quinta-feira, 24 de setembro de 2015

RIO DOURO - VIII

6.1.8 - Do Palácio do Freixo à Rampa da Corticeira


Mapa da zona de Campanhã e do Freixo, em 1833; é um mapa militar em que estão indicadas várias baterias da defesa do Porto, entre elas, as do Bonfim, Lomba, Quinta da China, Oliveiras, forte de Campanhã, do lado do Porto;  Serra do Pilar, Bateria de Campo Belo, Oliveira do Douro e Pedras Salgadas, no lado de Gaia.
Também refere várias quintas da zona, tais como: Quinta do Seminário, Quinta do Pinheiro de Campanhã (onde hoje está a estação da CP), Quinta do Rangel, Quinta da China, Quinta do Simões, Quinta do Freixo, Casa do Piquete, Quinta do Campo Belo, bem como o Largo das Fontaínhas, a Serra do Pilar, Quebrantões e Esteiro de Avintes.


Regata no Douro em 1905 – Frente ao Palácio do Freixo, do lado de Crestuma


À esquerda o Palácio do Freixo e a Fábrica de Moagem Harmonia


Ainda na zona do Freixo


Preparando as redes para sair à pesca do sável, em valboeiros


Desenho de Joaquim Villa Nova - 1833


Gravura de Cesário A. Pinto – 1850 – o Palácio do Freixo era , no tempo do autor da gravura,  a melhor vivenda solarenga da cidade e seus arredores. Cesário Pinto desenhou o palácio do local chamado, ao tempo, de Pedra Salgada.

“O seu primeiro proprietário terá sido Vicente de Távora e Noronha. O iniciador do Palácio pode ter sido Francisco de Távora e Noronha, Cavaleiro de Malta. A sua construção data do segundo quartel do séc. XVIII e deve-se ao Arq. Nicolau Nazoni. Mas foi José de Sousa Barros, mestre carpinteiro, quem tomou, em 8/6/1750, o encargo das obras de carpintaria segundo a escritura de obrigação da construção das Casas da Quinta do Freixo, feita ao Deão da Sé, o grande amigo de Nicolau Nazoni, Jerónimo de Távora e Noronha que foi quem o trouxe para o Porto. Em 1770 já é proprietário do Palácio Vicente de Noronha Leme de Cernache aquele que, provavelmente suprimiu o patronímico Távora devido à perseguição pombalina em consequência do regicídio (1758). O palácio passou a seguir, à posse de João António Salter de Mendonça (1º. Visconde de Azurara), por casamento com Ana Rosa, uma das filhas de Vicente de Noronha Leme e Cernache. Aí por 1850 este palácio foi vendido a António Afonso Velado, um negociante de grosso, que chegou a ser Visconde do Freixo (1870).


Palácio do Freixo - fachada principal


Vista aérea



Após uma magnífica recuperação é hoje a Pousada Palácio do Freixo
Já tratámos mais extensamente da Quinta do Freixo no nosso lançamento das Quintas do Porto de 21/5/2013.


Casa e Capela da Quinta da China, tal como eram no séc. XVIII - foto do séc. XX - foto de Teófilo Rego - Arquivo Municipal do Porto


Toponímia portuense – Eugénio Andrea da Cunha Freitas


Aurélia de Sousa - vista da sua janela na Quinta da China

Biografia de Aurélia de Sousa



Quinta da China – A chaminé e as ruínas serão da Cerâmica de Massarelos?


Vista aérea antes da construção da Urbanização


Esta urbanização foi extremamente polémica, tendo sido reduzidos os prédios mais altos. 


Descarga de lenha em Campanhã - 1915


Convento da Serra do Pilar antes do cerco do Porto de 1832 – gravura do Barão de Forrester tirada da rampa da Corticeira – á direita ficava a Capela do Senhor do Carvalhinho, erguida pelos Padres Jesuítas e por eles mantida até 1761 quando foram expulsos. Serviu de quartel da marinha de D. Pedro durante o cerco e, a partir de 1840, foi a primeira fábrica de cerâmica do Carvalhinho, donde lhe veio a marca. Mais acima ainda se vê um pouco da Muralha Fernandina. Por baixo do convento encontra-se a Capela do Senhor d’Além e a Ponte das Barcas.


Calçada da Corticeira vista de Gaia - 1860


Foto tirada do mesmo local da gravura acima, depois da construção da Ponte Luis I. A capela já tinha sido ocupada, em 1840, pela fábrica, mas preservaram a frontaria. Reparar no belíssimo candeeiro. Fins séc. XIX.


