quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

COLÉGIOS E RECOLHIMENTOS - III

4.1 – Colégio dos Meninos Órfãos - III


Antigo Seminário de Santo António e a Ponte Maria Pia antes das obras para Colégio dos Órfãos

As obras do Seminário de Santo António começaram em 1804 por ordem do Bispo D. António de S. José e Castro. Dada a sua grandiosidade a construção prolongou-se por vários anos. Entretanto aconteceram as Invasões Francesas e aquele bispo é transferido para o Patriarcado de Lisboa. Foi o Bispo D. João de Magalhães Avelar quem o terminou.
O primeiro ano lectivo foi o de 1811/12. Supõe-se que funcionou até ao ano de 1831/32. 
Neste ano entrou no Porto o exército liberal e o bispo fugiu para Lamego. 
As defesas da cidade durante o cerco levaram a que na zona da Quinta da China e do seminário fossem instaladas baterias. Durante esta guerra civil o seminário foi atacado e ardeu, tendo ficado abandonado até à ocupação do Colégio dos Órfãos, em 1903. 
“…em 1899, durante as sessões da Câmara do Porto, foi sugerida a deslocação do Colégio para o edifício arruinado do antigo Seminário do Porto, fundado em 1803 e abandonado dois anos depois. A planta da nova obra foi apresentada a 30 de Novembro de 1899 e o projecto aprovado a 13 de Setembro de 1900. Apesar de algumas vozes discordantes, as obras tomaram o seu curso normal e no dia 17 de Setembro de 1903 os órfãos já estavam instalados na nova casa, no Monte do Prado. A igreja foi benzida a 31 de Agosto de 1906 e inaugurada a 28 de Outubro do mesmo ano com uma festa dedicada a Nossa Senhora da Graça.”
A obra total, incluindo mobiliário, ficou por 64.583$676reis e estava paga, com a indemnização recebida do estado,  esmolas e receitas, em 1906.


O Tripeiro - Volume 3


1908

A estrutura do colégio era a seguinte:



Em 1913 tinha 80 internos. Será importante referir que, além das aulas, o colégio tinha oficinas de diversas profissões tais como marcenaria, serralharia, alfaiate, sapateiro e outras. 
Referimos que o artigo do Volume 3 de O Tripeiro foi escrito por João G. Oliveira e Torres.




Colónia de Férias do Colégio dos Órfãos – Madalena 1946



Em 1951, a direcção do Colégio foi entregue aos Salesianos, que ainda mantêm, até aos dias de hoje, a administração do mesmo. O edifício foi património da Câmara até ao ano de 2010, altura em que a Congregação Salesiana o adquiriu. O colégio consiste num extenso edifício com a igreja colegial anexa.

Colégio dos Órfãos do Porto 


Busto do Padre Baltazar Guedes de autoria de José Fernandes de Sousa Caldas – 1951

Tal como se lê na parte final do texto de ARC, também não podemos terminar este capítulo sem deixar expressa a nossa admiração e tristeza por o Porto, e a sua Igreja, não ter dado a este extraordinário conterrâneo o valor e consideração que ele merece. Poucos, mesmo muito poucos, deram à nossa cidade tão importante contributo para o desenvolvimento intelectual e humano dos portuenses, em especial os mais carenciados de família, carinho e Amor. Foi a estes que entregou toda a sua vida, a ponto de recusar honras, luxos e até lugares de grande prestígio. 
Baltazar Guedes, que deveria ser uma personalidade conhecida e respeitada no Porto, é desconhecido pela grande maioria dos portuenses. 
Não compreendemos tão grande esquecimento e injustiça!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

COLÉGIOS E RECOLHIMENTOS - II

4.1 – Colégio dos Meninos Órfãos - II


Catarina de Bragança – 1638/1705


“Todos os domingos e dias santificados fazia práticas públicas, para instrução e moralidade do povo.
Saía co os meninos pelas ruas da cidade, já a pedir esmolas para eles, já a buscar água que trazia às costas. Com os órfãos ia aos hospitais varrer as enfermaria e cuidar dos pobres repartindo com eles as esmolas que se davam aos seus pupilos. 
Criou no seu aposento dois enjeitados – um de dois anos de idade, outro de 9 meses (este com leite de cabra). Com as mãos trabalhava em franjas, e com o pé embalava a criança, cuidando de ambos, como poderia fazer uma extremosa mãe. À sua caridade e diligência deve a idade do Porto a Casa dos Expostos". In O Tripeiro Volume 2. 


