sábado, 14 de setembro de 2013

DIVERTIMENTOS DOS PORTUENSES - VI

3.5.6 - Palácio da Cristal - III


Concerto em 1906 – foto Aurélio Paz dos Reis


Uma tarde infantil

Ramalho Ortigão conta-nos que no Natal de 1865, ano da abertura do Palácio de Cristal, se realizou um concerto dado por crianças na nave central. Actuou “o Sr. Artur Ferreira de Sousa, professor de 7 anos, é uma formiguinha com catarro, mas com o mais forte e profundo catarro com que se pode expectorar o talento. Este sujeito, com 4 palmos de alto, é um artista colossal. Sentou-se ao piano, ou antes sentaram-no… O rabequista Moreira de Sá cujo talento por diferentes vezes tem sido justamente apreciado pelo público. Artisticamente falando é um violinista de excelente escola. (Bernardo Moreira de Sá tinha 12 anos). Terminada a festa musical, recitou o menino Rebelo Valente algumas estrofes da suave poesia do Sr. António Feliciano de Castilho “O Natal do Pobre”. Apesar do seu artístico "aplomb" e do seu olhar perspicaz e firme, este menino sentiu ao entrar no tabelado que as pernas lhe não obedeciam à vontade sustentando-lhe erecta a dignidade da sua posição vertical. Foi então que o actor Taborda lhe bateu no ombro exclamando: “Avante, colega, e sem medo! Eu também tremo assim; nestas ocasiões todos os valentes tremem!”.


Almoço em honra de Afonso Costa – 1911 – Que luxo!!!



Restaurante  - casino


sala de estar


Foto de 1930

Foi o Palácio de Cristal um local dedicado à cultura na sua nave e no teatro Gil Vicente. Foi aqui que se realizaram importantes concertos do compositor e pianista Viana da Mota e da extraordinária violoncelista Guilhermina Suggia. Também se apresentaram os melhores actores do tempo. Esta sala foi muitas vezes cedida para realização de festas de beneficência, comemorações etc.
A C.M.P. punha-a à disposição da cidade, pois não havia muitos outros locais do género. 
Em 1934 a C.M.P. adquiriu o Palácio de Cristal. 


Guilhermina Suggia (1885-1950) foi uma grande violoncelista portuguesa.

Nascida na freguesia de São Nicolau, no Porto, Guilhermina iniciou os seus estudos com o pai, Augusto Suggia, de ascendência italiana, actuando em público a partir dos 7 anos de idade. Foi aluna do violoncelista catalão Pablo Casals e de Julius Klengel, no Conservatório de Leipzig, na Alemanha. A apresentação de Guilhermina com a Orquestra da Gewandhaus, em 1901 em Leipzig, marcou o início de uma brilhante carreira internacional. Reencontrou Casals, mais tarde, em Paris, onde viveram juntos e actuaram por toda a Europa, muitas vezes, com Casals a maestro e Guilhermina como solista. Separam-se em 1913. 
A partir da Primeira Guerra Mundial, Londres tornou-se o principal centro de actividade de Guilhermina Suggia. Num regresso a Portugal em 1923, conheceu José Carteado de Mena, médico e director do Instituto Pasteur do Porto, com quem casou 4 anos depois, tendo o escultor Teixeira Lopes por padrinho. O casal fixou-se no Porto. 
Nos últimos anos da sua vida, Guilhermina Suggia dedicou-se ao ensino. O último grande acontecimento da sua carreira internacional verificou-se em 1949, altura em que actuou em Edimburgo, com a Orquestra Escocesa da BBC. A preferência de Guilhermina Suggia pela obra para violoncelo de Bach levou a que se dissesse na época que ela própria havia reinventado as suites para violoncelo, com o seu estilo virtuoso e inconfundível, tornando-a uma das grandes referências de sempre da música erudita. 
A figura da famosa violoncelista inspirou o livro "Guilhermina" do romancista Mário Cláudio, publicado em 1986.

Em 1942 assisti, neste mesmo teatro, a uma festa de Natal da Paróquia do Carvalhido, na qual actuaram as irmãs Trigueiros, uma das quais, com 4 anos, vim a conhecer dez anos depois e que veio a tornar-se minha mulher.


Jardim lateral em 1876




Avenida das Tílias e Capela Carlos Alberto


Lago original – Projecto do arquitecto belga Florent Claes.


Jaulas dos animais – ainda vimos a aldeia dos macacos, o leão, os gorilas e diversas aves.



Tem uma torre com maravilhosas vistas sobre o rio – foto de 1904





O “chalet” já não é do nosso tempo, mas ainda vimos a gruta que, na nossa memória, se chamaria de Camões. Neste “chalet” existiu o clube de ciclismo antes de ser transferido para as trazeiras do Palácio dos Carrancas.


A população elegante do Porto deslocava-se, principalmente ao Domingo, para admirar as maravilhosas vistas sobre o Douro, o mar, Gaia, os seus lindíssimos jardins, almoçar e tomar chá na Avenida das Tílias.

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