terça-feira, 15 de abril de 2014

DESCREVE-SE A CATEDRAL - III

3.11.1 - Interior da Catedral - II



Foto da História do Porto de Artur Magalhães Basto.




A capela absidal do Santíssimo apresenta um primoroso trabalho no seu retábulo de prata, que foi contratado pela Irmandade do S.S. Sacramento, nas pessoas de seus Mordomos João Figueiroa Pinto e Baltazar Pinto Aranha, em 31/5/1632, aos prateiros Manuel Guedes e Manuel Teixeira e outros. Foi executado entre 1641 e 1778. Tem 120 Kgs. de prata. 
O sacrário é um primor de arte e o núcleo mais rico e mais valioso de toda a obra. As figuras de Enoch, Noé, Moisés e Arão, que adornam o sacrário são de uma execução admirável. A figura do Salvador é o remate desse valioso monumento.
No segundo corpo em cada uma das três faces existe um baixo relevo representando o sustento de Elias ministrado pelo Anjo, o maná no deserto e a Páscoa. 
No terceiro corpo distinguem-se as figuras de S. Pedro, S. Paulo, S. Simão e S. Tomé. 
No quarto corpo a imagem do Ressuscitado.

Contava-se que este altar teria sido salvo da rapina dos franceses, em 1808, devido a um engenhoso estratagema dum sacristão da Sé, que o teria coberto de gesso. 
Artur de Magalhães Basto, em O Tripeiro Série V, Ano I, diz-nos que "houve troca de correspondência, no ano de 1808, entre o Juiz e Administradores da Capela e o General em Chefe do exército francês, o General Junot então em Lisboa, em que aqueles “oferecem em compensação do mesmo sacrário e frontal em que a arte excede o valor da matéria a justa estimação de 120 marcos de prata em numerário”. Entretanto, as negociações continuaram até que a situação se complicou para os franceses e estes foram obrigados a abandonar Portugal. Depreende-se, assim, que esta quantia não teria chegado a ser entregue. Deve destacar-se a figura de Pedro de Melo Breyner que foi o intermediário junto do governo dirigido por Junot.


Altar com pintura de Nossa Senhora e o Menino e a imagem de S. Pantaleão - por cima, em baixo relevo, há uma representação da Santíssima Trindade – transepto, topo esquerdo.


Imagem de S. Pantaleão no altar acima


Capela de S. Pedro


Exterior da Capela de S. Pedro


Baptistério


Baixo relevo no baptistério, obra de Teixeira Lopes (pai) – foto Manuel Carvalho


D. João I entrando no Porto para o casamento


Casamento de D. João I e D. Filipa de Lencastre na Sé do Porto, em 2 de Fevereiro de 1387.

Além de D. João I e D. Filipa de Lencastre também aqui se realizou o casamento de D. Teresa, filha mais nova e mais querida de D. Afonso Henriques, com D. Filipe, Conde de Flandres.

