domingo, 15 de dezembro de 2013

DIVERTIMENTOS DOS PORTUENSES - XXX

3.5.10 - Casas de espectáculos - V









“O Jardim Passos Manuel foi inaugurado a 18 de Março de 1908 e ao longo de três décadas foi local privilegiado das noites boémias portuenses, dos amantes do cinema (com o animatógrafo mais evoluído da época), do music-hall e de outros acontecimentos culturais. Concebido com base nos jardins parisienses de então, apresentou os maiores êxitos musicais da época, que faziam furor por toda a Europa: a valsa, o rag-time, o one-step, o two-step, a marcha, o maxie, o fox-trot, o tango... No início do século XX, a cidade do Porto assumia-se como o centro da actividade musical do país e o Jardim Passos Manuel, onde se passava parte da vida do Porto, era o lugar da cultura e o ponto de encontro da sociedade portuense. Um local elegante, com amplos jardins, que proporcionava todo o tipo de entretenimento. Tinha um jardim-esplanada, um cinematógrafo, uma sala de "loto" (espaço que hoje é ocupado pelo cinema Passos Manuel), um cinema ao ar livre, quiosques, um restaurante de luxo, um café de negócios, um café-concerto onde actuavam permanentemente uma orquestra e dois sextetos, um salão de festas, um clube nocturno, um coreto em forma de concha onde tocavam as bandas filarmónicas e um parque para as crianças. Estar no Porto e não ir ao Jardim Passos Manuel era como ir a Paris e não ver a Torre Eiffel ou ir a Roma e não ver o Vaticano.





O espaço era de tal forma importante para a cidade, que até se cunhou uma moeda própria, aceite nas lojas e cafés das redondezas.” Site do Coliseu do Porto.

Porto Antigo - video
"Em 1937, surgem os primeiros esquissos do edifício pelo arquitecto José Porto, que rapidamente abandona o projecto. Seguem-se vários outros nomes, Yan Wills, arquitecto holandês, fez esboços que ficaram sem efeito. E Júlio de Brito viu os seus estudos serem recusados pela Comissão de Estética da C.M.P. Em 1939, Cassiano Branco assume o cargo de arquitecto dirigente. Em plena II Guerra Mundial, (1941) o Coliseu do Porto abriu as portas, com todas as honras e com todo o patriotismo inerente ao Estado Novo. 
O Coliseu do Porto levou apenas 22 meses a ser construído e custou 11.000 contos, um elevado custo para a época.


Sessão inaugural do Coliseu do Porto – 1941

"O Sarau de Gala constituiu um grande acontecimento cultural e social da cidade, com a presença das personalidades da época, num ambiente sofisticado e de grande elegância. Seguiu-se um concerto pela Orquestra da Emissora Nacional, dirigida pelo Maestro Pedro de Freitas Branco. A jovem, e já consagrada pianista, Helena Moreira de Sá e Costa interpretava o 1º Concerto para Piano e Orquestra, de Felix Mendelsshon. Antes, porém, a actriz Aura Abranches viu o seu discurso ser interrompido por uma assistência de 3500 pessoas que aplaudiam o nome de Salazar e lançavam vivas a Portugal. À uma da manhã acabou o concerto. Seguiu-se um baile de caridade e uma ceia, servida no hall. 
Finalmente, a cidade do Porto passou a ter à sua disposição um espaço imponente e dotado de todos os luxos modernos. Um espaço aberto à arte e à cultura que se tornou o orgulho dos portuenses e dos portugueses. 
Durante várias décadas, o Coliseu do Porto viveu sob as luzes da ribalta, proporcionando aos portuenses todo o tipo de espectáculos: ópera, dança, música clássica, música ligeira e popular, espectáculos de variedades, musicais, circo, festas de Carnaval, reveillons, cinema, saraus e congressos”. 



Roberto Benzi em 1950, aos 11 anos



Pierino Gamba aos 13 anos

Pierino Gamba aos 9 anos - 1946

Assistimos, maravilhados, aos concertos dados, em 1950,  por estes dois meninos prodígio, maestros de orquestra, a dirigir as Orquestras do Porto e a Nacional. Foram noites inesquecíveis!