O Tripeiro - Volume 3


Aos Padres Baltazar Guedes e Manuel Rodrigo Leitão se deve a criação da Roda dos Expostos em 1685. Já nos referimos a esta instituição na nossa publicação de 15/6/2014.

A.R.C. escreveu:

Sobre a Roda dos Expostos ver a nossa publicação de 15/6/2014

Tudo que de importante se criava no Porto, a nível social, parece ter passado por este colégio e seu fundador.
No texto inicial de ARC este diz que durante a reitoria deste extraordinário homem colocou 212 órfãos que ingressaram em conventos, 39 sacerdotes, 6 doutorados em leis e cânones, 8 mestres de Teologia, 2 qualificadores da inquisição e um bispo.
Em 1913, data do Volume 3 de O Tripeiro, que temos vindo a consultar, informa que até essa data já 8 bispos, diplomatas, músicos, pintores, escultores, advogados, lentes do Porto e Coimbra, deputados etc. teriam frequentado o Colégio dos Órfãos.

…Além de muito piedoso, Baltazar Guedes era um homem com vários talentos. Tinha fama de ser um bom orador e de ser dotado para os trabalhos manuais, sendo capaz de compor vestimentas, paramentos e ornamentos. Traduziu obras ascéticas e foi autor dos opúsculos a “"Memória das Águas que vêm para as fontes da cidade"” e "”Breve relação da fundação do Colégio dos Meninos Órfãos de Nossa Senhora da Graça, sito fora da Porta do Olival desta Cidade do Porto, em a qual se contém tudo o que na fundação dele sucedeu"”. Colaborou em obras públicas da cidade, como a reparação e regularização de percurso “"do cano da água de Paranhos"” (ainda hoje existente) e, possivelmente, terá sido o autor do projecto da Fonte da Arca, na antiga Praça Nova… 


A 17 de Outubro de 1669, o padre Baltasar Guedes, encarregado pelo Senado de dirigir as obras do arranjo dos encanamentos, escreveu uma Memória das fontes do Porto que nos diz o seguinte quanto ao Manancial de Paranhos:

“Nasce esta fonte distante desta Cidade, para o Norte, mais de hum quarto de legoa: está em arca fechada com uma porta e chave: é quadrada, terá em vaõ vinte palmos, a agoa belissima, bastantemente peitoral: nasce em bolhoenzinhos que brotaõ arca, signal de sua permanencia: he mais de manilha e meia, na Mais: á perto de setenta annos que veio para esta Cidade: houve ao vir grandes controvérsias, assim com aquelle povo, como com o Reverendo Cabido, que ali tem os seus dízimos. Contou esta agoa, the chegar á Rua Nova, cincoenta e sete mil cruzados, e vem tomando muitas voltas […] 
Segundo este, o percurso de abastecimento do manancial de Paranhos, no ano de 1669, iniciava-se na Arca e seguia até à estrada de Viana, alcantilada em arcos, onde havia uma bica de pedra. Dali seguia por campos até à Rua de Cedofeita, onde passava acorrer no subsolo, mas logo subia à superfície em passadiços de pedra, voltando para o subsolo na Quinta que pertencia a António Rodrigues Marques. Seguia até uma pia de pedra, que recebia água da arca dos Padres Bentos, e continuava até à Igreja do Carmo para dirigir-se para o Chafariz da Vila Parda. Depois, descia até uma arca, mandada construir pela Câmara e servia o Colégio dos Meninos Órfãos e o povo. Seguidamente, percorria uma légua e meia sob arcos e no fim continha uma fonte que dividia a água em duas partes: a da direita seguia para o Chafariz da Porta do Olival, e para o repuxo da Ermida do Anjo; a da esquerda passava por baixo da Porta do Olival e chegava até uma travessa que dava para a do Ferraz, onde fornecia três penas de água ao Hospital de Roque Amador, daqui seguia pelo Beco do Ferraz e entrava na Rua das Flores, onde voltava a dividir-se, indo uma das ramificações abastecer o Chafariz abaixo da Misericórdia, e a outra seguia rua abaixo, em dois canos, que fornecia água a uma pia, e seguindo por São Domingos, pela Rua das Congostas até ao Chafariz da Rua Nova” In Tese de mestrado de Diogo Emanuel Pacheco Teixeira

