quinta-feira, 13 de março de 2014

VÍVERES QUE ANUALMENTE SE GASTAM NA CIDADE - VII

3.9 - Frutas e legumes - III


Planta do Mercado do Anjo – o plano de construção foi aprovado em 19/2/1834, tendo sido inaugurado em 9/7/1839 – vêem-se a Rua dos Martyres, Passeio da Graça (Praça Parada Leitão), Praça dos Voluntários da Raínha (Praça Gomes Teixeira), Largo do Correio onde eram os Ferros Velhos (Rua Cândido dos Reis), Rua do Correio (Rua do Conde de Vizela), Rua do Anjo (junto à Praça de Lisboa), Rua dos Clérigos, Rua da Assumpção.


Visto do alto da Torre dos Clérigos

Fernando de Moura em O Tripeiro Série VI, Ano I, de 1961, diz:
“Ora se não me havia de lembrar… pois se tantas vezes o vi (o Mercado do Anjo) do alto da Torre dos Clérigos, e, portanto, do mesmo sítio donde foi feita a fotografia! Aqueles estabelecimentos cobertos com telhas no canto esquerdo ao alto, cuja sequência começava na entrada pela antiga Praça dos Leões, eram ao tempo casas de “comes e bebes e pagas”, quase todos com saborosos pratos exclusivos e serviço de balcão em meias, inteiras e duplas, como então se dizia. 
Ocorre-me uma recordação do meu tempo de “rato”… (ratos, na gíria académica de então, eram os que frequentavam colégios). Nesse tempo, para se poder subir à Torre dos Clérigos, era necessário ir pedir a chave, pagando 10 reis por cabeça, ao dono de um quiosque fronteiro a umas casas (que foram arrasadas) cujas traseiras davam com as que agora são frontaria e que ficavam numa viela entre as rua de Trás e Caldeireiros, o qual, dizia-se, usufruíam o benefício de guardar a dita chave, mercê dos serviços prestados como soldado no cerco do Porto. Ora o sacrista da igreja (como ele o tratava), fez todos os possíveis por conseguir a posse da rendosa chave, o que alcançou após o falecimento do simpático velhinho e muito depois de a filha a ter recebido por herança. Esta, nos primeiros tempos, quando lha iam pedir respondia que já não a tinha, e que a procurassem no sacrista, mas os insistentes pedidos terminavam por aborrece-la” tanto que decidiu entrega-la na igreja.



Fonte do mercado virada à Rua das Carmelitas – inaugurada em 1845


“As portas abriam-se pelo nascer do sol, sendo a hora definida pelo toque de uma sineta. Os pesados portões fechavam-se às 18 horas, logo após o toque das Ave-Marias, característica medieval da cidade, mas que se mantinha um sinal que todos respeitavam.
À noite, embora fechado, o Mercado era local de azáfama, com as vendedeiras que chegavam de madrugada, a preparar as bancadas para o dia seguinte.” In http://marabo2012.wordpress.com



Chafariz do Mercado do Anjo

Era neste local que se realizava a eleição da “Raínha do Anjo”. Em 13/2/1909 foi eleita “Ana Rosa Ferreira, mais conhecida por Ana Bandeira, simpática jovem gaiteira de 50 anos, cujo real bom humor fez as delícias dos seus eleitores e dos numerosos estudantes que, como preito de vassalagem, lhe foram oferecer um formoso ramo de grelos, cenouras, rabanetes e quejandos “legumes” que mais à mão encontraram...”


1908

“O chafariz do Anjo era particular e, de certo modo, a fotografia que acima reproduzimos, conta-nos uma história. Era um ponto de encontro de muitas mulheres e crianças que ali acorriam com os seus canecos e regadores para carregar a água que poderia ser usada por muitas vendedeiras, para que os produtos que vendiam se mantivessem sempre frescos.
Um gradeamento circundava o tanque, exercendo protecção contra todas as porcarias que, dizem os jornais da época, era normal tentarem lançar no tanque do chafariz”. In http://marabo2012.wordpress.com


