segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

DIVERTIMENTOS DOS PORTUENSES - XXXIV

3.5.13 - Carnaval


“Carnaval é uma festa que se originou na Grécia em meados dos anos 600 a 520 a.C. Através dessa festa os gregos realizavam seus cultos em agradecimento aos deuses pela fertilidade do solo e pela produção agrícola.
Anos mais tarde e com o avanço do cristianismo, a Igreja Católica começou a combater todas as festas e manifestações pagãs, e com a impossibilidade de exterminar a sua prática, acabou por incorporá-las às suas crenças como o Natal e o Dia de Todos os Santos. No entanto, entre todas as festividades, o Carnaval foi uma das poucas a manter suas origens profanas.


O Carnaval passou a ser uma comemoração adoptada pela Igreja Católica em 590 d.C. A etimologia da palavra Carnaval ainda é controversa. O historiador Dr.Hiram Araújo no seu Livro "Carnaval – seis mil anos de história”, afirma que em 590, o Papa Gregório I, O Grande regulamentou as datas do Carnaval, e criou a expressão - “dominica ad carne levandas” - que significava (domingo não se come carne) que foi sucessivamente sendo abreviada até a palavra Carnaval. 
Outros pesquisadores citam a origem vinda do latim medieval “carnevale” (adeus a carne). 
Comemorava-se então o Carnaval, período que antecedida a Quaresma, ou seja, os 40 dias entre a quarta-feira de Cinzas e o domingo de Páscoa. A Quaresma deveria ser o período de penitência e jejum para preparar o corpo e a alma para a Páscoa. Por isso, nos dias que antecediam a Quaresma, a população se dedicava aos prazeres da carne “carnis vales”, sendo que “carnis” significa carne e “vales” prazeres. O Carnaval comemorado na Antiga Roma era marcado por celebrações em busca dos prazeres e brincadeiras. Todos os negócios eram suspensos, os escravos eram libertados no período, as pessoas trocavam presentes, elegia-se um Rei de mentira que saia em cortejo pelas ruas da cidade e as restrições morais eram relaxadas.
Já na época do Renascimento (entre o século XIII e século XVII), incorporaram-se fantasias e bailes de máscaras e bailes ao Carnaval. O Entrudo (período de três dia que precedem a quaresma) era uma festa popular em que as pessoas divertiam-se lançando farinha, baldes d’água, limões de cheiro, entre outras coisas, nos outros".  Blog ePORTUGUESe da OMS.


“Os diversos géneros de galhofas em que pelo Entrudo, se vai sucessivamente alambazando a alegria deste povo constitui uma fase importante da história dele. 
Antigamente as grandes comezainas eram a parte principal desta festa, o alguidar de arroz do forno, a taça em que se retoussavam e trebelhavam os honestos júbilos da família, e a orelheira com feijão branco eram a base sólida sobre que descansava o edifício do contentamento doméstico… A alegria dos nossos avós zoupeira e trambolhuda, depois de enxouriçada com feijão e marufo não saía ordinariamente de casa senão para ir jogar o panelo para o quintal. Era aí que o gentio desse tempo, de máscara atada nas orelhas ou de carão encarvoado, entrava a pinchar e a bufar para o outro em sinal de que iam começar as arrelias e os coices de que constava a brincadeira: os pós pela cabeça abaixo, o rabo-leva na saia ou na casaca, o breu nas cadeiras, o pó das comichões pelo espinhaço, a estopa metida nas filhoses e os ovos de cheiro espapaçados na cara. Salta dacolá um vestido de preto com uma bexiga amarrada a um pau, fazendo estoirar a bexiga, e de quando em quando o pau nos lombos e nos testos da assembleia. Foge este com a cadeira pegada nas calças, aquele aos saltos porque tem as pernas presas com um barbante, um com um regador atado a um pé, dois escambulhados porque os coseram um ao outro, e uma senhora idosa dando muitos gritos porque lhe prenderam a um artelho um canzarrão que, desabituado de andar à trela, lhe aperta a fuga mordendo-lhe nos calcanhares e na barriga das pernas. Dentro de alguns minutos debanda tudo, ficando apenas no quintal um homem vestido de boi, o qual não vendo pelas fendas da máscara continua a mugir como pede o carácter que representa, escarva com os pés nas sementeiras e dando marradas na figueira, que ele, pelo feitio, imagina ser a sogra…
A geração seguinte mudou totalmente o Carnaval. Ainda vivem na memória as famosas cavalhadas desse tempo, as carruagens apinhadas de máscaras distribuindo ramalhetes e pastilhas, em todas as janelas tantas senhoras quantas lá cabiam, as principais ruas atulhdas de uma compacta multidão de gente, maior parte dela mascarada, centenares de “soirées” onde se dançava até ao dia seguinte, e longas caudas de concorrentes esperando o momentode entrar ás portas de todas as casas onde havia bailes”. Ramalho Ortigão in O Tripeiro, Volume V, 15 de Fevereiro de 1926.