Reedificou a igreja dos Hospital de S. Lázaro. Escreveu, traduziu e fez imprimir alguns livrinhos úteis e devotos, e deixou outros manuscritos. Por ordem de D. Maria II os recolhidos do colégio estavam isentos de propinas na Academia Politécnica.

… O padre Baltazar Guedes faleceu no Porto a 6 de Outubro de 1693, em circunstâncias tão misteriosas que deram origem a uma lenda veiculada por Frei Fernandes da Soledade. Segundo esta história, foi sepultado dois dias após o óbito, pelo facto de, estranhamente, o seu corpo permanecer quente e flexível e as faces coradas. Esta situação só se terá alterado depois de os físicos que dele tratavam terem ordenado aos meninos órfãos que rezassem a S. João de Deus. Por esta altura, um deles terá reparado que uma das fitas empunhadas por Baltazar Guedes se movimentava. Colocou-se um peso na extremidade da fita que, no entanto, não se imobilizou. Puseram-na, então, na cabeça do defunto, que só nesta altura terá deixado escapar os dois derradeiros suspiros.
Ao terceiro dia, o corpo foi colocado no esquife e sepultado na igreja do Colégio dos Meninos Órfãos. O Senado da Câmara providenciou exéquias grandiosas, as quais foram acompanhadas por portuenses de todos os estratos sociais. Baltazar Guedes foi enterrado junto à porta que ligava o Colégio ao claustro, numa campa rasa sem qualquer inscrição. Na parede mais próxima colocou-se uma lápide de mármore com o seguinte epitáfio:
"AQUI JAZ O PRIMEIRO REITOR E
FUNDADOR DESTE COLLEGIO DOS OR-
PHÃOS BALTAZAR GUEDES A SEIS
DE OUTUBRO DE MIL SEISCENTOS
NOUENTA E TRES"
Por testamento datado de 1693 (o terceiro e último dos que redigiu), Baltazar Guedes considerou como seus herdeiros os meninos órfãos. O mesmo documento nomeou o Padre Manoel de S. Bento para sucessor de Baltazar Guedes e o Padre João de S. Pedro para vice-reitor do Colégio…



Antigo seminário ainda destruído pelas baterias miguelistas durante o cerco do Porto


…O dia 4 de Novembro de 1803, data em que foram solenemente inauguradas as aulas da Real de Marinha e Comércio da Cidade do Porto nas casas do Colégio dos Meninos Órfãos, marcou o fim de uma era nesta instituição. A instituição foi temporariamente transferida para a rua dos Mártires da Liberdade, n.º 237 e, em 1899, durante as sessões da Câmara do Porto, foi sugerida a deslocação do Colégio para o edifício arruinado do antigo Seminário do Porto, fundado em 1803 e abandonado dois anos depois (está errado, pois o seminário só foi abandonado em 1832 aquando das guerras liberais e destruído e incendiado pela artilharia miguelista). A planta da nova obra foi apresentada a 30 de Novembro de 1899 e o projecto aprovado a 13 de Setembro de 1900. Apesar de algumas vozes discordantes, as obras tomaram o seu curso normal e no dia 17 de Setembro de 1903 os órfãos já estavam instalados na nova casa, no Monte do Prado. A igreja foi benzida a 31 de Agosto de 1906 e inaugurada a 28 de Outubro do mesmo ano com uma festa dedicada a Nossa Senhora da Graça.” Este texto é um resumo de um site da Universidade do Porto.