Anos 10 do séc. XX



A iluminação a gás foi instalada em 1858


1911

“Percebemos que em espaços deste género há sempre problemas ligados a desperdícios e lixos que se produziam, sendo o seu tratamento e recolha uma tarefa a que a Câmara não podia ficar alheia. E se tal acontecesse, seria de esperar que, numa altura em que a crítica era acesa, fruto dos muitos jornais que existiam pela cidade, os jornalistas não desperdiçassem a oportunidade de forçar as correcções que se impunham.
As críticas incidiam em aspectos várias, desde os ossos que os vendedores de carne enviavam à natureza, o que atraía cães que se degladiavam em espaço público, passando pela alusão às moscas que, nos dias quentes, tudo faziam para habitar nas carnes, e mesmo os lixos, nomeadamente os vegetais, e o esterco criado pelos animais, que se acumulava e que, muitas vezes, num sinal de displicência, as pessoas encarregadas da limpeza varriam para debaixo do tapete que é, como quem diz, para um local entre as barracas de venda!. 
In http://marabo2012.wordpress.com



“Naquele tempo (1850) no Porto almoçava-se regularmente às 8 de manhã, jantava-se às duas e ceava-se à noitinha. As refeições burguesas não primavam pela variedade, mas pela suculência; A cozinha trivial conservava-se ainda retintamente portuguesa. O jantar das classes remediadas, segundo Alberto Pimentel, de sopa de hortaliças, as belas hortaliças dos arredores, vaca e arroz (o cosido clássico) e de um prato de meio para quem o podia ter. Como sobremesa havia sempre excelentes frutas; o vinho, maduro ou verde, e quase invariavelmente da Companhia. Em dias de anos comia-se arroz doce.” O Porto do Romantismo de Artur de Magalhães Basto.


Reparar na belíssima decoração do beiral em ferro forjado.

“As barracas estendiam-se nos lados que definiam o Mercado, mas havia uma ordem, definida por um Regulamento interno que data da abertura do Mercado. Ou seja, a venda de produtos tinha lugares bem determinados: as carnes fumadas e salgadas estavam nas barracas que davam para o actual edifício da Reitoria. As carnes verdes estavam nas barracas cujas traseiras davam para os Clérigos. As restantes barracas acomodavam outros produtos alimentares”. In http://marabo2012.wordpress.com


Cordoaria – A Universidade do Porto ainda não concluída, logo esta foto é anterior a 1911 – á direita o Mercado do Anjo – Expressiva foto da forma como eram as calçadas da cidade – pelo contrário os quiosques não evoluíram - de reparar no empedrado da rua - foto Alvão



Demolição - 1948


1952


Entrada do antigo mercado do Anjo do lado da Rua de S. Filipe de Nery – 1953 – o mercado já tinha sido destruído, mas deixaram esta entrada, desenhada pelo Arquitecto Marques da Silva.


O local do mercado passou a ser, durante muitos anos, um estacionamento de automóveis. Mais tarde foi construído um outro subterrâneo.




Depois foi erguida a primeira versão do Clérigos Shopping, que poucos anos durou e se tornou um local muito mal frequentado e completamente destruído.



Há pouco tempo a câmara mandou renovar esta praça o que melhorou muito o centro da cidade. É um local muito frequentado pela juventude, especialmente à noite. Esta animação estende-se à Galeria de Paris e outros locais do centro.

Pregões do Porto - vídeos 




Estátua de D. António Ferreira Gomes inaugurada em 13/4/1991 - encontra-se na Praça de Lisboa, no cimo da Rua de S. Filipe de Nery - foto de Porto Surpreendente


