segunda-feira, 21 de julho de 2014

OUTRAS IGREJAS DO PORTO - VI

3.11.7 - Couto, Freguesia e Igreja de S. João da Foz do Douro - I


Mapa da Foz do Douro de Teodoro de Sousa Maldonado - 1789


Do estudo de Isabel Queirós - "A reabilitação da barra do Douro no século XVI: um desafio urbanístico à talassocracia atlântica", retiramos algumas passagens:

“A actual freguesia da Foz do Douro coincide com a antiga paróquia de S. João da Foz do Douro, a qual permaneceu como couto do mosteiro beneditino de Santo Tirso até ao século XIX. 
A sua antiguidade é atestada pelo primeiro documento que a refere datado de 1145. Trata-se da carta de doação da ermida de S. João da Foz do Douro por D. Afonso Henriques a Roberto e aos seus cenobitas de Santa Maria e de S. Miguel Arcanjo de Riba Paiva. Além da ermida o monarca doa igualmente todas as propriedades que lhe estavam subordinadas. Em 1211, D. Mafalda faz e confirma a doação da ermida e couto a D. Mendo, abade do mosteiro de Santo Tirso. Na segunda metade do século XII existia no local uma ermida que desde o início do século XIII fica sob jurisdição do mosteiro de Santo Tirso. 
Trabalhos de prospecção arqueológica realizados nas últimas décadas do século passado revelam uma ocupação anterior à igreja quinhentista de S. João Baptista. Estas pesquisas divulgam um edifício de planta longitudinal, constituído por corpo rectangular e cabeceira quadrangular mais estreita, sob os alicerces da igreja posterior, associam-no à ermida mencionada na carta de doação de 1145 e definem-no como proto-românico, datável do início do século IX. A autora defende que a poente da cabeceira do templo se situaria o mosteiro. Não encontramos qualquer menção a outras construções relevantes no lugar de S. João da Foz até ao século XVI...


Foto de Fotolândia (Pereira de Sousa) do livro Tesouro do Barroco da Foz do Douro, Cónego Rui Osório


Capela de S. Miguel o Anjo e Forte de S. João da Foz – gravura que se supõe ser de Manuel Marques de Aguilar – em destaque a cúpula da Igreja renascentista (1542) dentro do Castelo.

“Em meados do século XVII foi produzida uma breve resenha histórica, destinada a inaugurar um Tombo da igreja e couto de S. João da Foz, que refere o mecenato de D. Miguel da Silva no dito couto e da qual devemos reter as seguintes informações: “Este Commendatario fez neste lugar cousas de muita consideração, como foi a Igreja de S. João cousa mui grandiosa, e tal que a ella encostarão o Castello e fortaleza…
Em 1758, no âmbito da produção das Memórias Paroquiais, a freguesia de S. João da Foz é descrita nos seguintes termos: “Estâ cituado este lugar â beyra do Mar, e Rio Douro quazi em planicia próximo á barra da Cidade do Porto…” “Este lugar tem um Castello, ou Fortaleza, que defende a barra … Foy antigamente Convento dos Monges de S. Bento e se conservão dentre da mesma Fortalleza a Capella Mor, que he da Igreja do mesmo Mosteyro, e hoje serve de Capella da mesma Fortalleza, e as paredes da mesma Igreja, e se devizão muytos vestígios, em que se verifica ter sido Mosteyro; e quando este Reyno esteve debayxo do jugo de Espanha, achando o Snr. Rey Phelippe Segundo que o citio, em que está fundada a Fortalleza, se fazia precizo pera defença desta barra, deo aos ditos Monges huã ajuda de custo pêra fabricarem novo Mosteyro, e com effeyto o fundarão no meyo deste Lugar.”
Segundo o Cónego Rui Osório, no seu livro Tesouro Barroco da Foz do Douro, “…a paróquia tornar-se-ia autónoma em 1216, desmembrando-se de S. Martinho de Lordelo. Para isso foi necessário o consenso do pároco e dos padroeiros de Lordelo, para além da intervenção activa do Bispo e do Cabido da Sé portucalense , que assinaram o documento.” 


Capela-Farol de S. Miguel o Anjo – Indicadas as passagem dos barcos - pormenor do mapa de Teodoro de Sousa Maldonado - 1789.



Esta Capela-farol é, exteriormente quadrada, mas oitavada no interior.


Fotolândia (Pereira de Sousa)


“fez hum farol que ja não ha pera de noite mostrar a barra as Embarcasoes que quisessem entrar, fez huã guarita dentro na agoa que he como balisa a modo de padrão, pera se desviarem as embarcasoes do penedo que esta iunto a ella; fez na Cantareira hua Ermida de Nossa Sora obra reall grandiosa, de meã laranja, e em hum lenço della pera a parte do Rio pos hum letreiro…”.


“…A inscrição da capela e a transcrita no Comércio do Porto fazem também referência às datas de conclusão das obras. A primeira indica-nos como data de conclusão do edifício 1528, nesse mesmo ano D. Miguel da Silva passou uma longa temporada em Santo Tirso durante a qual fez duas incursões ao couto de S. João da Foz em Agosto e em Outubro. A segunda revela que a construção dos restantes edifícios de sinalização se encontrava concluída em 1536, ano em que D. Miguel passa os meses de Novembro e Dezembro no couto de S. João da Foz”.
Diz a inscrição: "Miguel da Silva, bispo eleito de Viseu, mandou construir esta torre para dirigir a navegação, ele mesmo deu e consignou campos comprados com o seu dinheiro, com o rendimento dos quais foram acesos fogos de noite perpetuamente na torre, no ano de 1527".