        Em 7 de Fevereiro de 1869 realizaram-se animadíssimos bailes de máscaras nos teatros de S. João e Baquet, no circo da Rua de Santo António, na nave central do Palácio de Cristal e no Palácio do Corpo da Guarda, no salão Euterpe (hoje Ateneu Comercial do Porto) e noutros recintos públicos. Mas a maioria dos bailes realizavam-se nas casas particulares das famílias abastadas. 


No Carnaval de 1872 o grande e infeliz poeta Guilherme Braga foi a Vila da Feira tomar parte de um baile de máscaras efectuado na casa do Dr. Bandeira. Decidiu não levar máscara, mas vestindo um fato vermelho, alugado no Porto, na Casa das Figuras de Cera. 
Improvisou nas folhas que trazia na carteira 92 quadras, que distribuía pelas pessoas a que se referia.
A António Maciel de Lima entregou-lhe:

Conheço um António Lima
Que a minha filosofia
Não sabe se é lima ou pêra
Ou maçã ou melancia…

O que todos me afiançam,
Verdade que o atormenta,
È que este fulano Lima 
É Lima…de ferramenta.

Depois de ter versado os homens presentes, ás senhoras dedicou irónicas, mas elegantes quadras, tais como:

Quem tem rido à custa alheia
È bom que pague também…
Chegou a vez das senhoras;
Agora escutem-me bem:

Das casadas nada digo; 
Dessas os cinco sentidos
Apenas lhes impõe deveres 
D’agradar aos seus maridos

Quanto às solteiras, que vezes
Um rouxinol solitário 
Não tem dito por Fijó:
“Ai Maria do Rosário!

Apesar de ser corrente
Que, por capricho, talvez,
Namoraras sem escrúpulo
Trinta janotas num mês.

À Francisquinha Estefânia
Que vezes não tem ouvido
De mil corações a um tempo
O soluçante gemido.

Até consta que no Porto
Ao passar um regimento
Pela rua onde reside
Este da Feira portento,

Ficaram todos no corpo
Da Chiquinha apaixonados.
Capitães, alferes e músicos, 
Até os próprios soldados!

(esta Francisca Estefânia era irmã do poeta)
Nos seus versos referiu-se a todas as meninas da festa e por fim ao anfitrião.


Carnaval de 1902 – capa de O Tripeiro da 7ª. Série –Ano XXI

Em 1880 havia um divertido grupo que se reunia na Tabacaria Freitas & Azevedo, na esquina da Rua dos Clérigos com a Rua do Almada, e que incluía rapazes e velhos, de todas as idades e posições sociais que decidiu celebrar o Carnaval com uma brilhante cavalhada carnavalesca. Composto desde o mais modesto caixeiro de escritório ao mais considerado comerciante, desde o mais ingénuo filho de família ao mais distinto titular, clero, nobreza e povo estavam ali bem representados. Organizaram esta diversão na casa do Visconde de Vilarinho e S. Romão.
A cavalhada representaria a entrada do Príncipe de Gerolstein no Porto.
Este cortejo impôs-se pela sua imponência e pelo seu luxo. Todo o seu guarda-roupa era autêntico. Fardas e uniformes foram cedidos pelos próprios titulares.
Compunham-no uma guarda avançada de lanceiros de 8 cavaleiros, seguiam-se em carros abertos o presidente da Câmara, vereadores, governador civil, comissário da polícia, marinha, juízes, cônsules, titulares etc. Finalmente o carro do príncipe, seu escudeiro e fechava o cortejo um esquadrão de 20 cavaleiros.
Saíram da estação de comboio da Boavista, subiram a rua deste nome, seguiram Cedofeita, Carmo, Clérigos, Santo António até à Batalha.
Neste percurso juntou-se uma multidão que os aplaudia delirantemente.
Foram participantes o próprio Visconde de Vilarinho e S. Romão, seu irmão Júlio Girão, Guilherme Gomes Fernandes e outras personalidades da cidade, acompanhadas pelos mais humildes profissionais, todos pertencentes ao referido grupo.
Baseado num artigo de O Tripeiro, Volume 2 de 1/1/1910.



