas. Esta última deixou de laborar em 1991, encerrando definitivamente em 1993.” In Museu dos Fósforos



Fábrica de Lanifícios de Lordelo

A Fábrica de Lanifícios de Lordelo ou Fábrica de Serralves, actualmente em ruínas, estava localizada  na rua de Serralves, freguesia do Lordelo do Ouro. Foi edificada em 1803, no lugar da Monteira ou Mouteira, por Plácido Lino dos Santos Teixeira. Devido à proximidade da quinta dos frades, alguns autores afirmam que a fábrica teria sido instalada nos edifícios de um antigo convento, mas no processo de licenciamento da fábrica de Plácido Lino dos Santos Teixeira apenas se faz referência aos campos que pertenciam aos frades e dos quais se pede adjudicação. 
Sondagens arqueológicas em 2007 detectaram a existência de três estruturas diferenciadas: Uma fábrica do século XX, uma fábrica do século XIX, a "fábrica de panos" e um reduto militar das guerras liberais, o Forte de Serralves, possivelmente no local da cisterna de abastecimento de água à fábrica do século XX.


O que resta da Capela de S. Francisco Xavier, na Rua de Serralves, em frente à fábrica de Lanifícios de Lordelo.




Palacete dos Viscondes de Vilar d’Allen - Foi mandado construir, nos últimos anos da década de 1920, pelo 3º Visconde de Vilar d'Allen, Joaquim Ayres de Gouveia Allen, para sua residência. O projecto foi concebido pelo arquitecto José Marques da Silva (1869-1947). Em 1991, foi construída, nos seus jardins, a Casa das Artes, projecto do Eduardo Souto Moura.


“Em 1 de Agosto de 1903, um grupo de ingleses e portugueses, mestres e técnicos da fábrica Graham, começaram a chutar uma bola, num terreno da Mazorra, hoje chamado Ciríaco Cardoso. O terreno era demasiado pequeno para o jogo, mas não era possível alargá-lo mais. Passado algum tempo mudaram-se para a Rua da Fonte Arcada, próximo do Bessa. Foi a partir deste momento que começou o verdadeiro entusiasmo pelo jogo da bola, que os ingleses trouxeram de Inglaterra. Forma-se então, um grupo de entusiastas, composto entre outros, por Harry, Chico Bastos, John Jones, Joaquim Ferreira, Manuel Ribeiro, Ângelo Seixas, Ricardo Costa, Frank Jess, Robinson, Holroyd e F. Brindle. Estes, juntamente com outros empregados da fábrica Graham, uniram-se e arrendaram um terreno no Bessa pertencente ao Sr. António Mascarenhas, o qual hoje é designado por Estádio do Bessa. É então formada uma Direcção composta por ingleses e três portugueses, que eram: Pedro Brito, Maximiano Pereira e João Fernandes. Constituída esta Direcção, organizavam-se vários desafios de "Foot Ball". Estava fundado o BOAVISTA FOOTBALLERS. No início de 1905, era já bastante grande o número de sócios ingleses e portugueses, que constituíam o BOAVISTA FOOTBALLERS. Foi nessa Direcção, por parte da fábrica Graham, resolvido não jogar aos domingos, do que resultaram várias desavenças. Os ingleses, como sucede ainda hoje no seu país, não estavam dispostos a realizar os jogos aos domingos, contrariando assim os desejos dos portugueses que pretendiam jogos nesses dias. Numa disputada Assembleia Geral, em 30 de Abril de 1909, reuniram-se todos os sócios para resolver a situação. Procedeu-se então à votação: jogos aos domingos ou jogos aos sábados. Venceram os votantes dos jogos aos domingos. Em face deste resultado, a Direcção inglesa (Graham) desistiu do campo do Bessa ficando a vigorar uma nova Direcção constituída por Pedro Brito, João Fernandes, Domingos Rodrigues, Maximiano Pereira e um senhor de apelido Faria, resultando assim, o BOAVISTA FUTEBOL CLUBE. Deste modo, com a saída dos ingleses, teve de ser feito novo contrato com o proprietário do terreno de jogos, Sr. António Mascarenhas, no qual assim ficou na história como primeiro Presidente da Direcção do Clube."


"A sequência dos equipamentos utilizados foi: 
1.º Camisa preta e calção branco.
2.º Camisa às riscas verticais pretas e brancas e calção preto.
3.º Camisa azul, vermelho e branco e calção preto.
4.º Camisa xadrez, calção preto e meia branca. 
O equipamento axadrezado apareceu quando Artur Oliveira Valença, presidente na altura, proprietário do jornal desportivo "Sports" e promotor de espectáculos desportivos, numa ida a França, observou uma equipa de futebol a jogar com camisola xadrez. Como a mesma respondia às cores preto e branco do Boavista, decidiu fazer a sua introdução no clube como o seu Equipamento oficial, que se mantém até hoje. 
Quanto às instalações, só uns anos depois se viram realizadas as maiores aspirações do Clube, com a inauguração das suas instalações desportivas em local próprio. Em 11 de Abril de 1910, foi inaugurado o campo do Boavista, ao Bessa. Presidiu ao festival o ilustre comandante da Guarda Municipal. O Porto elegante desse tempo, compareceu no Bessa, pelo desejo de assistir pela primeira vez a um jogo de futebol. A colónia inglesa representada em elevado número juntou-se aos seus amigos portugueses do Boavista. Para início da grande festa, apresentaram-se em campo as equipas do Boavista e do Leixões. Deu o pontapé de saída o Sr. António da Costa Mascarenhas, proprietário e presidente do campo inaugurado. Assistiram ao encontro cerca de duas mil pessoas, considerado na altura número de presenças recorde. O resultado seria um empate a três bolas. Integrado neste programa, realizaram-se ainda várias provas de atletismo e, à noite, num hotel, foi servido o banquete. 
É pois, o Boavista Futebol Clube, o mais antigo clube português de futebol, podendo afirmar-se que foi o primeiro clube português a introduzir o profissionalismo, em Janeiro de 1933. Mas a revolução que o facto produziu então no panorama do futebol português, com o clube "axadrezado" a derrotar todos os adversários, como o Benfica e o Sporting, provocou o fim da inovação. Com efeito, em face da sua inferioridade, os outros clubes decidiram boicotar o Boavista, alegando que não podiam jogar contra profissionais. O Boavista, afastado das suas competições oficiais, sem adversários para defrontar, teve de regressar ao amadorismo".



“A evolução do símbolo do Boavista passa por um escudo, rectangular, cujo campo é formado por treze quadrados pretos e doze brancos, dispostos em xadrez, encimado por uma faixa, de cor preta com as iniciais B.F.C., em branco, e uma coroa doirada, igual à que era usada no antigo brasão da Cidade. O escudo significa a muralha contra a qual se quebram o ímpeto e a valentia dos adversários, e a coroa o compromisso de bem honrar esta "Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto".  In Boavista Karate

Assistência ao Concurso Hípico no Campo do Bessa em 1913



Originalmente inaugurado em 1972, o Estádio do Bessa foi reconstruído no início do século XXI, tendo sido palco de três partidas do Euro 2004.


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