sexta-feira, 4 de setembro de 2015

RIO DOURO - II

6.1.2 - De Barca d'Alva ao Cachão da Valeira


Casa de campo do morgadio da Calçada - Provesende


Largo da fonte


Pelourinho - 1573 

“Provesende é uma encantadora freguesia localizada no belo concelho de Sabrosa, na fértil região demarcada do Douro, onde se produz o afamado vinho do Porto. 
Situada num pequeno plateau, com vista para o belo rio Pinhão, esta é uma região de grande beleza natural, pautada pela forte tendência rural que tem subsistido ao longo dos séculos, sobretudo desde a criação da região demarcada do Douro, no século XVIII. 
Este é um local de antiga ocupação humana, como atestam os vestígios de um Castro Lusitano, que ainda hoje vale a pena visitar pelo belo panorama que apresenta. 
Diz-se que o topónimo Provesende virá da antiga Lenda de Zaide. Zaide seria um Mouro, irmão de Jahia rei de Toledo, que habitaria no altaneiro Castelo de São Domingos, nas imediações de Provesende, antes conhecida como San Joanes. Certo dia o Castelo foi atacado pelas forças Cristãs, dando-se um massacre, perecendo todos os Mouros que ali habitavam, escapando-se o rei Zaide que, não obstante, foi apanhado mais à frente enquanto fugia, sendo torturado e assassinado. No momento de transe e sofrimento terá sido exclamado “Prove Zaide, prove Zaide!”, originando daí o topónimo “Provesende”. 
Vale a pena percorrer as típicas e calmas ruas de Provesende, onde encontramos o antigo Pelourinho, a barroca Igreja Matriz, a Fonte do século XVIII e as várias casas senhoriais e brasonadas, como as Casas da Praça, de Santa Catarina, do Campo, do Santo, dos Ribeiros, entre tantas outras que atestam o poderio económico dos férteis terrenos da região, que vêm na vinicultura a sua maior subsistência”. In Guia da Cidade 
D. Afonso III deu-lhe foral em 1270. Foi cabeça de concelho. Foi couto da mitra de Braga até 1834.

Fotos de Provesende 

Provesende - vídeos 



S. João da Pesqueira – Praça da República


Igreja Matriz


Edifício da Câmara Municipal

Foi povoada desde os romanos. Teve forais de D. Afonso Henriques, D. Sancho I (6-4-1198) e D. Manuel I (1-6-1510). 
Teve um convento de Franciscanos fundado em 1571 por Belchior de Sousa. 
Fica a vila sobre a margem esquerda do Douro, sobranceira ao ponto do Cachão. 

S. João da Pesqueira - vídeo 


Miradouro de S. Salvador do Mundo – ermida


Vista do Miradouro de S. Salvador do Mundo



Cachão da Valeira – Foto Emílio Biel


Barragem do Cachão – foto de Zeferino Sousa

1530 - primeiras tentativas para destruir o Cachão da Valeira, uma cascata numa garganta rochosa do rio, que impedia a navegabilidade completa do rio Douro, por Martim de Figueiredo, com "fogo de vinagre";
Séc. XVII / XVIII - nos reinados de D. Pedro II e D. João V foram efectuados diversos estudos para execução da obra;
1779 - a Companhia Geral da Agricultura e Vinhas do Alto Douro recebe autorização de D. Maria I para cobrar impostos sobre o vinho, aguardente e vinagre transportados pelo rio Douro, com o propósito de os aplicar em obras que o tornassem inteiramente navegável. Um dos obstáculos era o Cachão da Valeira ou de São Salvador da Pesqueira, constituído por um estrangulamento do rio Douro entre enormes fragas abruptas que faziam precipitar as águas numa queda de água de 7 m. de altura, formando inferiormente um poço. O padre António Manuel Camelo, de São João da Pesqueira, foi encarregue da destruição dos rochedos e alargamento do leito do rio, coadjuvado por José Maria Yola, engenheiro Hidráulico da Sardenha;
1780 - início da obra de demolição do cachão, com mais de 4.300 tiros dados abaixo da linha de água, alargando-se o leito do rio 35 pés; 
1789 - os primeiros barcos começaram a subir e a descer o rio com segurança;
1792 - a obra foi dada como concluída, tendo sido realizada uma inscrição alusiva à mesma numa das fragas do extinto Cachão;


IMPERANDO D. MARIA PRIMEIRA
SE DEMOLIU O FAMOZO ROCHEDO
QUEM FAZENDO AQUI
HUM CACHAM INACESSÍVEL
IMPOSSIBILITAVA A NAVEGAÇÃO
DESDE O PRÍNCIPIO DOS SÉCULOS
DUROU A OBRA
DESDE 1780 ATÉ 1791
PATRIAM AMAVI FILIOS QUÉ DILEXI


