quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

DIVERTIMENTOS DOS PORTUENSES - XXIX

3.5.10 - Casas de espectáculos - IV


A Constructora de Campos & Morais até 1907 e Salão High Life a partir de 1908.

Na feira de S. Miguel do ano de 1906, como novidade sensacional e como número de invulgar atracção, apareceu o primeiro animatógrafo ou cinematógrafo portuense – o salão High Life – instalado num modesto barracão de madeira coberto de folha zincada, ali mandado construir por Manuel da Silva Neves, que em Novembro desse ano de 1906, depois de terminada a feira de S. Miguel, passou a dar sessões de cinema mudo no largo fronteiro à Torre dos Clérigos, na Cordoaria, onde se conservou bastante tempo e para além da inauguração, em Fevereiro de 1908, do Novo Salão High Life, na Praça da Batalha, do mesmo proprietário. O Tripeiro série VI, Ano X.

Neves Real descreve aquelas memoráveis sessões na Boavista: “Sobre terra estreme, uma fiada de bancos plebeus constituía a “geral”. Seguiam-se-lhe como tribuna de honra, sobre estrado de madeira, as filas de cadeiras a marcar uma distinção e a preservar apropriado acolhimento à “High Life” do Porto que, como a alta roda de Paris, não desdenhou acorrer a extasiar-se perante as “maravilhosas vistas” que a firma Neves & Pascaud lhe oferecia à razão de 130 reis por pessoa e por sessão” Alves Costa diz “Eram quadros e vistas iguais aos que então corriam mundo, Projectada por uma “Pathé”. Cenas captadas sabe-se lá onde mostravam-se em sessões contínuas, das duas da tarde até perto da meia-noite.”


Cinemas Águia d’Ouro e Batalha – no local onde está o Batalha foram os armazéns de A Construtora de Campos & Morais. Foi um importante armazém de ferragens e outros materiais de construção que vendia para todo o país, exportava e exercia a construção civil. O terreno onde estava o armazém tinha outro proprietário, pelo que, quando foi vendido, o edifício foi demolido para a construção do Salão High, em 1907, pela firma Neves & Pascaud. Desastradamente transformaram este singular edifício num horrível barracão, como se pode ver. Passou a chamar-se Cinema Batalha em 1913.


Cinema Batalha antes das obras de 1947


Foto blog O Voo do Corvo

Em 1947 foi construído o actual cinema Batalha, com projecto do Arq. Artur Andrade. Dedicou-se à actividade cinematográfica até 2006. Entre Maio de 2006 e Dezembro de 2010 esteve ocupado pelo Comércio Vivo, associação entre a CMP e a Associação dos Comerciantes. Actualmente existe um Grupo Cine Batalha que não conseguimos saber a sua actividade.



Baixo relevos de Américo Braga


O Cinema Batalha é Art Deco e tem grandes superfícies envidraçadas.


Teatro D. Afonso – Rua Alexandre Herculano, 356.


“O Éden Teatro foi um teatro portuense que ficou ligado à história da cidade e do país pelo papel importante que teve durante o período da revolução monárquica de Janeiro 1919. Era um ponto de encontro de simpatizantes da causa monárquica, sendo por isso escolhido simbolicamente pelas forças republicanas como local de aprisionamento e de interrogatório. Segundo os relatos escritos da época, existia no local um piano que tocava enquanto eram levadas a cabo torturas. Tal como sucedeu com vários outros teatros, também o Éden passaria a cinema durante os anos 30 e 40. Foi demolido por volta de 1948” – do blog Cinema aos Copos - Ficava na Rua Alexandre Herculano.
O comandante desta revolta foi Paiva Couceiro, aproveitando a instabilidade política após o assassinato de Sidónio Pais. Os monárquicos ainda tiveram na mão o norte do país, mas em 13 de Fevereiro renderam-se às forças republicanas que entraram no Porto.

Na esquina das Ruas Alexandre Herculano e Duque de Loulé, supomos que no local onde existe um belo edifício construído pela Coats & Clark, existiu um teatro invulgar. “O Metropolitano era engraçado porque representava uma estação de caminho do ferro, com o seu cais e uma carruagem a entrar em túnel. A Carruagem era o salão em que passavam os filmes, que representavam uma viagem qualquer, em caminho de ferro. A tela estava ao fundo da carruagem e todos os lugares estavam virados para a tela. Quando começava o espectáculo, fechava-se a carruagem e dava-se o sinal de partida, ouvia-se um apito e a carruagem começava a estremecer como se fosse andar, dando-se ao espectador a ilusão de que andava”. Um leitor de O Tripeiro 


Salão Jardim da Trindade – lado da Rua do Almada – inaugurado em 14 de Junho de 1913


Mais tarde Cinema Trindade


Escadaria principal do Cinema Trindade


Vitrais das traseiras do cinema


Porta de saída para o Largo da Trindade 



O cinema Trindade era dos que melhores filmes apresentava no Porto


Fachada original - 1932 

Manuel Pires Fernandes fundou o Teatro Nacional em 1913 que tinha a porta principal para a Rua D. Pedro. Tinha uma segunda saída, mais estreita, para a Rua do Bonjardim, no local onde hoje está a porta principal do Rivoli. Este teatro foi demolido e construído o Teatro Rivoli, cujas obras começaram em 1928 e inaugurado em 1932. O projecto foi do Arquitecto Júlio José Brito. Muito bem apetrechado e moderna maquinaria, tinha todas as possibilidades de apresentar ópera, bailado, concertos e cinema.