Bandeira dos Fenianos



Foi no ano de 1905 que o Clube de Fenianos ressuscitou o Carnaval, há muito tempo sem festejos. Foi fundado em 1904 por cidadãos republicanos e políticos contra a situação. 

“Comemorou-se a 25 de Março deste ano o aniversário deste clube fundado por um grupo de bons Cidadãos Nortenhos – o CLUBE FENIANOS PORTUENSES. Inscreve na sua bandeira a legenda “PELO PORTO” – símbolo da divisa que no futuro orientaria as suas realizações, a favor do progresso e civilização da CIDADE INVICTA . Os primeiros estatutos do clube são aprovados por alvará do Governo Civil do Porto a 17 de Junho de 1904.
Colectividade de grande prestígio realizou ao longo de anos e anos, eventos na cidade do Porto,
como Cortejos de Carnaval, Bodas aos pobres, festejos de S.to António, festas de Verão, além de ter contribuído com a sua influência social para a resolução de carências da cidade e da sua população, como a abolição das Portagens da Ponte D. Luís I, a regalia do descanso dominical, a inauguração rápida dos serviços de viação eléctrica para V. N. de Gaia, a criação de sociedades de Previdência Social, a criação do Teatro lírico ou Teatro modelo (hoje Teatro Nacional de S. João), o socorro a vitimas de catástrofes e o auxilio a combatentes, o alargamento do Estatuto do Porto de Leixões, de porto de abrigo a porto comercial.
Na construção da actual Sede Social foi lançada a 1º Cunhal em Agosto de 1920 com a presença do Dr. António José de Almeida, então Presidente da República, e que já em 1910 tinha inscrito no LIVRO DE HONRA do clube a seguinte frase: “ ESTE CLUBE É O EXEMPLO DE QUE A UNIÃO FAZ A FORÇA ”.
A partir daqui foram muitas as acções e actividades desenvolvidas, desde ginástica, iniciação musical, bilhar, filatelia, xadrez, ténis de mesa, conferências e debates sobre vários temas.
São inúmeras as homenagens, os galardões, as medalhas de mérito e os louvores recebidos de diversas entidades da vida portuense e nacional". In Associação das Colectividades do Concelho do Porto – 1929

Site do Clube de Fenianos Portuenses 


Carnaval de 1905 na Rua das Carmelitas - já existe o prédio onde estão os Armazéns da Capela, mas o mais baixo foi destruído para a construção do quarteirão entre as Ruas Cândido dos Reis, do Conde de Vizela e da Fábrica.


Casa Mattos & Serpa Pinto – Rua Sá da Bandeira – Carnaval de 1905


Carnaval 1905 – Rua de santo António – Janela ornamentada da Ourivesaria Reis, anterior à mudança para a esquina com a Rua de Santa Catarina.


Rua de Santa Catarina – 1905 – foto Alvão

Carnaval de 1905 - Vídeo


Carnaval 1905 – Avenida das Tílias, Palácio de Cristal - Photo Guedes



Carnaval 1905 – Banda de música de Guimarães – Palácio de Cristal


Preparação do Carnaval 1906 – foto Aurélio Paz dos Reis


Carnaval de 1906 na Rua de Santa Catarina – Desfile do Clube dos Fenianos – Esquina da Rua Passos Manuel – no local do edifício baixo serão mais tarde os Armazéns Nascimento e depois o majestoso Café Palladium.


Carnaval de 1906 – sócios dos Fenianos em frente ao cinema Águia d’Ouro.


Carnaval dos Fenianos – em frente à Igreja do Carmo - 1908


Carnaval dos Fenianos -1909



Carnaval Portista - 1925


Festa de Carnaval dos Fenianos - 1931





4 fotos do Carnaval dos Fenianos de 1939


Cortejo Fenianos - 1954 

Carnaval 1954 – Cortejo do Clube de Fenianos -vídeo 


Vae na Praça de D. Pedro 
D’óra ávante, às quintas-feiras 
Haver bellas pagodeiras 
De rico pópó gim gim; 
Foi o Arnaldo Soares 
E mais o Arthur Barbedo, 
Que andaram muito em segredo 
E até o correlegionário 
P’ra levar a coisa ao fim. 