Hoje encontra-se em ruínas


Calçada da Corticeira - 1960



1870

“A Primeira instalação da Fábrica do Carvalhinho, ficava situada na Capela do Senhor do Carvalhinho, local que inspirou o nome da fábrica, pertencente à Quinta da Fraga, no Porto, junto à Calçada da Corticeira. 
A sua fundação remonta ao ano de 1840 tendo como sócios fundadores: Thomaz Nunes da Cunha e António Monteiro Catarino, ambos com experiência no campo da cerâmica. 
Em 1853 a fábrica sofreu ampliações que lhe permitiram lançar-se, definitivamente, no campo comercial.
Em 1870 Castro Júnior, que é genro de Thomaz Nunes da Cunha sucede-lhe e toma os destinos da fase seguinte de fábrica.
Na viragem do século e em conjunto com a fábrica das Devesas, a fabrica resistiu à transição atingindo mesmo um elevado grau de desenvolvimento industrial. 
Os azulejos de parede foram produzidos, pela primeira vez, nesta fábrica que recebeu ao longo dos quase 140 anos de existência diplomas de mérito nesta área, constituindo o maior exemplo disso a própria fachada de azulejos da Fábrica Carvalhinho, no Largo S. Domingos. 
No início do século XX, as fábricas de cerâmica portuguesas debateram-se com dois problemas: o surgir de produtos cerâmicos estrangeiros (Inglaterra e França); e o atraso tecnológico das máquinas utilizadas, comparativamente com as concorrentes. 
Em 1906 a fábrica é ampliada. Renovou-se a parte técnica conseguindo-se alcançar melhor e maior produção, exportando para o Brasil e África os seus produtos em grande escala. 
Entravamos assim na "Dinastia Freitas". 
Em 1923 a Quinta do Arco do Prado é adquirida pelo gerente A. Pinto Dias Freitas, filho do primeiro sócio da dinastia Freitas, um vasto terreno a algumas centenas de metros da estação de V. N. de Gaia. 
Seguindo modelos de fábricas de cerâmica da Alemanha e Inglaterra nascem as novas e modelares instalações da fábrica do Carvalhinho, dotadas do mais moderno equipamento tecnológico da época. 
Em 1930 o sócio A. Pinto Dias de Freitas vê-se obrigado a, devido a grandes dificuldades financeiras, associar-se à Real Fábrica de Louça de Sacavém de grande prestígio na época e para onde se transfere a sede da Carvalhinho sob a direcção do Sr. Herbert Gilbert. Nesta fase a fábrica atingiu o que se considerou "a idade de ouro". 
Celebrando o centenário da sua existência em plena actividade, em 1940. 
Depois da morte de António Dias de Freitas, em 1958, é nomeado Frederick W. Sellers para gerente da fábrica de Gaia em colaboração com Eng.º Ant.º Almeida Pinto de Freitas, um dos filhos do anterior sócio, que acaba por retirar-se mais tarde devido a desentendimento com aquele gerente. 
Em 1965 juntamente com um irmão, compra à fábrica de Sacavém a sua parte no capital da empresa. 
Não são, no entanto bem-sucedidos, estes dois irmãos, uma vez que contraindo enormes prejuízos, vêem-se obrigados a entregar a fábrica em haste pública ao Sr. Serafim Andrade. 
Esta encontrava-se já numa fase de total decadência, acabando por encerrar definitivamente em meados da década de 80, perdendo-se, assim, uma das mais notáveis unidades de cerâmica do nosso país”. In Porto XXI


Painel de Azulejos da Fábrica de Cerâmica do Carvalhinho







“No Largo de S. Domingos, em frente a um prédio com um beiral de faiança que já aqui mostrei, está um edifício com um fantástico revestimento de azulejos da Fábrica do Carvalhinho, assinados pelo pintor Carlos Branco e pelo desenhador Silvestre Silvestri, como se vê nos cantos inferiores do painel central. Também consta do painel a data de execução, 1906, e as iniciais da firma instalada no prédio, Araújo & Sobrinho, Sucrs. Para além das grinaldas e arabescos, inspirados no gosto neoclássico, vêem-se desenhos alusivos a materiais para desenho e pintura, representando o ramo de negócio da firma.
Consta ainda do painel central uma cabeça de mercúrio, certamente simbolizando o comércio”. In blogue artelivrosevelharias – fotos e texto


Desenho do Barão de Forrester, o Porto visto da Serra do Pilar - esta Ponte das Barcas já tem barcos maiores para que os mais pequenos pudessem passar sem necessidade de a abrir.