Sé – interior - vídeo 



Crucifixo de S. Nicolau de Vila Nova, mais conhecido por Senhor d’Além


Houve, no século XVII, um grave diferendo entre o Bispo e o Cabido e a Câmara. Conta-nos o historiador portuense Germano Silva a interessantíssima história: 
"A capela do Senhor d'Além, que fica nas abas da Serra do Pilar, mesmo em frente aos Guindais, além-Douro, portanto, e daí o nome, e a respectiva irmandade foram, durante muitos anos, "administradas pela cidade" (do Porto). Em determinadas ocasiões os edis portuenses, na qualidade de administradores do templo e da confraria, iam ao lado de lá buscar a imagem do Senhor d'Além para que participasse nas chamadas "Procissões de Preces". Acontecia, por exemplo, em tempos de seca ou de inundações. A Câmara organizava então "procissões de preces", para pedir chuva, se fosse o caso, ou para solicitar o termo de calamitosas cheias. Mas também se realizavam, com a presença da imagem do Senhor d'Além, "Procissões de Graças". Como aquela que aconteceu no dia 18 de Novembro de 1755. Dias antes a cidade de Lisboa havia sido destruída por um terrível terramoto. A cidade do Porto saíra praticamente ilesa dessa catástrofe. Aqui caíra apenas o tecto da capela de S. Roque, que ficava perto da Sé; a torre da igreja dos padres da Congregação de S. Filipe de Nery (Congregados) e pouco mais. Logo naquele dia, segundo consta da acta da reunião municipal que então se realizou, "… sendo convocados na forma do estilo a Nobreza e Povo foi proposto pelo Procurador da cidade que, não tendo acontecido entre nós nem ruína nem mortandade, era justo fazer-se uma Procissão de Graças e que estas deviam ser rendidas especialmente à Veneranda Imagem do Senhor d'Além…" Alguns anos antes (1734) a "Câmara e toda a Vereação" haviam acompanhado a mesma imagem numa imponente procissão fluvial até junto da barra por causa de "uma grande seca e falta de água na cidade…"
Ora, sempre que a Câmara ia ao lado de lá buscar a imagem do Senhor d'Além a fim de a levar para a Catedral, tanto à vinda, como no regresso, o transporte fazia-se, sempre, com grande solenidade, em procissão, na qual participavam o Cabido e as várias confrarias da cidade. Tudo correu normalmente até um dia em que os cónegos reagiram mal a um convite da Câmara para estarem presentes em mais uma procissão. Tratava-se do regresso da imagem à sua capela do lado de lá. Entendiam os membros do Cabido que não deviam andar às ordens dos edis. Que estes não tinham qualquer autoridade para os convocar a participarem na procissão. E como se dava o caso de a imagem do Senhor d'Além estar na Sé, os cónegos mandaram dizer à Câmara mais ou menos isto " só vamos quando muito bem nos apetecer…" E não deixaram sair a imagem da Catedral. O conflito entre os do Município e os do Cabido estava instalado. Como sair dele? Os vereadores, sentindo-se ofendidos (então não era a eles que competia administrar a capela e a imagem do Senhor d'Além?) escreveram ao Juiz da Coroa pedindo providências e este escreveu ao cabido dizendo-lhe que " deixassem os edis levar, como sempre o fizeram, o dito Santo Crucifixo a seu arbítrio…" Mas o Cabido não só não deixou levar a cruz, como não respondeu ao oficio, nem a este nem a um segundo que o Juiz da Coroa lhe enviou. 
Perante aquela insólita atitude dos cónegos, a Câmara apelou para uma instância superior, a Mesa do Desembargo do Paço que a 22 de Novembro de 1631 enviou um despacho favorável à Câmara dizendo ao Cabido que os edis "podiam levar o crucifixo mas privadamente sem ser em forma de procissão…" Era uma tentativa de resolver a questão que se arrastava sem solução à vista. No entanto, mais de dez anos depois, em 1646, a questão mantinha-se como no princípio a cruz só deixaria a Sé quando os cónegos assim o entendessem. 
Perante este imbróglio a Câmara exigiu que fosse executada a sentença da Mesa do Desembargo do Paço. Aparece então o bispo a dizer que não, alegando que a sentença não tinha validade porque o prelado não fora ouvido. Mas a relação mandou que a sentença fosse executada. O conflito é que não ficou sanado. A partir daqui a Câmara, sempre que ia buscar o Senhor d'Além ao outro lado do rio, em vez de levar o crucifixo para a Sé, como era tradição fazer-se, passou e conduzi-lo para a capela de S. Miguel-o-Anjo, junto à Porta do Olival, que também era administrada pela Câmara. Conta uma velha lenda que Portugal ainda não existia como país livre e independente quando, aí por 1140, uns pescadores dos Guindais, que andavam na apanha do sável no rio Douro, em frente ao sítio hoje conhecido pelo Senhor d'Além, trouxeram na rede um enorme crucifixo que estava no fundo do rio. Movidos por grande piedade, os pescadores levaram a imagem para uma ermida da invocação de S. Nicolau que havia no cimo da actual Serra do Pilar a que antigamente se dava o nome de Monte da Meijoeira, de Quebrantões ou de S. Nicolau. Quatrocentos anos depois os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho construíram ali um mosteiro que serve hoje de quartel e removeram a capela de S. Nicolau para junto do rio "para um penedo que está acima do cais". Com vários restauros, acrescentos e modificações é a que ainda hoje lá está agora sob a invocação do Senhor d'Além, do qual existe uma bela imagem (século XVIII) no cartório da Casa do Cabido, à Sé. 


A imagem de Nossa Senhora da Silva foi encontrada num silvado quando eram abertos os caboucos para a construção da nova Catedral românica. Os operários viram uma pomba branca que entrava num silvado e foram verificar para onde se dirigia. Desbastado o silvado, com grande surpresa, encontraram uma bela imagem e daí o nome da Senhora da Silva. Supomos que a imagem original do Séc. XII já não existe. Desta invocação existem pelo menos quatro imagens, duas na Sé e duas na Capela da Confraria, na Rua dos Caldeireiros.


Nossa Senhora da Silva – fotografia de Gaspar de Jesus


Nossa Senhora da Silva – a imagem da esquerda está no exterior da capela da Rua dos Caldeireiros e a da direita na Sé – foto J. Portojo.




Oratório de Nossa Senhora da Silva na Rua dos Caldeireiros.  
Foi neste local, oratório, capela, hospital e albergaria da Senhora da Silva que Arnaldo Gama colocou a emparedada do seu romance A Última Dona de S. Nicolau.


Sé, Claustros e Casa do Cabido – vídeo de J. Portojo

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