N’esses dias hão-de ver 
Que grande brodio alli vae 
Inteiro o Porto alli cae 
A dar à perna, a dançar; 
Dança o D. Pedro de Bronze, 
Dança o Porto camarário 
Também à perna há-de dar. 


No Carnaval de 1913 um grupo de foliões, tendo-se-lhe acabado os habituais arremessos da época, resolve atirar pasteis de nata às beldades que, na Praça da Liberdade, se encontravam às janelas. Em tal quantidade que a polícias teve de intervir e os fizeram passar uma noite na enxovia. Na manhã seguinte foram libertados mediante o pagamento de 10.000 reis para os pobres.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

DIVERTIMENTOS DOS PORTUENSES - XXXIII

3.5.12 - Queima das fitas e Orfeão Universitário do Porto


Estudantina Académica do Porto – 1897

“Como se sabe, é em pleno século XIX que se começam a implantar instituições de ensino superior na Cidade Invicta.
A génese das tradições portuenses está intimamente ligada à importação do maior símbolo dos estudantes (até essa altura exclusivo de Coimbra): o Traje.
Tenha sido por uma questão de inspiração, vontade de legitimidade académica ou pura consequência da mudança para o Porto de alguns estudantes portuenses de Coimbra, o que é claro é que o Traje começa a aparecer no Porto aos poucos.
De facto, em 1858, estudantes da Academia Politécnica fazem uma requisição ao Governo para usar Capa e Batina à semelhança dos estudantes de Coimbra. (Cf. O Tripeiro, vol. 1958/59, pág. 196.)
- Em 1895 o Conselho Escolar da Academia Politécnica discute o pedido dos alunos das Escolas Superiores para ser decretado o uso obrigatório da capa e batina. O Conselho decide considerar o vestuário dos alunos indiferente.


Últimos finalistas da Escola Médico-Cirúrgica do Porto – 1909/1910 

Há fotografias de turmas do Liceu em que todos os alunos aparecem de Capa e Batina: 
Destes relatos consegue-se identificar algo deveras curioso: o facto dos estudantes portuenses terem decidido por maioria usar, além da capa e da batina, "uma fita na lapela, da cor da respectiva Faculdade". Parece-me a mim, estar aqui presente, quiçá, a génese das tão portuenses Sementes e Nabiças. Sendo isto provável, então podemos traçar as origens destas insígnias ao período entre 1901-1916. É de todo aceitável presumir que estas fitas na lapela tenham passado para o bolso da Batina, continuando a servir o seu propósito primordial de identificar a Faculdade através da sua cor e, com o passar do tempo (surgindo uma diferenciação entre insígnias, surgindo duas diferentes: semente e nabiça) passassem também a distinguir dois patamares académicos diferentes (anteriores ao Grelo e às Fitas).


3º. ano da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto - 1922 - fundaram o jornal Porto Académico

