sexta-feira, 15 de março de 2013

LARGO DO SOUTO E CAPELA DE S. ROQUE

2.6 - Largo do Souto e Capela de S. Roque



Embora ARC se não refira à Rua do Souto, é por esta que vamos começar, pois foi nela que foi construído o Largo do mesmo nome. Na Toponímia Portuense, Eugénio Andrea da Cunha e Freitas descreve: a Rua do Souto era das mais antigas e certamente a mais longa artéria do velho burgo portuense, em tempos medievais. Principiava, como hoje, na Banharia, atravessava o Rio da Vila (Rua Mouzinho da Silveira) e continuava por junto do antiquíssimo Hospital de Rocamador, pela Caldeiraria acima, até à Praça do Olival, na Cordoaria. No ano de 1522, a nova Rua das Flores cortou-a em dois troços: ficou Rua do Souto só até ao Rio da Vila, da Rua das Flores para riba a Ferraria de Cima – a Rua dos Caldeireiros… A mais antiga menção documental da Rua do Souto, que conhecemos, data de 1234”


Largo do Souto ou de S. Roque – chamou-se de S. Roque por causa da capela com este nome – o tracejado refere o projecto da Rua de Mouzinho da Silveira. Neste local estiveram instalados os, mal cheirosos, pelames ou aloques, tanques onde se curtiam as peles. Só em 1776 se passou a chamar Largo do Souto ou de S. Roque.


Largo do Souto e Capela de S. Roque – desenho de Joaquim Vilanova –1833 

O largo do Souto era uma encruzilhada com muito tráfego, pois ligava o Norte ao Sul e o Leste ao Oeste da cidade. Em nossa opinião foi a mais bela praça que o Porto já teve. Sousa Reis descreve o largo da seguinte forma “Está pois a Praça ou Largo do Souto por esta parte regular na arquitectura, sendo o lanço de casas do Norte pertencente a particulares e do Sul à Câmara, ficando no centro destes dois corpos um grande vão aonde se ergue a capela assente sobre um larguíssimo patamar que formam dois lanços de escadas de pedra extensas com seus balaústres de granito que nascem dos cunhais destes dois corpos e vem ficar semicirculares como é a forma de toda esta construção… A harmonia que se encontra nos corpos laterais tendo dois andares com janelas de peitoril sendo as do primeiro andar altas e bem rasgadas as do segundo menores e essas abrigadas por uma série contínua de cornija corrida forma tão agradável esta praça”.


Esta capela foi construída a pedido do povo e fundada em 9 de Novembro de 1776, pois a que existia no lado Norte da Sé foi destruída pelo terramoto de 1755. A devoção a S. Roque passou para uma pequena construção encostada ao alpendre que existia na parte Norte da Sé . Tinha sido construída em 1581 quando a peste, chamada a “grande”, grassou em Portugal, mas poupou a cidade. Aquela, foi demolida para a abertura da Rua Mouzinho da Silveira em 1877. S. Roque era o advogado contra a peste. A capela tinha 4 imagens: S. Roque, S. Gonçalo, a Virgem das Dores e a de S. Vicente. As imagens de S. Roque e S. Vicente foram transferidas para a Igreja da Irmandade de Nossa Senhora do Terço e Caridade. A conservação desta capela era assegurada pelo município. Pretendendo este livrar-se dos encargos, acordou com a Confraria de S. Brás e S. José dos Carpinteiros, que se encontrava na Igreja de S. Francisco, a cedência da sua administração, no ano de 1787. Tendo o município, alguns anos depois, retomado a administração, voltou a entrega-la à Confraria de S. Gonçalo dos latoeiros e picheleiros. 
Continuando o texto de Sousa Reis: “A capela é sextavada e uma cornija segue por toda a parte e em roda desses seis ângulos e uma abóbada de cantaria faz a cúpula deste oratório, a qual remata no zimbório envidraçado que transmite a claridade do dia no santuário, que posto ser pequeníssimo é belo…A porta de entrada da capela fica voltada ao poente e apoiada a sua soleira no patamar das escadarias, e no meio da curva ou meia-lua que elas formam no pavimento ladrilhado da praça está um amplo tanque cujas águas nele se alimentam pela boca de um golfinho em que se vê montado um Génio nu do tamanho de uma criança de oito anos e fica encostado no pedestal do patamar da entrada da capela e de tal arte que quem se debruçar sobre a varanda de pedra que lhe fica superior goza a vista da praça aonde se faz o mercado de pano de linho e tecidos nacionais de algodão. Para o lado Sul da capela está assente a sacristia e para o Norte vai a sevidão das escadas que por trás dela mesma dão para os Pelames e Corpo da Guarda. Sobre a porta principal da capela está ainda aberto um óculo que leva a claridade de encontro ao único altar que dentro dela há sobre o qual repousa o retábulo todo feito de estuque aonde se vê a imagem de S. Roque". 


Projecto da abertura da Rua de Mouzinho da Silveira – Vê-se, o local onde estava o Largo do Souto e Capela de S. Roque. Fora do traçado inferior nota-se o pequeno pano de granito de planta curvilínea logo à esquerda da entrada da rampa da Rua do Souto.


Recanto que resta do antigo Largo do Souto - Chafariz de 1920


Em O TRIPEIRO Série 1, Nº. 2, a páginas 124 de 10 de Novembro de 1909, encontramos esta interessante descrição do Largo do Souto assinado L.C.

2 comentários:

  1. Muito interessante este artigo. Desperta para o ler no local e abrir os olhos para o óbvio: a rua dos Caldeireiros é a actual continuação da rua do Souto.
    Muito obrigado pela partilha da vossa investigação

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  2. Muito obrigado. Faremos o possível por continuar a apresentar a nossa querida cidade naquilo que teve e tem de grandioso e importante.

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