segunda-feira, 20 de julho de 2015

GOVERNO POLÍTICO - V

5 . 4 - Governo Político - V

Abertura de algumas ruas importantes - II


Rua da Santa Catarina – planta de 1774 – Texto da planta: "Alinhamento da Rua de Santa Catarina do lado da quinta do capitão ? da qual se corta tudo o que he necessário deste lado esquerdo huma linha recta como se vê da cor amarela que vai notada em este plano. Porto 12 de Dezembro de 1774”


Na Toponímia Portuense de Eugénio Andrea da Cunha Freitas pode ler-se “No ano de 1662, havia em Fradelos uma quinta que era senhorio directo o Dr. João Freire de Melo, com uma capela de invocação de Santa Catarina Martir. Essa quinta partia de banda de nascente “ com o caminho que vai de Fradelos para a Porta de Cima de Vila”. Este caminho é o mais remoto antepassado que conhecemos da actual Rua de Santa Catarina… Já designada Rua Nova de Santa Catarina a encontramos mencionada em certo documento da Misericórdia em 1748. No Plano de Urbanização proposto por João de Almada e Melo em 1784, inclui-se o prolongamento da rua até à Aguardente (hoje Praça Marquês de Pombal). A este novo troço da artéria se chamou Rua Bela da Princesa… Também por urbanizar estavam todos os terrenos compreendidos entre Santo António, Santa Catarina, a viela da Neta e a das Pombas (onde está hoje o Grande Hotel do Porto). Eram quintas e terrenos pertencentes a D. Antónia Adelaide Ferreira, a “Ferreirinha”, e a Francisco da Cunha Guimarães, onde mais tarde se rasgaram as ruas de Sá da Bandeira e Passos Manuel.”

No Boletim dos Amigos do Porto Nºs. 1 e 2 de 1960 encontra-se esta planta de 1793, desenhada pelo Arq. Teodoro de Sousa Maldonado, em que se podem ver as ruas: A - Rua Nova de Santo António, B – Rua de Santa Catarina, C – Santo Ildefonso, D – Congregados, E – Rua do Bonjardim, F – Calçada da Teresa (hoje Rua da Madeira). A Rua de Santa Catarina está aberta só até perto da actual Rua de Passos Manuel. 


Projecto para Rua Nova de Santo António - Arquitecto António Pinto Miranda

A Rua Nova de Santo António foi decidida construir pela Junta das Obras Públicas numa sessão de 1784, cuja acta informa: “entre o Bairro de Santo Ildefonso e o do Bonjardim, se deviam abrir duas ruas de comunicação entre estes dois bairros na forma da planta que se acha delineada sobre o plano extraído do terreno intermédio. Que a primeira dessas ruas deve principiar a sua abertura na frente do pátio da Igreja dos Congregados e seguir a sua direcção em linha recta a desembocar na frente da Igreja de Santo Ildefonso…cujo declive se suavizará alteando o seu pavimento do princípio dela, e rebaixando o que for necessário no seu fim”. 
Começou a ser aberta em 1785. Chamou-se-lhe Rua Nova de Santo António dada a existência de uma Rua da Santo António, no cimo da Rua dos Clérigos, e actual Rua de Conde de Vizela.


“A sua construção, como é fácil de imaginar, foi um tanto difícil devido à natureza ou topologia do local. Basta dizer que, os prédios nela erguidos têm mais andares para as traseiras do que para a frente, em vista da fundura em que os alicerces tiveram de ser cavados. Por esse motivo, foi a rua, em alguns pontos, assente em fortes arcadas de pedra que, por baixo, davam – e dão ainda- passagem de um para o outro lado. Na embocadura, teve de fazer-se uso de estacaria, por se espraiar até ali a chamada “mina do Bolhão” que abastecia de água o Convento de Avé Maria”. O Tripeiro Série VI, Ano IV.


Já um dia verificámos isso mesmo e descobrimos, na Rua da Madeira, uma entrada de serviço do Teatro de Sá da Bandeira, e outras passagens. Também na Rua de 31 de Janeiro existe, há muitos anos, uma entrada com escadas para este teatro.
Devido a todas as dificuldades de construção, só foi concluída em 1805, já depois da morte de Francisco de Almada e Mendonça.


“O lugar do Bonjardim, em Liceiras, vem mencionado no testamento do bispo D. Vicente Mendes, em 1296. Passou à posse do Cabido que em 1427 o emprazou ao arcediago do Porto, Diogo Anes… é preciso dizer que a estreita e tortuosa artéria de que nos ocupamos, era a primitiva estrada se não romana, pelo menos medieval, saindo do Porto pelo postigo, depois Porta de Carros, levava, pela Aguardente ( Praça Marquês de Pombal) e Cruz das Regateiras (Hospital do Conde de Ferreira), a Guimarães e outros lugares além.” In Toponímia Portuense de Eugénio Andreia da Cunha Freitas.