É neste período, inícios dos anos 20, que se assiste a um enorme fulgor da Academia Portuense sendo prova disso a disseminação do uso de Capa e Batina, a reorganização da Associação dos Estudantes, a criação do jornal "Porto Académico", o período áureo do Orfeão e da Tuna, etc...
Ao contrário do que se pensa, a Queima das Fitas no Porto não é muito mais recente que a de Coimbra. Aliás, já anteriormente a 1920 os finalistas de Medicina faziam a chamada "Festa da Pasta", tal como se comprova por artigo do Jornal de Notícias:
""Levados da breca – A ENTREGA DAS PASTAS – Tradição Académica. São sempre cheias de espírito e de entusiasmo as festas que os nossos quintanistas de Medicina todos os anos realizam como comemorativas da entrega da pasta aos camaradas do quarto ano.”” (in Jornal de Notícias, 30 de Maio de 1920).
Deduz-se, portanto, que por esta altura já existia uma festa tradicionalmente académica que consistia na passagem da Pasta dos que finalizavam a vida académica e o seu curso para aqueles que chegavam a essa recta final. Uma descrição mais pormenorizada encontra-se no jornal "Primeiro de Janeiro":
“”Às 9 horas: saiu da Escola (Médica – note-se que já desde 1911 esta estava constituída como Faculdade da Universidade do Porto) um grupo de Zés P’reiras e gaiteiros que percorreram as ruas próximas, fazendo um barulho ensurdecedor, barulho que aumentou consideravelmente com o estralejar de foguetes.
Às 13 horas: saíram da Escola muitos estudantes acompanhados de duas bandas de música, a do Terço e a do Internato Municipal, dirigindo-se para o Cais da Ribeira a fim de aguardar o inventor da «Sanocrisina» e a sua comitiva. No cais da Ribeira juntou-se muito povo que ria com as falécias dos rapazes e o bom humor mais se evidenciou quando, após uma curta demora chegou ao cais um caiaque do qual desembarcaram quatro académicos que representavam o inventor da «Sanocrisina» e sua comitiva.
Houve abraços, cumprimentos, grandes chapeladas, muitas palmas e tratou-se da organização do cortejo, que seguiu pelas ruas de S. João, Mouzinho da Silveira, Praças Almeida Garrett e da Liberdade, ruas dos Clérigos, Carmelitas, Universidade, ingressando na Faculdade de Medicina. O átrio foi a sala de recepção. Ali se deram as boas vindas e seguidamente, o grande inventor usou da palavra para expor o que era o célebre medicamento, isto entre a gargalhada dos estudantes e do numeroso público que assistia. Depois falaram ainda outros oradores, recebendo todos muitos aplausos. Terminada esta cerimónia realizou-se a outra. A entrega das pastas e dos grelos e a emancipação dos caloiros que decorreu também cheia de alegria e com toda a solenidade. Depois... o tradicional copo d'água. Vinho, tirado ali do pipo, boroa, azeitonas e iscas. Este número foi o de maior sucesso, pois os académicos em pouco tempo viram o fundo ao pipo e aos pratos. Foi uma verdadeira razia! Assim acabaram as festas dos estudantes de Medicina que tiveram, de facto, muita graça. O edifício da Escola, estava vistosamente engalanado com bandeiras de papel.”” (in O Primeiro de Janeiro, 10 de Maio de 1925)
Depois destes pródigos anos 20, o período dos anos 30 que lhes seguiu foi, sem dúvida negro.


Finalistas de Medicina – 1927

Em 1928 a Faculdade de Letras (politicamente indesejável) é extinta pelo governo da Ditadura (continuaria a funcionar até 1932 só para permitir aos alunos inscritos que terminassem os seus cursos); o Orfeão e a Tuna desaparecem em 1930, no rescaldo de sérios confrontos entre estudantes e a polícia, de que resultou a morte de um académico; o Porto Académico deixa de se publicar também nesse ano de 1930; a Associação Académica é extinta por despacho ministerial de 24 de Novembro de 1932. Os organismos que tinham sido os grandes bastiões da vida académica, e até uma das cinco faculdades da Universidade, desapareciam.


Excursão dos novos quintanistas de 1927 da Faculdade de Medicina do Porto no dia seguinte a terem recebido as Fitas 

Excursão escolar dos alunos do Liceu Alexandre Herculano - 1929 

Um mapa com as localidades visitadas pode ser visto aos 9m34s. Por este mapa pode ver-se que
foram para Sul, passaram em Coimbra e desceram até ao Ribatejo, Vila Nova da Barquinha, Castelo Branco, Covilhã, regressando ao Porto pela Beira Alta.
De realçar a grande implantação da capa e batina no Liceu Alexandre Herculano nesta época. 