Barragem do Cachão da Valeira vista do Miradouro de S. Salvador do Mundo


Foto de Fernando Peneiras


O povo no seu cantar não esquecia os perigos da profissão de barqueiro:

O meu amor foi p’ra Régua,
Foi carregar ao Pinhão
Nossa Senhora m’o livre
Dos embalos do Cachão

Rio Douro, Rio Douro,
Rio de tanto penedo!
Se não fora o Rio Douro
Não tomava amor’s tão cedo

Minha mãe diz que não quer
Ter um genro marinheiro
Tem medo que lhe morra
Nos embalos do Loureiro

Barquinha foge da cheia
Ai! Mal o hajas Rio Douro
Leva terra, leva areia,
Não leves o meu tesouro!


Mapa da região demarcada do Douro desenhado pelo Barão de Forrester em 1848.


 '' A morte desastrosa do barão de Forrester, em 12 de Maio de 1861, é uma das mais notáveis vinganças que o rio Douro tem exercido sobre os detractores dos seus vinhos. A família Ferreirinha da Régua, composta de dona Antónia Adelaide, de seu marido Silva Torres, o milionário, digno de o ser pela bizarria das suas generosidades, de sua filha e genro, condes da Azambuja, tinham ido, rio acima, à sua celebrada quinta do Vesúvio, e convidaram o barão de Forrester a passar uma semana em sua companhia. No dia 12, um alegre domingo, saíram todos do Vesúvio, na intenção de jantarem na Régua. O Douro tinha engrossado com a chuva de dois dias, e a rapidez da corrente era caudalosa. Aproando ao ponto do Cachão, formidável sorvedouro em que a onda referve e redemoinha vertiginosamente, o barco fez um corcovo, estalou, abriu de golpe e mergulhou no declive da catadupa.
O barão sofrera a pancada do mastro quando se lançava à corrente, nadando. Ainda fez algum esforço por apegar à margem; mas, fatigado de bracejar no teso da corrente ou aturdido pelo golpe, estrebuchou alguns segundos de agonia e desapareceu. Salvaram-se os outros, não todos, com a protecção de uns barcos que aí estavam para recolher o despojo de outro naufrágio de um transporte de cereais. Livrou-se Torres, o futuro par do reino, agarrado a um barril de azeite, até que o recolheram a um dos barcos. Dona Antónia e o conde de Azambuja aferraram-se às dragas do barco. A condessa foi salva por um marinheiro. Um juiz de direito, Aragão Mascarenhas, agarrou-se à vara do barco rijamente, qual o temos sempre visto filado à vara da Justiça, em naufrágio de trapaças. Mas nem todos saíram com vida. Um criado de Torres foi logo tragado pela cachoeira; e, abraçada com a vela, já quando se lhe estendia um braço redentor, afogou-se uma criatura a quem os noticiaristas não deram a mínima importância. Pois foi uma perda insubstituível. Era a Gertrudes, um tesouro de jóias 
culinárias que a voragem engoliu....''
Camilo Castelo Branco In 'O Vinho do Porto'


Gravura da época do Barão de Forrester



D. Adelaide Ferreira – “A Ferreirinha” 

A Quinta do Vesúvio é uma das mais magníficas quintas no vale do Douro e destaca-se pela sua localização remota e pura grandeza. Há menções da Quinta do Vesúvio em registos históricos tão antigos como os que datam de 1565. Contudo, foi essencialmente no século XIX, sob os auspícios da afamada “viúva do Douro”, Dona Antónia Adelaide Ferreira, que esta herdade vitícola adquiriu a sua reputação lendária, e foi sob a sua administração que se tornou a Quinta de elite do Douro. 
Em 1989, a Quinta do Vesúvio foi adquirida pela família Symington, que tem com uma longa presença no Douro desde o século XVII, com antepassados abrangendo treze gerações.


Gravura da Quinta do Vesúvio


Lêem-se os locais: casa e capela, adega e armazém, Cardenhos, Vale da Teja, Boavista, Escola, Vinha do Pombal, Quinta Nova, Pinheiros, Castelos, Raposa.


Quinta do Vesúvio – foto Emílio Biel



«Imaginem, se puderem, uma vinha contendo entre os seus muros sete montes e trinta vales!». Com esta espantosa admiração, o visconde de Vila Maior dá-nos uma ideia da Quinta do Vesúvio de há cem anos atrás. Ainda hoje é assim: grande, bela e irresistível na solidão do Douro Superior. A maneira mais fácil de se lá chegar é pelo comboio. Tal como Vargellas, o Vesúvio tem estação ferroviária privativa”.