Em O Tripeiro Série VI, Ano VI, Horácio Marçal escreve: “a Rua do Bonjardim, que hoje se estende da Rua de Sá da Bandeira até à praça do Marquês de Pombal, em meados do séc. XIX, terminava um pouco adiante do Largo do Bonjardim, actual Largo do Dr. Tito Fontes. 
Deste ponto para cima, até à embocadura da Rua do Paraíso, chamava-se Rua do Bairro Alto e, daqui, até ao Marquês, tinha o nome de Rua da Aguardente. 


Da Rua do Bonjardim, também chegou a fazer parte o troço compreendido entre os cunhais das Ruas de Sampaio Bruno e de Santo António, agora integrado na Ruas de Sá da Bandeira. Antes de ser Bonjardim foi Rua da Porta de Carros… O sítio do Bonjardim é antiquíssimo. Há notícia dele no fim do séc. XIII”. 


Na cidade do Porto existiam dezenas de cruzeiros que foram retirados no séc. XIX. Na Rua do Bonjardim havia uma Via Sacra à qual Horácio Marçal de refere da forma seguinte: “Queremos deixar aqui registado o facto de ter havido nela, dum e doutro lado da rua uma série de cruzes de pedra com imagens, pintadas, de Cristo Crucificado, que faziam parte de uma velha via sacra. Essas cruzes, em 1869, foram removidas para o cemitério da Igreja de Santo Ildefonso, não sem alguns reparos por parte das pessoas devotas.”
Houve mesmo grande dificuldade em convencer os residentes a deixarem retirar estas cruzes. Refira-se que o cemitério de Santo Ildefonso se encontrava nas traseiras da igreja.


Quinta de Santo António do Bonjardim – planta de Balk, de 1813

“Gonçalo Cristóvão Teixeira Coelho de Melo Pinto da Mesquita, senhor de Teixeira e de Cergude, e da Quinta de Santo António do Bonjardim, planeou em 1831, iniciar a urbanização desta sua vasta e bela propriedade, então às portas da cidade. Para isso e com parecer favorável do Corregedor, de 19 de Janeiro de 1832, alcançou uma Provisão, em 8 de Fevereiro seguinte, para ceder parte desses terrenos à Câmara. Mas só por escritura de 31 de Dezembro de 1838 se efectivou esta cessão abrindo-se no ano seguinte de 1839 três artérias: a Rua Nova do Duque do Porto, hoje Rua de João das Regras, a de Camões e a de Gonçalo Cristóvão. Esta que faria a ligação entre as ruas de Santa Catarina e do Bonjardim com o Campo de Santo Ovídio actual Praça da República, dizem-no que recebe o nome do doador por expressa imposição deste. Nos terrenos marginais das três artérias subemprazou depois seu filho e sucessor José António Teixeira Coelho de Melo Pinto da Mesquita, chãos para edificar, o que se fez rapidamente, com o consentimento do senhorio directo que era o Cabido da Sé do Porto.” In Toponímia Portuense de Eugénio Andreia da Cunha Freitas. 
A Rua de Gonçalo Cristóvão só chegou à do Bonjardim em 1839, e a Santa Catarina anos mais tarde pois, teve que se devastar uma grande pedreira aí existente. Parte desta ainda hoje é visível a Poente do Silo-Auto.


Terreiro de S. Lázaro em 1798


Projecto do Jardim de S. Lázaro – João Baptista Ribeiro – 1830


Visto de satélite


Em 27/1/1833 - D. Pedro IV ordenou o ajardinamento de S. Lázaro


O historiador Dr. Artur de Magalhães Basto descreve assim a vida deste jardim em meados do séc. XIX: “ Em dia de música, S. Lázaro é o ponto de reunião elegante. Quase se não cabe lá, tal é a multidão que ali passeia com ar endomingado e solene. Há bancos por toda a parte, mas os que primeiro se enchem são os que estão em volta do pequeno lago central. Vêem-se sentadas meninas (…) flanqueadas pelo terrível papá, que nestes momentos perde um pouco da sua costumada ferocidade (…) e que por isso, não repara nos leões namoradores, que lá ao longe, confundidos na turba, ou meio encobertos pelo arvoredo, lhes desinquietam as filhas. Enquanto a música dura, eles e elas fingindo-se absortos na contemplação inocente do jacto de água que repuxa o lago, trocam á sorrelfa olhares incendiários de mistura com suspiros e ais tirados do âmago do peito. O Jardim de S. Lázaro por 1850 era isto: um campo de batalhas de amor, onde não corria sangue, mas onde por vezes não faltavam lágrimas.”
Este belo jardim deixou de ser frequentado pela gente grada da cidade quando, em 1865, se abriram os novos jardins do Palácio de Cristal. Passou a ser frequentado por soldados, sopeiras, empregados de comércio etc.


De um forasteiro do sul de 1908 “ Nos centros de movimento portuense, vemos o contraste da senhora luxuosamente vestida caminhar ao lado da mulher de trabalho, suja e descalça, do janota acotovelar o carreiro imundo (ou lavrador, como lhe chamam no norte) e dos ricos automóveis, tão abundantes no Porto, se misturarem com os numerosos e quase primitivos carros tirados pelos pequenos bois do Barroso, de cangas rendilhadas que fazem todos os serviços de carga necessários ao comércio da cidade”.