Quando, em 1803, é criada a Real Academia de Marinha e Comércio da Cidade do Porto – que incorporava as Aulas de Náutica (1762) e de Desenho (1779) – é encomendado, a José da Costa e Silva, projecto de "...huma Casa no Terreno do Collegio dos Meninos Orfâos, própria para as referidas Aulas, que se vão erigir, e para as duas já creadas...". Carlos Amarante, engenheiro militar e arquitecto, elabora pouco depois, em 1807, dois projectos alternativos em que, contra a sua vontade, o edifício não aparece "a formar hum quadrilátero".


Lado Poente

Colégio dos Órfãos e Igreja de Nossa Senhora da Graça aquando da construção da Academia Real de Marinha e Comércio da Cidade do Porto. As obras no edifício avançariam muito lentamente: era o período das invasões francesas e, posteriormente, das lutas liberais. As instalações então existentes chegaram a servir como hospital militar, durante o prolongado “Cerco do Porto” (1832-33).
Tendo sido criada a Academia do Comércio e Marinha em 1803, pretendeu a Câmara e o reitor reedificar um novo edifício nos terrenos do colégio convictos que seria muito positivo para os órfãos. Porém, verificou-se exactamente o contrário dado que se mantiveram colocados dentro do colégio, em instalações muito reduzidas, com pouca luz e arejamento o que levou a que houvesse muitas queixas.
O engº. Carlos Amarante pretendeu fazer uma construção grandiosa em que os órfãos vivessem no andar superior com comodidade e a construção de uma nova igreja, já que a da Graça estava em adiantado estado de degradação. O terreno do colégio ia sendo invadido pelas obras o que tornou quase impossível a continuação dos órfãos naquele local.


No relatório da Câmara de 1873 lia-se que “os órphãos vivem em casa sem ar e sem luz, parecendo que estão num cárcere ou numa penitenciária!”.
Em 1881 o mesmo vereador da Câmara afirmava “este estabelecimento, edificado em terreno pertencente aos órphãos, e que, segundo o decreto de 9/2/1803, devia ser construído com o fim principal de os beneficiar, tornou-se, no tempo actual, o seu maior inimigo”. Isto 80 anos depois do início das obras!
Tendo sido, o colégio, indemnizado pelo estado, num valor de 58.755$200 reis, mudou para a Rua dos Mártires da Liberdade,137 até que fossem para casa própria.


J. V. Vitória Vilanova, lente substituto de desenho, fixou em 1833 vários aspectos do edifício em construção.


Ainda em obras - antes de 1890


Academia Politécnica ainda sem a arcaria térrea – 1890 - existiam casas de comércio, entre elas, o conhecido Café Chaves, que esteve na Rua D. Pedro e no chalé da Cordoaria.


Dez anos depois já com a arcaria - foto Alvão – 1900

Mesmo depois da criação da Academia Politécnica (1837) as obras ora se arrastavam ora eram mesmo interrompidas; seriam ainda elaborados dois novos projectos (Gustavo Gonçalves e Sousa, 1862, e António Araújo e Silva, 1898), em que a forma rectangular desejada por Carlos Amarante, já é contemplada. As vicissitudes do edifício foram incontáveis, nele coexistindo, numa ou noutra época, o Colégio dos Órfãos, a Academia Politécnica,  a Academia Portuense de Belas Artes, o Liceu Nacional, o Instituto Industrial (antecessor do ISEP; até 1933), a Faculdade Técnica (antecessora da FEUP; até 1937), a Faculdade de Ciências desde 1911, a Faculdade de Economia (até 1974).
O edifício construído acabaria por não ter o contorno pentagonal do primeiro projecto e por corresponder a um programa profundamente alterado. Manteve, no entanto, traços essenciais do neoclassicismo dos projectos de Costa e Silva e Carlos Amarante, elaborados mais de cem anos antes.
Recentemente, o edifício passou a ser ocupado pela Reitoria e Serviços Centrais da Universidade; mas nele permanecem, também, o Museu de História Natural, o Museu de Ciência e o Fundo Antigo, que a Faculdade de Ciências não levou consigo para as novas instalações no Campo Alegre (Pólo 3), e que se constituem como elementos nucleares do património da Universidade.