 
Esta actividade, que no início se cingia apenas à Faculdade de Medicina, com o passar dos anos acabou por tomar uma relevância tal, que outras Faculdades lhe aderiram. 
""Uma boa notícia para a academia foi ontem largamente espalhada devendo hoje ser confirmada pelos factos: hoje, da parte da tarde, realizam-se em todas as faculdades a festa da Pasta. Está assim aberto o caminho para uma união ainda mais completa da academia universitária portuense, para, à semelhança da de Coimbra, realizar uma «Queima das Fitas» que, pela sua grandiosidade e imponência traga um maior prestígio à nossa Universidade e, portanto, implicitamente ao Porto. Já lá vai o tempo em que era corrente ouvir que só em Coimbra havia ambiente académico e alma de estudante; hoje a nossa academia universitária está resolvida a desmentir por completo essa ideia no conceito público. Assim, sabemos que para o ano se projecta a formação de uma comissão central, logo desde o princípio do ano, bem como a de várias comissões, uma parte para cada faculdade, de forma a levar ao mesmo sentido todos os esforços a fim de dar à Queima das Fitas da Universidade do Porto uma forma e brilho superiores à de Coimbra, isto sem bairrismo, já se vê..."" 
(in Jornal de Notícias, 14 de Maio de 1943) 
Eis, pois, preto no branco, confirmada a individualidade das Tradições Académicas Portuenses! 
Logo no ano seguinte, em 1944, realizou-se uma Missa da Bênção das Pastas na Igreja dos Clérigos no dia 3 de Maio, e observa-se a utilização simultânea dos dois termos: 
“”Os estudantes do Porto (...) cumprindo as praxes, realizaram ontem (dia 12 de Maio), em arraial luzidio, barulhento, alacre, a Queima das Fitas, a tão célebre e popular Festa das Pastas.”” 
(in Jornal de Notícias, 13 de Maio de 1944) 
Está registado, neste artigo, um pedaço importante de história, em que, numa quase imperceptível transição, usam-se os termos "Festa de Pasta" e "Queima das Fitas" como sinónimos. 
Em 1945, deixa-se definitivamente de utilizar o termo "Festa da Pasta" e passa-se a falar na "já tradicional" festa da "Queima das Fitas", comprovado pela edição de "O Primeiro de Janeiro" de 19 de Maio de 1945. 
Está visto que não se pode falar numa primeira "Queima das Fitas" do Porto, mas sim dizer que é a partir desta altura (e não de um ou outro ano) que esta assume os contornos mais actuais. As raízes da Queima é que se podem ir buscar anteriormente a 1920, mais precisamente à "Festa da Pasta".


1949



Bênção das pastas por D. António Ferreira Gomes – 1958 

Numa evolução normal, a Queima processa-se com toda a naturalidade até 1971. Em Coimbra, no entanto, esta desaparece em 1969, ano em que é decretado o "Luto Negro". 
No Porto, continua-se a gozar a alegria suprema da semana da "Queima" até 1971, ano em que surgem maiores contestações e esta deixa de se realizar até 1978. 
"Até 1978, o deserto... Inclusive, as novas condições políticas levaram a que houvesse um certo receio de retaliações, porque as forças mais activas dessa época consideravam as manifestações de cariz académico tradicional como "reaccionárias". 
Mas, neste ano, um arranque bem forte faz com que as velhas "Tradições Académicas" apareçam à luz do dia mais limpas da lama que as cobria desde há alguns anos. Ouviam-se impropérios, receberam-se frutas podres, pedras, etc., mas não se parou. A "Mini-Queima" - como ficou conhecida a de 1978 - foi o primeiro passo para o reatar das Tradições, que até hoje não pararam de crescer, em aderentes e entusiasmo." (in QVID PRAXIS? (PORTVCALENSIS), Cabral, Manuel e Marrana, Rui; Porto, 1982, AEUCP)