José Xavier Mouzinho da Silveira foi um importante estadista, jurisconsulto e político português e uma das personalidades mais marcantes da revolução liberal, operando, com a sua obra de legislador, algumas das mais profundas modificações institucionais nas áreas da fiscalidade e da justiça.
Não podemos tratar da Rua de Mouzinho da Silveira sem primeiramente referirmos o Rio da Vila, que esta fez encanar. O Rio da Vila era um local muito poluído e mal cheiroso, pois os despejos das casas da Rua das Flores e circunvizinhas eram para lá atirados. Na Rua da Biquinha havia os Aloques da Biquinha que eram os depósitos de estrume e lixos da cidade, ao ar livre, nas trazeiras das casas da Rua das Flores, e na Rua da Biquinha havia os pelames ainda mais mal cheirosos, que escorriam e pioravam o ambiente daquela zona. Os aloques foram fechados pela CMP em 1854.


Rio da Vila – Maqueta do Porto medieval na Casa do Infante


Saída do Rio da Vila - também conhecido por rio da Cividade, por passar perto do Morro da Cividade - começa em frente da Igreja dos Congregados e resultava da junção de duas ribeiras; uma nascida na rua do Paraíso e outra na Fontinha, que no lugar de Fradelos se chamava de Ribeira de Fradelos. O Rio da Vila foi coberto, na sua parte final, quando da abertura da Rua Nova de S. João, ordenada por João de Almada e Melo em 1765. 
Em 1874 começou a ser encanada a porção ainda ao ar livre, desde o Largo do Souto à Rua Nova de S. João, quando da construção da Rua de Mouzinho da Silveira, que lhe passa por cima. Aprovado que foi o projecto de Luis António Nogueira em 17/6/1875, a sua abertura fez demolir muitos e variados edifícios e ruas tais como: a Capela de S. Roque, o lindíssimo Largo do Souto, o Hospital e Capela de S. Crispim e S. Crispiniano, e a Rua das Congostas. A Rua Mouzinho da Silveira foi aberta em duas fases: a primeira de S. Bento à Rua de S. João e a segunda até à Rua Infante D. Henrique. Só terminaram as obras alguns anos depois.
Por piada o povo diz que foi a primeira ETAR da cidade pois milhares de taínhas alimentam-se dos esgotos arrastados pelo Rio da Vila.


Projecto da Rua de Mouzinho da Silveira


Rua de Mouzinho da Silveira no S. João de 1886


Rua Mouzinho da Silveira actualmente

Descobertas arqueológicas nesta rua - vídeo 


Planta da abertura da Rua da Constituição, desde a Rua da Rainha (actual Antero de Quental) para poente, na zona do Monte Pedral – 1867
Inicialmente esta rua chamou-se de Vinte e Sete de Janeiro. Partia do Largo da Aguardente (Praça Marquês de Pombal) até à Rua da Rainha. Aí terminava em 1843
O nome de 27 de Janeiro foi-lhe dado, em 27/1/1842, quando Costa Cabral aclamou, no Porto, a Carta Constitucional. 
O troço que actualmente liga a Praça do Marquês de Pombal a Fernão de Magalhães começou a abrir-se em 1858.
O lanço que parte da Rua de Antero de Quental, através ao Monte Pedral, até à Estrada do Matadouro (hoje Rua de Serpa Pinto) só começou a abrir-se em 1890, muito embora estivesse previsto desde 1840.


O Monte Pedral, tal como o nome indica, era a maior pedreira do Porto e fornecia pedra a grande número de construções na cidade. 
Só em 1890 estava suficientemente devastado de forma a ser possível abrir a continuação da Rua da Constituição. 
Durante largo tempo só existiu uma estreita passagem para peões e carros de bois. 


O F. C. do Porto tem, desde 1913, um campo de futebol na Rua da Constituição.


Rua de Sá da Bandeira aberta só até à Rua de Fernandes Tomaz – ainda não existia o novo mercado do Bolhão e ainda não se vê nenhum automóvel – em primeiro plano, á direita, o Teatro de Sá da Bandeira e a casa de venda de papeis pintados que supomos ser da Fábrica Veludo ou dos papeis pintados da Foz.


Vista aérea da baixa do Porto em 1930, anterior às grandes demolições para abertura do Largo Afonso Henriques. Vê-se o Bairro da Sé, a Sé, a Igreja de S. Lourenço (grilos), o Largo e Rua do Corpo da Guarda, a Estação de S. Bento, as barcaças no Douro, a Alfândega, o Palácio da Bolsa, o mercado Ferreira Borges, o antigo Convento de S. João Novo, a Igreja e Torre dos Clérigos, a actual Reitoria da Universidade, a Cadeia da Relação, o antigo Convento de S. Bento da Victória, o jardim da Cordoaria, a Praça da Liberdade, o Palácio das Cardosas o Hospital de Santo António, etc. À direita vê-se, em construção, o edifício do Banco de Portugal que seria inaugurado em 1934.

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