“The career of Piero Gamba has no precedent in the history of orchestral conducting. A serious musician since a very early age, he has conducted constantly for 60 years, thousands of times, with 125 symphony orchestras, in 300 cities, in 35 nations.”


“Né de parents italiens le 12 décembre 1937 à Marseille (France) où son père enseignait le solfège. Ses aptitudes musicales, en particulier l'oreille absolute, se manifestent très tôt; on commence à lui apprendre le solfège dès l'âge de trois ans et il travaille le piano à quatre ans; André Cluytens lui donne ses premières leçons de direction d'orchestre à Paris alors qu'il n'a pas encore dix ans. En 1948 il débute comme chef d'orchestre en France et poursuivra définitivement dans cette voie. En plus de cinquante ans de carrière, il a dirigé les plus célèbres orchestres du monde”.


Em 1951 Amália Rodrigues cantou, pela primeira vez, nesta casa. 

Amália no Coliseu do Porto – Fado de cada um

Canção de S. João


Em Novembro de 1954 Ino Savini apresentou a jovem pianista Maria João Pires

Dos concertos que lá assistimos, recordamo-nos dos seguintes: 
- 1950 – dois meninos prodígio: Pierino Gamba, com a Orquestra Sinfónica Nacional, e Roberto Benzi que, com 11 anos, dirigiu a Orquestra Sinfónica do Porto;
- Novembro de 1954 – Ino Savini apresenta Maria João Pires, na altura uma menina de 10 anos
-Leopold Stokowsky - Orquestra Sinfónica de Boston 
-Várias óperas italianas

Maria João Pires toca Fantasia op. 49 de Chopin





Muitas vezes lá fomos ver concertos, cinema e circo. Era pelo Natal que o Coliseu conquistava as crianças com um circo monumental, com trapezistas, contorcionistas, domadores de leões e tigres, elefantes, cavaleiros que faziam piruetas, a bala humana, cães amestrados, chineses rodando os pratos num fino pau, focas o tocar cornetas e a bater palmas e tantas outras fantasias que nos deixavam maravilhados. Mas, o que mais nos divertia eram os palhaços. O rico e o pobre, este sempre mais mais querido e imitado. Mas o pior é que, chegados a casa, pretendíamos imitar os artistas e nem sempre corria bem…

TROUPE BROTHER'S CRETU SPRINGBOARD COLISEU DO PORTO

Palhaços Nery Brothers

Video de Aurélio Paz dos Reis – 1896


No cinquentenário do Coliseu a pianista Maria Helena Moreira de Sá e Costa tocou o mesmo concerto que havia executado 50 anos antes.


Meio século após ter sido inaugurado, o Coliseu do Porto celebrou esta data de forma grandiosa, com uma série de iniciativas. O ponto alto das comemorações do cinquentenário foi o Concerto Inaugural, que recriou o que tinha sido apresentado 50 anos antes, aquando da Gala de Abertura do Coliseu do Porto, desta vez interpretado pela Orquestra do Porto - Régie Cooperativa Sinfonia, dirigida pelo maestro Jan Lathan-Koenig. Este concerto trouxe de novo à sala do Coliseu a pianista Helena Moreira Sá e Costa, agora acompanhada pelo seu aluno, e também já pianista consagrado, Pedro Burmester". 