Finalistas da FEUP – 1980

No ano seguinte (1983), vencidos os receios sentidos por muita gente, realiza-se uma Queima mais alargada. Surgem duas comissões organizadoras, uma que congregava elementos da FCUP, FPCEUP, FEP, FCNAUP e do ISCAP, que apresentou a ideia da "Semana da Academia" e uma outra, composta por elementos da FEUP, FMUP, FFUP, FMDUP e ICBAS que formavam a comissão intitulada de "Secretariado da Queima das Fitas Tradicional". Só a última singrou. A primeira acabou por se afundar com os organizadores, "nos pantanais do sectarismo político".
O "Secretariado da Queima das Fitas Tradicional" desde logo contou com a adesão de uma grande maioria dos académicos. Na conferência de imprensa que realizaram, afirmaram:
""Estudantes que somos de uma Academia velha de décadas e rica de tradições e valores, rejeitamos a ideia de que fazer-se tradição seja fazer-se política, como reprovamos a actuação daqueles que, hoje, mais espalhando este conceito, ontem se aproveitaram das tradições para a promoção dos seus ideais (...)"" 
(in O Primeiro de Janeiro, 5 de Maio de 1979)
E nesse ano, lá saíram para a rua os carros alegóricos decididos a reatar a tradição, tendo tido já muita gente de todas as condições a vê-los passar e a manifestar o seu apoio.
A Missa da Bênção das Pastas desse ano foi efectuada na Igreja dos Clérigos, tendo sido celebrada pelo Rev. Prof. Doutor Bernardo Xavier Coutinho, que na missa disse aos estudantes:
""O que se está a realizar hoje não é uma alienação. Somos conscientes, temos personalidade e sabemos o que queremos. O futuro é sempre a projecção do passado e o presente só 
existe quando temos a coragem e a ombridade de tomar posições, como a que estamos a tomar aqui. Não vos deixeis intimidar. Sois os continuadores de uma tradição muito antiga, de médicos, de engenheiros e eruditos. Aqui, na Igreja construída por Nasoni, na Igreja precursora do barroco, o arquitecto deve ter dado dois pulos de satisfação na sua tumba, por vós aqui estardes!”” (in O Primeiro de Janeiro, 18 de Junho de 1979)
Belas palavras, de facto, que muito significado e valor dão a tal manifestação tradicional.


2010



2012 - foto JN

Até hoje, a velhinha Queima continua a ser popular, provocando sentimentos vários por quem a vive intensamente. Quem a vive, leva-a para a vida, como um traço de nós próprios e que nos orgulha de sermos Estudantes. Excertos do site “Praxe Porto” 

Cortejos da queima das fitas - vídeos e fotos

2008 

2010 




2013 


Orpheon Académico do Porto – 1912

“O Coro do Orfeão Universitário do Porto apresentou-se pela primeira vez em público em Junho de 1912, três meses após a sua fundação. O "Orpheon Académico do Porto", assim denominado nessa época, surgiu com o intuito de interpretar exclusivamente música portuguesa, contribuindo para o início de um período de renovada valorização da canção portuguesa. O seu primeiro director artístico foi o Maestro Fernando Moutinho. Sucederam-lhe o Eng. Futuro Barroso, o Dr. Clemente Ramos e, já nos anos trinta, o Maestro Afonso Valentim, que assumiria o cargo durante trinta anos”.



“Inserido nas digressões artístico-culturais do OUP, o Coro participou em diversos festivais de música, em diversas cidade da Europa, América, África e Ásia. Em 1995 foi responsável pela abertura oficial das comemorações do 10 de Junho na cidade do Porto. Recentemente, em 2003, interpretou a 9ª Sinfonia de Beethoven, juntamente com o Coro da Fundação Conservatório Regional de Gaia, Filarmonia das Beiras e solistas convidados, sob a direcção do Maestro Mário Mateus, no âmbito do 10º Festival de Música de Gaia". In site do Orfeão



Na Grécia em 2012

Amor de estudante

Bnedictus da Missa Brevis

Na Madeira


Centenário do Orfeão Universitário do Porto



O Comércio do Porto - 15/5/1949


O Comércio do Porto - 11/5/1952


8/5/1953


Nesta foto aparece o Pai Américo comigo a seu lado - 8/5/1953

Eram momentos de grande euforia, alegria e emoção que se viviam quando os gaiatos chegavam ao Espelho da Moda, acompanhados de estudantes, para entregar o apuro da venda das pequenas pastas de cartolina. Estas tinham cerca de 7x4 cms. e as tradicionais fitas com as cores das faculdades. Numa página interior havia uma quadra. Eram feitas pelos gaiatos e por estudantes e eram largos milhares.
Cerca das 17 horas começavam a chegar com uma saca de pano normalmente pesada e com um ar de felicidade, tanto os estudantes como os gaiatos.
Debaixo de uma grande algazarra os empregados do Espelho da Moda e os estudantes contavam as centenas de moedas, e algumas notas, que eram entregues ao Júlio Mendes, um dos primeiros gaiatos da obra e responsável pela casa de Paço de Sousa e pela tipografia, onde era impresso o célebre jornal O Gaiato. A presença do Pai Américo era reconfortante e muitos dos estudantes com ele conversavam visivelmente felizes. 
Contavam-se histórias passadas nesse dia que bem mostravam o carinho da nossa cidade por esta Obra de Rapazes, Para rapazes, Pelos rapazes, como a definiu Pai Américo.