terça-feira, 24 de novembro de 2015

RIO DOURO - XXIX

6.1.29 - Rio Douro, Ouro-Lordelo, Afurada


Por carta de 21/3/1419 D. Fernando cede aos portuenses que mandarem fazer navios com 50 toneladas ou mais, o privilégio de isenção de todo o serviço militar e de todas as contribuições tanto do Estado como municipais.


Gravura de 1789 publicada na 1ª. edição do livro de Agostinho Rebelo da Costa


Afurada – pescadores e barco de passagem para o Ouro em dia festivo - 1900


Pescadores - 1900


Vendedor de peixe da Afurada – postal do Cartaxo de 31/5/1904


Lavadeiras da Afurada - 1910

...


Monumento aos portuenses que construíram, aparelharam e a aprovisionaram uma armada para a conquista de Ceuta por ordem do Infante D. Henrique. Escultor Lagoa Henriques – 1960. Tem a seguinte inscrição:

FROTA DO INFANTE
CEUTA 1415
Á GREI 
Que lhe deu navios
Provisões e nela embarcou
Porto 1960

Tripas à moda do Porto – Joel Cleto


“Num dos estaleiros do Ouro, na cidade do Porto, mais propriamente nuns terrenos onde hoje se situa o jardim do Calem, junto à Ilha do Frade, vulgo Ínsua do Ouro, foi construído em madeira, por volta de 1920, um navio a vapor, a que o seu armador, a firma Companhia de Navegação Portuense, SARL, sedeada na rua da Reboleira, 49, da cidade do Porto, o baptizou com o nome de LORDELO, possivelmente pelo motivo do local onde foi construído pertencer à freguesia de Lordelo do Ouro.
Acontece quando se realizou a cerimónia do seu lançamento à água, com a presença de convidados e populares, sempre presentes nestes eventos, a neófita embarcação não se moveu. Não se moveu quando se lhe cortou a bimbarra, não se moveu quando o aliviaram das escoras, sucedendo o mesmo quando um rebocador o puxou, só conseguindo rebentar três cabos de reboque e uma grossíssima amarra. No dia seguinte repetiram-se as tentativas sem resultado. No terceiro dia nada se conseguindo, nem também ao quarto dia.
O teimoso vapor que até parecia que tinha alergia à água, era de cerca de 62m de comprimento, 11m de boca e 6m de pontal. Era uma excelente embarcação, que apenas tinha o defeito de não querer navegar nem com três rebocadores a puxar por ele, mas lá acabou por se convencer a deslizar pela carreira, e terminar os aprestos finais em pleno rio Douro.
Desconheço a história subsequente do "teimoso", apenas sei que só realizou uma única viagem, cujo destino foi os E.U.A. Fontes: Ilustração Portuense/ fotos I. Dias. Rui Amaro”


Corveta Porto – construída em 1848, foi o último navio militar construído nos estaleiros do Ouro. Em 1858 teve um grande incêndio, em pleno Tejo, pelo que foi abatida no ano seguinte.




V Centenário morte Infante D. Henrique - 1960 – réplicas de naus construídas no estaleiro do ouro e sua chegada à Ribeira.


Barco de passagem da Cantareira à Afurada


Lordelo do Ouro – barco de passagem para Afurada – foto Helena Cristina Coelho


Em frente ao Largo António Calém, onde desagua a Ribeira da Granja, encontra-se a Ilha do Frade.

Mas por que razão, desde o séc. XIX esta ilhota tem o estranho nome de “Frade”?
Comecemos por informar que em meados do referido século, e até bem mais tarde, a ilha estava muito mais distanciada da margem, pois o jardim António Calem e a marginal foram conquistadas ao rio por grande aterro.
Em O Tripeiro, de 1/5/1919, José de S. João Novo, conta-nos a história dessa designação. Passou-se no seu tempo de jovem e conheceu pessoalmente o “frade” em questão.
O Mosteiro de Santo António do Vale da Piedade, em Gaia, mais ou menos em frente da Alfândega, dava emprego na portaria a um jovem leigo que, por força do seu mister, era obrigado a usar, durante as horas de trabalho, o hábito franciscano. Mas, talvez por preguiça ou habituação, não o costumava mudar nas horas livres.
Acontece que, frequentemente, uma bela moçoila de Lordelo ia ao convento fazer recados e o porteiro dela se embeiçou. Cheio de coragem, certo dia, depois de lhe explicar que era leigo e não frade, decidiu falar-lhe no seu sentimento e propor-lhe que preparassem os papeis para o casamento, mas que entretanto poderiam viver maritalmente, pois a sua paixão não permitia grandes demoras. Ela não recusou tal proposta, mas na verdade já tinha namorado certo.
Uma tarde, à saída do convento, alguém se aproximou do apaixonado dizendo vir de mando da pretendida e que na madrugada seguinte, bem cedo, ele estivesse perto do rio que um barco o viria buscar para um encontro romântico. Em grande ansiedade, divisou a aproximação de um barco, saído do espesso nevoeiro e, sem trocar palavra com o remador, embarcou e começaram a descer o rio. A certa altura o barco estacou em terra e, após o desembarque aquele afastou-se. Andando pouca distância é com espanto que encontra novamente água, sucedendo o mesmo por todos os lados. Só quando o Sol raiou e o nevoeiro se dissipou o infeliz descobriu que estava numa ilha, no meio do rio Douro. Compreendendo a armadilha que lhe tinham preparado, aos berros, pediu a um pescador que o levasse para terra. Obviamente o "mudo" tripulante era o namorado da “bela amada”.
Segundo o autor este porteiro passou para hortelão do convento onde trabalhou ainda muitos anos.
Esta história deu brado na zona do Ouro e o povo passou a chamar a “Ilha do Frade”.

O farol de Sobreiras – José Magalhães


Rui Picarote Amaro faz o seguinte comentário a esta foto: “A paisagem é do estuário do Douro, junto á Cantareira, e a lancha vai de largada, e de facto tanto pode ser de Valbom, Afurada ou de São João da Foz (Cantareira). Foram lanchas do alto, da pescada, ou poveiras, que se perderam na que ficou conhecida como “Tragedia Marítima de 27/02/1892” e em que pereceram 105 pescadores, na sua maioria da Povoa e da Afurada, e não é por acaso que na Afurada existe uma rua com o nome de 27 de Fevereiro de 1892.
O meu avô Zé Colega, da Cantareira, e natural da Murtosa, teve uma lancha ou barco de nome ALIANÇA, que aparece num postal ilustrado, acostada aos tanques de lavar e que era de 10 homens, e nesse dia 27 de Fevereiro, saiu a barra, para mais uma maré, mas quando já muito ao sul, olhando os astros, notou que ia haver grande borrasca, e dis
se aos camaradas vamos para casa, porque vem ai muito mau tempo, e olhando à distância a percorrer não sei se conseguiremos entrar a barra. Já outras lanchas de outras praias, rumavam a norte, enquanto muitas continuavam teimosamente a rumar a sul. Felizmente, com alguma dificuldade conseguiu passar a barra e chegar à Cantareira a salvo. Essa firme decisão, contra a vontade dos seus camaradas, certamente salvou-os de uma morte certa”.


Foto de José Luis em O Porto é Lindo de Morrer

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