quinta-feira, 6 de novembro de 2014

CONVENTOS DE RELIGIOSOS - IX

3.12.5 – Convento dos Agostinhos Descalços, anterior Colégio de S. Lourenço - I



Capela da Lada – Em 10/8/1560 S. Francisco de Borja inaugurou no Porto a primeira comunidade Jesuíta. Esta capela comemora este acontecimento – foto Portojo

Em 1556 veio residir, para perto do local da actual Capela da Lada, do fim do séc. XIX, o Padre Francisco Estrada. Primeiro Jesuíta a viver nesta cidade, que após dificuldades em se impor, atraiu à sua doutrina um rico comerciante, residente no Barredo, Henrique Nunes Gouveia, que ofereceu a sua casa para residência do sacerdote. Também ele se entregou, com toda a sua família à religião Católica. Seus filhos, tal como ele e sua mulher, ingressaram em conventos, eles nos Jesuítas. 
Foi decidido, com o apoio do Bispo D. Rodrigo Pinheiro, a criação do “Colégio Velho” na casa acima referida até à mudança para as novas instalações em 1577. 
Neste mesmo local foi, em 1731, construída uma capela dedicada a S. Francisco de Borja. Esta capela ainda existia em 1869, mas hoje desaparecida.


S. Francisco de Borja - Alonso Cano, 1634 - Museo de Bellas Artes. Sevilla

Artur de Magalhães Basto, no seu estudo “Moralidades e costumes portugueses do século XVI” escreve o seguinte: “S. Francisco de Borja, viajando de Lisboa para S. Fins, em 1560, recolhe-se ao hospital do Convento de Santa Clara, situado na Rua dos Mercadores. Logo que chegou ao seu conhecimento da estada no burgo de tão alto personagem, o Bispo D. Rodrigo Pinheiro, organizando uma comissão importante de nobres, vereadores e povo, foi apresentar-lhe as suas homenagens e as da cidade, pedindo-lhe que aceitasse uma hospedagem mais condigna com a sua pessoa. Porém, S. Francisco de Borja não só não aceitou tal convite, como também, rojando-se aos pés do prelado portuense, ficou aguardando a bênção episcopal. 
Aproveitando a oportunidade que se lhe oferecia, S. Francisco, fazendo uma prática eloquente e sugestiva, mostrou aos ouvintes todo o valor de um jesuíta, pelo que eles, imediatamente, lhe pediram para mandar residir no Porto dois ou três padres da Companhia de Jesus. Depois de fundado o Colégio de S. Lourenço, S. Francisco de Borja passou lá a viver, durante a sua permanência nesta cidade, ora fazendo de porteiro, ora de cozinheiro e, aos domingos, recorria as ruas do burgo chamando as crianças à doutrina”. 
Nesse mesmo ano vieram dois sacerdotes que se instalaram nas casas do referido Henrique Gouveia, que as ofertou à Companhia.
A Companhia de Jesus foi, inicialmente muito mal recebida pela burguesia portuense pois a sua principal actividade era a formação cultural e cristã dos rapazes, o que provocava nos seus pais o receio de que seguissem estudos e profissões desligadas das tradicionais, comércio e indústria. 
Porém, com os anos, reconheceram que a cultura era vantajosa e não os desviava dos seus deveres futuros. Alguns houve, na verdade, que seguiam para Coimbra onde tiravam um curso, mas a maior parte regressava ao Porto e eram úteis aos negócios familiares. Outros ingressavam na Companhia ou se dedicavam ao ensino. Outros ainda eram proibidos pelos familiares de seguirem cursos superiores porque eram necessários à família para continuarem os seus negócios.


Sé, Paço Episcopal e Seminário maior, onde se encontra a Igreja de S. Lourenço – mapa Teles Ferreira de 1892.


Os padres Jesuítas iniciaram de imediato o estudo do local para a instalação de um convento e um colégio. Nesse mesmo ano foi lançada a primeira pedra dessa construção, no local onde hoje está a Igreja de S. Lourenço e o Seminário Maior do Porto. Só em 1577 aí se instalaram.
Em 1759 os Jesuítas são expulsos de Portugal e D. José entregou o colégio, igreja e seus bens à Universidade de Coimbra. 



Imagens de Santo Ovídio – Segundo as hagiografias do século XVI, Ovídio era cidadão romano de origem siciliana. A tradição afirma que foi enviado para Braga, Portugal, pelo papa Clemente I, onde foi o terceiro bispo no ano 95. Foi mártir pela sua fé cristã no ano 135. Está sepultado na Sé de Braga. É considerado o advogado das dores de ouvidos e dos maridos infiéis.