"Nascido em Milhundos -Penafiel- a 10 de Maio de 1906, no seio duma respeitada família de agricultores, entra no Seminário aos dez anos, aos dezanove anos segue para Roma onde cursa filosofia e teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana durante três anos, sendo ordenado presbítero aos vinte e dois anos. Ensina no Seminário de Vilar, onde vem a ser Reitor, até mil novecentos e quarenta e oito, altura em que, com quarenta e dois anos, é nomeado pelo Papa Pio XII Bispo titular de Rando, e é constituído Coadjutor, com direito a futura sucessão, de D. Domingos Maria Frutuoso, Bispo de Portalegre. Ascende a Bispo de Portalegre depois de ano e meio, até que, cerca de três anos depois, é nomeado Bispo do Porto em cuja Diocese entra a 11 de Outubro de 1952, com quarenta e seis anos. Nos anos que se seguiram foi um bispo preocupado com a questão social portuguesa, apoiou empenhadamente o Movimento do Mundo Melhor lançado de Roma por Pio XII, e foi denunciando a política do Governo de então que nunca reconheceu como um rosto autêntico da doutrina social da Igreja iniciada pelo Papa Leão XIII (Encíclica Rerum Novarum) e depois por Pio XI (Encíclica Quadragésimo Anno). Na sequência das eleições para a Presidência da Republica em 1958, o Presidente do Conselho Doutor António de Oliveira Salazar convida-o, por interposta e conhecida pessoa, para uma entrevista que D. António aceita, em princípio, ao mesmo tempo que escreve uma "carta'', que designa de "pró-memória" onde esclarece o seu pensamento e os assuntos sobre que tem experiência e que toma como essenciais serem tratados. Esta "carta", divulgada a partir dos meios governamentais, serve para acusar D. António como promotor da sua divulgação, naturalmente aproveitada pela Oposição. Sobre este assunto escreveu D. António, em carta de 12.09.1958 ao Arquitecto Artur Vieira de Andrade - um dos chefes da campanha eleitoral do General Humberto Delgado: "Consta-me que corre por aí um papel impresso, sob o rótulo da passada campanha eleitoral, cuja autoria me é atribuída; não o conheço ainda, nem jamais dele tomarei conhecimento, porquanto liminarmente considero tal atentado, sem qualquer conhecimento ou permissão minha, como grave ofensa pessoal, além de criminoso abuso da imprensa".
Esta pró-memória é escrita em pleno período de grande turbulência política e vai terminar com o afastamento de D. António do País, exilado, a partir de 1959. Esse exílio durou até 1969, altura em que foi autorizado o seu ingresso ao País pelo chefe do governo de então, Doutor Marcelo Caetano. Durante o exílio permaneceu em Espanha, na Alemanha e, por fim, em França, além de ter longas permanências em Roma, onde foi participante activo no Concílio Ecuménico Vaticano II. Regressado à sua Diocese do Porto, sempre mantido como Titular da Diocese do Porto por Roma, desenvolve uma vasta acção pastoral de extraordinária notoriedade, fazendo da cultura o seu principal instrumento de ensino, dos seus sacerdotes, dos seus diocesanos e de todo o País, intervindo publicamente em sucessivas e oportunas tomadas de posição, em homilias - as homilias da Paz -, em entrevistas, em conferências e em livros: - Paz em Portugal pela reconciliação entre os portugueses; - Ministério Sacerdotal e sua renovação; A Igreja pós-conciliar; Paz da Vitória ou Paz da Justiça ?; A Paz depende de ti; Ecumenismo e Direitos do Homem na Tradição Antiga Portuguesa; Endireitai as Veredas do Senhor; Bater a penitência no peito dos outros? Entre as actividades pastorais salientam-se: a criação do Gabinete de Informação e Cooperação Social na Diocese, o Gabinete de Opinião Pública, a Comissão Diocesana Justiça e Paz, a reformulação do órgão oficioso da Diocese "Voz Portucalense", a criação da Junta de Coordenação Pastoral do Conselho Presbiterial e do Conselho dos Leigos, a reforma dos Seminários, a criação do Instituto de Ciências Humanas e Teológicas, procedendo, ainda, ao reordenamento pastoral da Diocese e à reorganização do Cabido.
Em 1980 é agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade pelo Presidente da República Ramalho Eanes, e a 20 de Maio de 1982 é homenageado na Assembleia da República.
Em 12 de Março de 1981 solicitara a sua resignação como Bispo do Porto, de acordo com o estipulado no Código do Direito Canónico, pedido esse aceite "em princípio" a 8 de Maio seguinte, mas cujo efeito só viria a dar-se depois.
A 8 de Março de 1982, o Clero do Porto reuniu-se com D. António numa significativa "HOMENAGEM E DESPEDIDA". Em Abril desse mesmo ano, um grupo de leigos promoveu uma solene e honrosa Sessão Pública de Homenagem a D. António, no Palácio da Bolsa cujo Pátio das Nações se encheu e onde foi tirada a fotografia que aqui se inclui.
A 10 de Junho de 1982 despediu-se, por célebre carta, do Episcopado Português.
A 12 de Maio de 1982 retira-se para a Quinta da Mão Poderosa, em Ermesinde, onde se vai entregar "ao muito que ainda tinha para fazer" e aos "outros e pessoais desafios que a vida de bispo lhe punha..". Foi então que escreveu o livro "Cartas ao Papa", finalmente traduzido em italiano e em francês, e onde D. António deixa a súmula do seu pensamento de homem da Igreja Católica e da cultura Nacional.
Veio a falecer, numa grande tranquilidade, e sempre consciente até ao fim, na madrugada do dia 13 de Abril de 1989". Levi Guerra in 'Fonte' nº1 (Revista do Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes)

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