OITAVA CARTA

Ocupar-me-ei da terceira parte do país vinhateiro, entre o Pinhão e a Baleira e que tenho chamado o Alto Douro.
A distância é de três léguas boas, mas quem tem de as caminhar facilmente acreditará serem quatro. Como acontece até aqui, não há caminho nas margens do rio, póvos apenas se vem na margem direita Casal de Loivos, Foz Tua, Fiolhal, e Riba Longa, não sendo possível descobrir o rio os povos de Ervadosa, Soutelo, Nagoselo, nem S. João da Pesqueira na margem esquerda.
Esta última divisão do terreno marcado para a produção do vinho que (com a exclusão de todo e qualquer outro) é destinado para o embarque, é sumamente interessante para o viajante, amador das belezas e maravilhas da natureza.
Em ambas as margens (até os ribeiros de S. Martinho, acima da quinta do Zimbro) há belas quintas de vinho e azeite, e alguns pomares. No Fiolhal há bastantes amoreiras, das quais se faz alguma seda e os pomares em S. Mamade, logo ao pé, produzem a melhor laranjas da província.
O rio Tua nasce no reino da Galiza, próximo ao lugar de Pias, corre por Mirandela, fertilizando muitas terras, vem desembocar no Douro, no pequeno povo de Foz Tua.
Os ribeiros de S. Martinho separam os xistos dos granitos e são mui notáveis as vinhas na lousa de um lado de cada um dos ribeiros e as grandes e continuadas fragas de granito nos outros lados.
Destes sítios até ao 1º ponto dos Culmaços (um bom quarto de légua) as margens apresentam vistas sublimes que encantam o verdadeiro artista e amador da natureza. Nos Culmaços tornam a principiar os xistos e por conseguinte as vinhas e estas na sua vez acabam na Baleira, por baixo do celebre monte de granito de S. Salvador do Mundo. 
Os pontos, de vergonha para o Governo, são os seguintes: Aroeda, Frete, Carrapata, Roriz, Malvedos, e Culmaços.
As terras nestes sítios são mais delgadas do que as do baixo Corgo e os calores são muito fortes. O bastardo e o alvarilhão que produzem bem no distrito de Penaguião não se dão aqui tão bem, e por isso que o gosto do mercado vinhateiro é sem dúvida de vinhos encorpados e com muita cor, se cultivam o Souzão, a Touriga, Tinta Francesa, Tinto Cão, Mourisca, e mais outras tintas. Os vinhos brancos ficam mais desviados das margens do rio.
As vindimas estão a findar e por toda a parte os excessivos calores tem secado muito vinho, talvez uma quinta parte da produção total.
Tenho dito que as margens do rio, por toda a extensão do país vinhateiro (que vem a ser outo léguas) tem poucos habitantes e não sendo no tempo das vindimas, apenas fica um caseiro em cada adega. 
Agora porém, o país parece outro, ranchos de trabalhadores com cestos cheios de uvas às costas, comboios de bestas carregadas com odres, conduzindo vinho de umas adegas para as outras; centenares de mulheres nas vinhas, vindimando as uvas e cantando as suas modinhas, os homens nos lagares pisando as uvas ao som do tambor, viola e gaita de fole, é o que se vê e se ouve em todas as direções. 
Apesar da moléstia das videiras e a probabilidade de uma continuada escasses de vinho, toda a gente que encontrei parecia contente e satisfeita, contribuindo para isso os altos preços por que se tem vendido os vinhos e não ter havido diferença sensivel nos jornais. 
Nota-se também que muitos negociantes estrangeiros do Porto, este ano compram uvas e fazem o vinho à sua vontade na época da vindima!! 
Falei os caseiros que ficam todo o ano a tomar conta das quintas. Honra seja feita a esta classe dos habitantes do Douro. 
O caseiro tem toda a responsabilidade dos grangeio das vinhas, do fabrico do vinho e da sua conservação até que seja carregado, desviado de qualquer povo, sofrendo privações, exposto ao rigor do tempo; recebe apenas por ano em renumeração dos seus serviços e para o seu sustento e da mulher e filhos, umas 15 a 20 moedas; são mui raros os casos em que ele se esquece do seu dever. 
Os carreiros e carretões tem a consciência mais elástica, tal é o seu cuidado para que nem as pipas nem os odres arrebentem por andarem muitos cheias, que fazem alto muitas vezes pelo caminho, para dar alívio às vasilhas que conduzem, não se esquecendo de convidar os amigos que encontram para tomar parte nesta importante operação. Não deixara de ser interessante o seguinte extracto de uma ordem dada a 9 de Março de 1791 pelo juíz conservador da Companhia Geral do Alto Douro: 
Sendo tão público e geral o desafôro praticado pelos carreiros de abrirem as pipas pelos batoques, até furando-as para beberem o vinho, e o dar a quem encontram; ordeno a todos os comissários que a Junta da Companhia tem no Douro, formem processos dos referidos factos &c. &c. 
Não acontece haver a mesma generosidade da parte dos trabalhadores que conduzem as uvas. Às vezes tendo-lhes pedido um cacho de uvas, respondiam-me que não o podiam dar sem licença do patrão, e logo depois passava o ranco inteiro na barca de Baguste e cada homem com todo o sangue frio lavando enormes cachos no rio, comendo-as e até dando-as ao barqueiro! 
Não posso dizer com certeza se as vindimeiras costumam esconder passas nas algibeiras, porém o que é facto é que em certas quintas costumam à noute dar busca nas mulheres, na mesma forma que fazem nas fábricas de tabaco em Lisboa, Sevilha e outras cidades. 
Em todas as quintas há duas cardanhas, uma para os homens, outra para as mullheres. 
Nos domingos e dias santos, ouve-se missa logo ao romper do dia, para que os trabalhos da vindima não sejam interrompidos. Os homens ganham 200 reis por dia e as mulheres seis vintens; o pão é à custa deles, mas o senhoria dá o almoço, jantar e ceia; em outro tempo também dava vinho, porém agora não o há. 
Sou de VV.
J.J. Forrester
Publicada por Porta Nobre à(s) 6/13/2013 “.

Pelo Texto desta carta conclui-se que foi escrita em Setembro/Outubro de 1854. 

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