Museu de zoologia da Universidade do Porto – 1900 – Photo Guedes

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

COLÉGIOS E RECOLHIMENTOS - I

4.1 – Colégio dos Meninos Órfãos - I


Este texto é uma homenagem a tão grande e importante figura da cidade, o Padre Baltazar Guedes. Dir-se-á um Padre Américo do séc. XVII. A visão de ARC, da importância desta Obra, está patente na crítica que faz às ofertas a riquíssimas instituições da cidade e esquecimento deste importantíssimo Instituto. O Padre Baltazar Guedes estava muito à frente do seu tempo, pois no séc. XVII a visão social dos Órfãos Pobres, e pobres em geral, não existia.


“Baltazar Guedes, filho do mercador Luís da Costa Rosa e de Lourença Guedes, nasceu no Porto, na Rua Nova (actual Rua do Infante D. Henrique), a 6 de Fevereiro de 1620 (na freguesia de S. Nicolau). Ficou órfão de mãe em 1627 e de pai em 1637. Passou a infância em casa de um tio e cedo mostrou vocação para a vida espiritual e para a protecção dos órfãos. Uma vez concluídos os estudos viu-se confrontado com a falta de fundos para se ordenar…


D. Mafalda, mulher de D. Afonso Henriques, costumava trazer consigo uma imagem de alabastro de Nossa Senhora da Graça. Quando do acidente abaixo relatado ofereceu-a à capela a Ela dedicada. Porém, anos antes da demolição desta, desapareceu. A imagem acima é posterior à original, que será do séc. XII ou XVIII.
…Suplicou, então, a intercessão de Nossa Senhora da Graça na velha capela portuense daquela invocação, um modesto templo de origem mal conhecida, que se dizia ter sido mandado erigir por D. Mafalda, mulher de D. Afonso Henriques…
(A Capela de Nossa Senhora da Graça fora da Porta do Olival foi mandada construir por D. Afonso Henriques em louvor de Nossa Senhora da Graça e do Anjo S. Gabriel, em 1160. D. Mafalda, mulher de D. Afonso Henriques saindo um dia do Porto, a caminho de Guimarães, sofreu um acidente provocado por um talude que cedeu, e que a fez cair da sua montada. Porém, ela nada sofreu. De imediato o Rei prometeu construir esta capelinha).
 …As preces foram atendidas, tal como contou o próprio Baltazar Guedes: era dia de Santo António e, ao abandonar a capela, encontrou um financiador. Depois de ordenado presbítero, em 1644, procurou cumprir o sonho antigo de fundar um estabelecimento que acolhesse os desfavorecidos, que eram muito numerosos na cidade do Porto. A 29 de Outubro de 1649 obteve permissão da Câmara do Porto para habitar junto da Capela, tendo-lhe sido também concedido uma porção de terra. (Iniciou a sua vida de sacerdote como capelão da referida capela e albergou-se junto dela com alguns clérigos pobres). Prosseguiu o trabalho com que se propunha criar um colégio para acolher órfãos da cidade e do bispado do Porto. Obteve licença para pedir esmola por todo o país, prática que era frequente naqueles tempos. Foi assim que nasceu o Real Colégio de Nossa Senhora da Graça dos Meninos Órfãos da cidade do Porto. Esta denominação ficou a dever-se à existência de uma ermida nas proximidades do Colégio da invocação de Nossa Senhora da Graça, assim como aos objectivos assistenciais da instituição, fundada por Alvará Régio de D. João IV, datado de 30 de Janeiro de 1650. A cerimónia de inauguração do Colégio ocorreu a 25 de Março de 1651, no dia de Nossa Senhora da Encarnação, e a primeira pedra foi lançada a 21 de Novembro do mesmo ano…


O Tripeiro - Volume 3


D. João IV e D. Luisa de Gusmão tinham por esta figura e sua obra uma grande admiração, ao ponto de lhe conceder o estatuto para realizar o seu desejo de abrir o colégio e enviar para a Câmara do Porto provisões com ordens de a prover de forma a poder cumprir a sua finalidade. Poucos meses depois da inauguração os órfãos eram 12, mas tantos pedidos tinha que decidiu projectar um edifício maior e mais apropriado para colégio, com dormitórios, salas de aulas e oficinas. Decidiu também construir uma igreja maior, pois os fiéis eram cada vez mais assim como as esmolas. As casas religiosas do Porto também enviavam quantias importantes para o andamento das obras.