"O ano de 1995 foi aquele que marcou o momento mais decisivo de toda a história do Coliseu do Porto. Tudo começou quando a Empresa Artística SA, pertencente ao Grupo Aliança - UAP, então proprietária do Coliseu, apresentou na Câmara Municipal do Porto um requerimento a solicitar o alargamento das actividades desta sala a conferências, festas, palestras, sermões, culto religioso e actividades de acção social. Este alargamento das actividades visava viabilizar a alienação deste espaço à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Foi o início da polémica. A notícia da possibilidade do Coliseu passar para as mãos da IURD começou a espalhar-se. Os portuenses reagiram de imediato e, após uma manifestação às portas do Coliseu, no dia 4 de Agosto, promovida por intelectuais, artistas, políticos, autarcas e outras personalidades, na qual foi distribuído o "Manifesto em defesa do Coliseu do Porto", no dia imediato um mar de gente encheu a Rua Passos Manuel, numa manifestação espontânea com uma grandiosidade sem precedentes na cidade do Porto, que surpreendeu o país inteiro. Aos populares, que gritavam “O Coliseu é Nosso”, juntaram-se novamente intelectuais, artistas, políticos e instituições. Todos juntos lutaram contra o fim anunciado do Coliseu do Porto, enquanto espaço e símbolo cultural da cidade. Para recolher fundos para a compra do Coliseu, foi feito o espectáculo “Todos pelo Coliseu”, a 7 de Setembro. A adesão foi maciça, tanto por parte do público, como por parte dos muitos artistas que actuaram gratuitamente. Foi um espectáculo apoteótico, que demonstrou o carinho e orgulho que os portuenses nutrem pelo Coliseu. Neste espectáculo surgem os primeiros sócios-fundadores da Associação dos Amigos do Coliseu do Porto (AACP), uma associação sem fins lucrativos, criada para assegurar o funcionamento e a gestão do Coliseu enquanto equipamento cultural de grande relevância para a cidade. E, em poucos meses, o seu número ultrapassaria os 5.000!
Foram todos estes Amigos do Coliseu que garantiram que esta sala de espectáculos emblemática se mantivesse um espaço aberto à cultura. À cidade. Ao mundo. E não deixasse de ser a voz do Porto".


2005 - Manifestação contra a venda do Coliseu no 10º. Aniversário.


Cláudia Schiffer no desfile Portugal Fashion 96


Em 28 de Setembro de 1996 todas as atenções estavam viradas para a modelo Cláudia Schiffer, principal atracção do desfile de moda Portugal Fashion 96, que teve lugar no Coliseu do Porto. Horas depois, um incêndio deflagra, destruindo completamente a caixa do palco e provocando graves estragos na sala principal e nos camarins. A sua origem continua indeterminada, mas as suas consequências foram dramáticas. Viveram-se horas de choque e consternação, que se fizeram sentir nas palavras de muitos amantes do Coliseu, como Eduardo Barros, que referiu que “…realmente quando foi o incêndio toda a gente ficou triste. O Coliseu é a nossa sala de espectáculos, a nossa porta em termos culturais, e isso marcou.
O Coliseu reabriu oficialmente as suas portas no dia 24 de Novembro de 1998, com a apresentação da Ópera Carmen, de Bizet, numa co-produção com o Círculo Portuense de Ópera e a Orquestra Nacional do Porto.” Resumo do texto do site do Coliseu do Porto".

Amigos do Coliseu desde 1996 – com imagens do incêndio


Não podemos deixar de recordar as Festas do Gaiato que desde os anos 50 eram habitualmente realizadas nesta grande sala. Tivemos uma actuação directa na venda de bilhetes e contactos com o Coliseu. Na verdade, estava centralizada no Espelho da Moda, onde trabalhávamos, a organização no Porto. Eram espectáculos muito especiais e muitíssimo animados dado o carinho que os portuenses tinham pela Obra da Rua e que enchiam completamente a sala de mais 3.000 lugares, e muita gente ficava decepcionada por já não poder entrar. Era-nos proibido vender ou deixar entrar mais pessoas do que a lotação sentada. Na sala assistíamos a cenas da vida da Casa do Gaiato. Eram sempre muito aplaudidas, sobretudo quando entravam os “batatinhas”, os mais pequeninos.

No final falava o Pai Américo com aquela sua forma tão peculiar, que arrastava os corações. Foi numa dessas festas, supomos que em 1955, que pela primeira vez falou em público sobre o Calvário. Terminava habitualmente da forma seguinte: “E agora, meus senhores, estão lá fora as capas! Ninguém passe sem se desobrigar! Deita o que quiser e vai-se embora. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.” Havia quem deitasse tudo o que trazia. Encontrámos anéis, pulseiras objectos de ouro e outros de pequeno valor todos dados com muito amor e comoção. Valiosos cheques, notas grandes, e moedas pretas. As capas eram as dos padres da obra da Rua.

Possuímos algumas gravações do Pai Américo nestas e noutras ocasiões que, particularmente, teremos o maior gosto em fazer ouvir a quem tiver interesse.

Da festa de 1987 – centenário do Padre Américo

Vídeo RTP

Blog Da Outra Vida

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