Pormenor do mapa de Teodoro de Sousa Maldonado - 1789



"A mesma fonte documental refere que o lugar possui cinco ermidas, das quais destacamos duas: a de Nossa Senhora da Luz e a do Anjo. A primeira “… com uma Torre Velha Unida, tudo feito por um Abbade de Santo Thyrço, e na Torre tem as suas armas. Estâ cituada fora do Lugar para aparte do Norte dois, ou três tiros de espingarda, mais elevada, que a Povoação, e na mesma distancia do Mar. Do Terreyro, e porta principal della se descobrem as embarcações, em grande distância, que fazem viagem pera as partes do Norte e do Sul, e a barra do Porto, que lhe dista pouco.” A denominada ermida do Anjo foi igualmente “…edificada por hum Abbade de Santo Thyrço sobre um penhasco em forma de huã torre estreyta, e apertada sobre o Rio Douro fora da povoação hum tiro de espingarda; Serve de baliza âos navios, que entrão, e sahem pella barra, pera se desviarem das pedras, que estão debayxo d’agoa.”



Igreja da Foz vista do lado da Esplanada do Castelo


Vista por entre os obeliscos da Quinta da Prelada trazidos para o Passeio Alegre em 1938


Vista do Passeio Alegre


Foto site SNPC


S. João Baptista, na frontaria da igreja

“A necessidade de uma igreja na Foz do Douro fez-se sentir no final do segundo quartel do século XVII, em consequência das obras efectuadas no Forte de São João da Foz, que alteraram o normal funcionamento da igreja matriz situada no seu interior.
Assim, e em 1640, foram doados uns “Palácios”, sitos na Foz, ao Mosteiro de Santo Tirso, que imediatamente iniciou a sua adaptação a igreja paroquial, comprometendo-se ainda a custear a construção da capela-mor. Mais tarde, e de acordo com Magalhães Basto, o corpo da igreja terá sido modificado. No entanto, estas obras, exclusivamente financiadas com os inconstantes rendimentos do couto da Foz, foram muito demoradas – a nova capela-mor, cuja primeira pedra foi lançada entre 1709 e 1712, só se concluiu em 1726 / 27.
As campanhas arquitectónicas e decorativas sucederam-se durante a primeira metade do século XVIII. Entre 1713 e 1715 construíram-se os retábulos do Bom Sucesso, do Senhor Jesus, da Senhora do Rosário, e de Santa Gertrudes, dotados das respectivas imagens. Em 1728 iniciou-se, na igreja, a construção da abóbada, torres, novo frontispício, remate do arco sobre a capela-mor, pátio em frente, e levantamento do coro; obras que estariam concluídas em 1733.
No ano seguinte, 1734, foi assinado o contrato para a realização do retábulo da capela-mor com os mestres entalhadores Manuel da Rocha e Manuel da Costa Andrade, mas sob desenho de Miguel Francisco da Silva, autor dos retábulos das igrejas de Santo Ildefonso e São Francisco, entre outros. Este deveria estar pronto em 1735. No entanto, a campanha decorativa prolongou-se e o retábulo foi alterado ao gosto do novo Abade, que acrescentou ainda às obras em curso a construção dos presbitérios e das escadas da capela-mor, tendo mandado executar o altar de pedra de ara e o frontal de talha da capela-mor.
Resulta desta extensa campanha uma igreja barroca, de planta longitudinal, nave única, seis capelas colaterais e capela-mor, todas com retábulos de talha dourada. Na fachada, o portal emoldurado e rematado por frontão circular interrompido é encimado por um nicho onde se exibe a imagem de São João Baptista. Nos nichos laterais figuraram, outrora, as imagens de São Bento e Santa Escolástica. O alçado termina em frontão circular e cruz de pedra, ladeado pelas torres sineiras”. In mjfs.wordpress.com


Foto site SNPC


Foto Porto Património Mundial - Retábulo-mor desenhado por Miguel Francisco da Silva.
Mestres entalhadores: Manuel da Costa Andrade e Manuel da Rocha. Início da execução do retábulo-mor, 1734.


 Sacrário


 Nossa Senhora da Graça, Santa Bárbara, S. Bartolomeu, S. Benedito e a Senhora com o menino.


"Também se encontra um painel em relevo sobre o nascimento dos gémeos S. Bento e Santa Escolástica, com a Virgem a alimentar as crianças, por lhes ter morrido a mãe”. In Tesouro Barroco da Foz do Douro


Cristo Crucificado, Senhora das Dores e S. João Evangelista.


Senhora da Soledade e Senhor do Passos – 1699


Senhora a Luz


S. João Baptista


Santa Gertrudes e Santo António - foto TAF-net

Importante visitar o site do Tesouro Barroco da Foz do Douro… http://www.snpcultura.org/tvb_tesouro_barroco_foz_douro.html


…e ler o excelente livro, com muitas fotos e cheio de História.

Sem comentários:

Enviar um comentário