Rivoli – baixo relevo de Henrique Moreira

“A 20 de Janeiro de 1932, surge o novo Teatro Rivoli, cuja inauguração teve lugar pela Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro que representou a comédia de Marcelino Mesquita “Peralta e Sécias”, encenação do mestre António Pinheiro e tendo como intérpretes, além dos titulares da companhia, Emília de Oliveira, Maria Lalande, Raul de Carvalho, Henrique de Albuquerque, João Villaret, Álvaro Benamor e outros. A abertura do Teatro Rivoli, devido à iniciativa do falecido empresário Pires Fernandes, constituiu um acontecimento relevante na história cultural da cidade que então, ficou possuindo uma das maiores e melhores casas de espectáculos do país, a qual, sob a orientação do fundador e de sua filha D. Maria da Assunção Fernandes Borges (mais conhecida no Porto por D. Maria Borges), criou notáveis criações artísticas, oferecendo ao Porto ensejo de admirar excepcionais representações de teatro, ópera, ballet e cinema.” In O Tripeiro, Série VI, Ano III.


Interior em 1932


Baixo relevo de Henrique Moreira

Foi nesta sala, e noutras, que ouvimos, nos anos 50 a 70, extraordinários concertos e peças de teatro inesquecíveis. Vários dos artistas acima referidos foram por nós aplaudidos. Dado estar-se em fim de guerra e a Europa ainda em reconstrução e com muitas dificuldades, foi nestes anos que os melhores executantes musicais nos visitaram. Grandes maestros com suas orquestras, pianistas, violinistas, violoncelistas etc. nos deram momentos de grande beleza e intensidade emocional. Entre eles não esqueceremos os pianistas Arthur Rubinstein, Wilhelm Kempff, Claudio Arrau, Robert Casadesus, Alfred Cortot, Solomon Cutner, os violinistas Jascha Heifetz, David Oistrach, Yehudy Menuhin, Henryk Szeryng, Zino Francescatti, Ginette Neveu, Arthur Groumiaux, os violoncelistas Maurice Gendron e Pierre Fournier, os maestros Leopold Stokovsky com a Orquestra de Filadélfia, Sir John Barbiroli com a Orquestra Sinfónica de Bamberg, Igor Markevitch, Dimitri Mitropoulos, os jóvens Pierino Gamba e Roberto Benzi, e outros que nos não recordamos. Tiveram grande importância para este “renascimento” musical do Porto as associações Orfeão Portuense e Círculo de Cultura Musical.


Não podemos esquecer o maestro, director musical da Orquestra Sinfónica do Porto entre 1953 e 1956, Ino Savini (29/2/1904 - 21/7/1995). Contribuiu decisivamente para o desenvolvimento da cultura musical portuense. Entre muitas obras apresentadas destacamos o ciclo das 9 sinfonias da Beethoven, que teve o maior sucesso. Pela primeira vez se tocou no Porto a 9ª. sinfonia de Beethoven com orquestra e coro portuenses. Este importante evento exigiu de Ino Savini muito trabalho e dedicação e ficou na história musical da cidade. Foi o maestro Virgílio Pereira que preparou o coro, composto pelas Pequenas Cantoras do Postigo do Sol, o coro do Conservatório de Música do Porto reforçado com cantores amadores da cidade. 

Ino Savini: sob um tema de Óscar da Silva
"Dolorosas" - Suite Sinfónica 4.Canção (Marcha Fúnebre) 
Orquestra Sinfónica do Porto.
Gravação ao vivo 9 de Março de 1960.
Direcção: Ino Savini
http://www.youtube.com/watch?v=eF2rqAA8Q3E

Ino Savini: "A Última Ceia" - Poema Sinfónico - sob um tema do Padre Luis Rodrigues
Orquestra Sinfónica do Porto.
Gravação ao vivo 14 de Junho de 1954.
Direcção: Ino Savini
http://www.youtube.com/watch?v=OHBbPRfIPf8

15° Anniversary recital of 
Luciano Pavarotti in Reggio Emilia.
Orchestra Sinfonica dell´Emilia-Romagna.
Conductor: Maestro INO SAVINI
Reggio Emilia 23.4.1976
G.Puccini: LA BOHEME 
Che gelida manina
TOSCA
E lucevan le stelle
http://www.youtube.com/watch?v=6CjbrPceyNo

Ino Savini – Requiem de Verdi – Cariff 1987 
Price, Jones, Burrows, Lloyd 
http://www.youtube.com/watch?v=rE8orNCAOl0

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