Em 21/5/1779 os frades Agostinhos Descalços adquiriram o colégio e a igreja, onde permaneceram até 1832. 
Estes frades estavam instalados na Capela de S. Bento e Santo Ovídio que tinha sido construída pelo Dr. João Carneiro de Morais e sua esposa no ano de 1665, em terreno da sua Quinta da Boavista, que depois se chamou de Santo Ovídio. Tinha frente para a estrada de Braga, junto da actual Rua dos Mártires da Liberdade. Pertenceu aos Padre Agostinhos Descalços até 1787, onde terão construído um hospício para descanso dos seus padres. 
Em 1787 a família Figueiroa comprou a referida capela, já muito degradada. Foi destruída nos anos 90 do séc. XVIII.


Em 1832 D. Frei Manuel de Sancta Ignez, eleito pelo povo Bispo do Porto, mas nunca confirmado pela Santa Sé, conseguiu que este convento fosse excluído da arrematação de bens nacionais e ser doado à Mitra a fim de ser destinado a seminário diocesano. 


Almeida Garrett, soldado voluntário nº. 72 do Batalhão Académico à porta do Convento dos Agostinhos Descalços – aqui escreveu o seu imortal livro Arco de Santana - óleo de Joaquim Vitorino Ribeiro
Também serviu de hospital de sangue.


Vista do Largo Pedro Vitorino

Um texto de F. Milheiro: “A melhor vista da zona da Sé obtém-se a partir de Santa Maria da Vitória, ou então do cimo da Torre dos Clérigos. E uma visita ao Museu de Arqueologia e Arte Sacra do Seminário poderia bem começar subindo, a pé, pela Bainharia, desde Mouzinho da Silveira, Rua de Santana e Largo do Colégio, mas não será fácil para gente de mais de meia idade! Será preferível, então, descer desde o Terreiro da Sé, pelo Largo Dr. Pedro Vitorino, colher dali uma maravilhosa vista panorâmica sobre o velho casario, e descer depois pelas Escadas do Colégio ou seguir pela Rua das Aldas. 
Antes de tudo, admire-se a grandiosa fachada da igreja de S. Lourenço (impropriamente chamada dos Grilos), do século XVI…


Convento dos Agostinhos Descalços – Igreja de S. Lourenço, tradicionalmente chamada dos Grilos – Capela-mor.


Retábulo - foto Portojo


Túmulo de Frei Luis Alvares de Távora, Balio de Leça e fundador do Colégio de S. Lourenço – no tempo do Marquês do Pombal foi raspada a palavra Távora. Fez grandes ofertas ao colégio o que possibilitou fazer a igreja. Foto Portojo

Brasão do mesmo – Este é um dos poucos brasões dos Tàvoras que se salvou da destruição, pois encontrava-se muito alto e pouco visível.


Altar de Nossa Senhora da Purificação – 1730 – Este é o único altar que subsiste dos construídos inicialmente pelos Jesuítas. Todos os outros foram substituídos pelos frades Agostinhos Descalços.


Apresentação de Jesus no templo - Altar de Nossa Senhora da Purificação

Obra de Baltazar Álvares, a Igreja foi considerada terminada em 1709. “A partir de 1730 e até 1759, toda a atenção se concentrou na obra da talha barroca e douramento dos retábulos, que viria a ser mais tarde substituída pela talha neo-clássica, preservando-se apenas o retábulo de Nossa Senhora da Purificação” (Dr. Fausto S. Martins in Monumentos).


Capela de Santa Ana – séc. XVIII – foto Portojo



Órgão – foto Portojo


Igreja de S. Lourenço – sacristia - foto da revista Monumentos


… Depois entrar-se-á no templo, um espaço amplo e belo, agora habitado pelo canto gregoriano ou música de órgão, e por alguém que, com saber e dedicação, saberá guiar uma proveitosa visita. Bastam uns minutos para contemplar o altar da Senhora da Purificação, obra dos mercadores do século XVIII e um marco na história da talha do Porto. As imagens de Santo Inácio de Loyola, o túmulo e uma tela de D. Luís Álvares de Távora, bailio de Leça e fundador do Colégio de S. Lourenço, o há pouco restaurado órgão de tubos do séc. XVIII e a sacristia, das mais belas da Diocese, situam bem o visitante…

Igreja de S. Lourenço - vídeo

3 comentários:

  1. Gostei imenso !
    Um Porto que poucos conhecem.

    Felicito-vos vivamente.

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  2. Olá
    Tanta «coisa» para conhecer...
    Obrigado por nos lembrar disso.
    Cumprs
    Augusto

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  3. Muito obrigado pelos vossos comentários.
    Continuaremos a mostrar o que de bonito e bom tem o Porto.

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