O Tripeiro - Volume 3


Igreja de Nossa Senhora da Graça vista do Largo do Viriato - à esquerda o Hospital de Santo António.


O Tripeiro - volume 3 – regressou dessa viagem com avultadas ofertas com que pôde continuar as obras.



Planta do Colégio dos Órfãos e da Igreja da Graça no Largo do Carmo

As obras de construção da Igreja do Colégio terminaram em 1683, e terão custado 28.000$000, fabulosa quantia para a época.


O Padre Baltazar Guedes teve um irmão, surdo-mudo, que muito o ajudou na recolha de dádivas para o colégio. Em Portugal e, sobretudo no Brasil, onde dedicou 15 anos de grandes e difíceis trabalhos nesta sua missão. Apesar da sua deficiência conseguia ter a arte de transmitir os seus pedidos e convencer os portugueses dessas terras a contribuir para a grande obra. Andou 1500 léguas a pé e juntou 4.000$000 de esmolas, o que era uma avultadíssima quantia. Enviava também madeiras para construção do colégio e capela e para venda, açúcar, arroz e outros géneros do maior interesse.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

CONVENTOS DE RELIGIOSAS - XIII

3.12.16 – Convento de S. José e Santa Teresa das Carmelitas Descalças - III




Em 1904 começou a construir-se o Bairro das Carmelitas, desde a Praça Gomes Teixeira à Rua de Cândido dos Reis. 
Na foto o bairro das Carmelitas em 1953 – vista de cima da Torre dos Clérigos – antiga Praça de Lisboa onde mais tarde existiu um estacionamento de automóveis; Rua das Carmelitas; Galeria de Paris; parte da Praça Gomes Teixeira; prédio novo na Rua de Ceuta; Rua de José Falcão; Igreja da Lapa.
O prédio central, de 5 pisos, pode ver-se, na foto acima, ainda em construção.


Já aí se encontrava a maravilhosa Livraria Lello & Irmão...






A Livraria Lello remonta à fundação da "Livraria Internacional de Ernesto Chardron", em 1869. Em 30 de Junho de 1894 Mathieux Lugan vendeu a antiga Livraria Chardron a José Pinto de Sousa Lello que, associado ao seu irmão António Lello, manteve a Chardron com o mesmo nome comercial. Com projecto do engenheiro Francisco Xavier Esteves, no dia 13 de Janeiro de 1906 inaugurou-se o novo edifício da Livraria Lello, no número 144 da Rua das Carmelitas.




Foto Francisco Oliveira
A Rua da Galeria de Paris, ao centro, foi projectada para ser coberta, mas nunca chegou a sê-lo. Tem um belíssimo prédio arte-nova.


Rua das Carmelitas e de Cândido dos Reis, anteriormente Rua da Raínha D. Amélia, em 1916. Em cima ainda é visível parte do edifício do Convento das Carmelitas.


Durante a construção do quarteirão da Rua de Cândido dos Reis e Conde de Vizela o arquitecto Marques da Silva ofereceu um almoço aos operários no local do estaleiro.




No local em que se vê a Rua de Cândido dos Reis em 1916, foi construído pelo Conde de Vizela, entre 1917 e 1923, um quarteirão que abrange esta rua, a da Fábrica, a antiga Travessa das Indulgência, depois Rua de Santo António, ainda Rua do Correio, agora do Conde de Vizela e Rua das Carmelitas – foto de António Sardinha.



Rua Cândido dos Reis – prédio arte-nova


Bairro das Carmelitas na actualidade – foto de Conceição Luz