Artigo sobre a Quinta do Vesúvio

Navegando no Douro em Rabelo – filme 1923


Viagem ao Douro - cartas de J. J. Forrester (2)

SEGUNDA CARTA 20 de Setembro 
Logo ao amanhecer continuamos a nossa viagem – mas depois de grande trabalho da parte da tripulação que andou na água a levantar o barco para poder passar no seco da Varjiela, e custou-nos a chegar a Melres, levando-nos três horas a andar esta pequena distância de meia légoa! 
Defronte deste povo almoçamos, e durante este descanço podemos notar que o sítio abunda em férteis campos, lenhas, cortiça, laranja e vinho, com tudo isso parece que os habitantes não gozam da maior prosperidade. As habitações são miseráveis e não há entre elas uma única casa que se possa supor pertencer a lavrador abastado. 
Esta circunstancia é mais notável em razão da benignidade do clima que faz que as terras produzam quase espontâneamente, e dos habitantes não precisarem fazer grande despesa com o seu sustento e vestuário.
Os homens apenas trazem calças, colete e camisa – as mulheres contentam-se com uma saia, camisa e colete, e as crianças – rapazes e raparigas, até à idade de 8 ou 9 anos, andam só com camisinha, aqueles que a tem.
Entre o Carvoeiro e Melres passamos na margem esquerda do rio o povo de Pé da Moura, sendo este o extremo ponto onde chega a maré e de onde a maior força da carqueja é remetida ao Porto. É curioso notar a direcção que nestes sítios toma o rio, porque principando em Lombeiro de Atães e acabando em Pédorido e Rio Mau, um quarto de légua adiante de Melres, descreve o perfil de uma cara de homem.
Ao meio dia o calor era tanto, marcando o termómetro 123 graus, e a atmosfera tão abafada, que não tivemos reméio senão dar à nossa tripulação três horas de descanço no areio d’ortos, ao pé do ribeiro da Raiva; mas depois o vento favoreceu-nos e podemos chegar à noitinha a Fontelas.
As vistas de ambas as margens são belíssimas, porém são poucos os povos e o seu estado em nada difere daquele que acabamos de descrever.
Há bastantes oliveiras e sobreiros desde Pé Doirido até defronte d’Entre –ambos-os-rios, onde o Tâmega desemboca no Douro. A perspectiva pelo vale do Tâmega é mui bela, quanto à natureza; porém é lastimoso notar-se que nem pelo rio nem por terra tenha a arte ajudado a aumentar os meios de comunicação com o interior do país, nem mesmo com Canaveses e muito menos com a importante vila de Amarante por onde o rio passa.
Em Entre-os-Rios tem aparecido bastantes vetigios dos romanos, e tanto neste povo como em Canaveses há caldas e águas férreas que deviam talvez ser de bastante estimação se houvesse comodidade que chamasse a gente a frequenta-las. Neste sitio havia registo, pela antiga Companhia, de todos os barcos que iam para o Porto.
Castelo de Paiva é uma terra insignificante, mas de um aspecto muito romântico, sendo a origem do seu nome a ilha de rochedos pitorescos no meio do rio em frente da povoação. O rio paiva é abundante em peixeis, especialmente trutas.
Nos tempos feudais quando os senhores recebiam os foros dos caseiros e tinham direito de pesca em certas estações do ano, além das galinhas que lhes foram dadas para merenda, era forçoso até fornecer-lhes o trovisco. Entre os povos mais afamados naqueles tempos, o Castelo de Paiva, não era o menos importante pelas suas pescarias de trovisco, conforme o que coligímos de vários escritores, e apesar da pesca de trovisco ser, por lei, de há muito proibida, neste povo de Castelo de Paiva ainda continuam a pagar-se muitos foros em galinhas, aplicadas em outras áreas para as merendas da pesca de trovisco. Nos arredores de Paiva, fabrica-se grande quantidade de carvão de choça que se vende na cidade.
Tenho deplorado o estado de miséria em que parecem achar-se todos os povos que passamos entre o Porto e ete sítio – agora acrescentarei que nos intervalos que medeia entre um povo e outro, não se encontra nem gente, nem gado, nem rebanhos, parecendo um país não habitado: ao mesmo tempo que cada passo aparecem deliciosos sítios a convidar o homem de gosto a ir para ali estabelecer o seu domicílio.
Sou de VV. & c. 
J. J. Forrester 
Publicada por Porta Nobre à(s) 4/24/2013”.

2 comentários:

  1. Olá
    Excelente post com histórias de uma região que gosto particularmente e que por isso mesmo algumas delas não me são, de todo, estranhas.
    Obrigado
    Cumprs
    Augusto

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  2. Boa tarde,
    Muito obrigado pelo seu comentário. Também nós temos as melhores recordações do Douro,onde a nossa família tem uma quinta há 3 gerações e onde passámos largos dias todos os anos.
    Aliás o Rui é descendente de uma antiga família da Régua por parte dos avós.
    Cumprimentos
    Maria José e Rui Cunha

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