quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

RIO DOURO - AFLUENTES II

6.2.2 - Rio Douro - Afluentes - Rio Sabor


O rio Sabor nasce na Sierra de Gamoneda e atravessa a Serra de Montesinho. Passa perto da cidade de Bragança, indo desaguar perto da Torre de Moncorvo na aldeia da Foz do Sabor.






“Situado no extremo nordeste português, o Parque Natural de Montesinho ocupa um quadrilátero bem encaixado na Sanábria espanhola, englobando as áreas das serras de Montesinho e Coroa, abrangendo a parte setentrional dos concelhos de Bragança e Vinhais, fazendo fronteira a nascente e a poente com Espanha. 
Esta área é constituída por uma sucessão de elevações arredondadas e vales profundamente encaixados, com altitudes que variam entre os 438 m e os 1481 m. Situado na terra fria transmontana, os xistos são as rochas dominantes, mas podem ainda ser encontrados granitos, rochas ultrabásicas e pequenas manchas calcárias.
A enorme diversidade da vegetação pode ser observada em percursos de poucos quilómetros, encontrando-se carvalhais, soutos, sardoais, bosques ripícolas, giestais, urzais, estevais, lameiros, etc.. Os carvalhais situados no Parque, dominados pelo carvalho-negral Quercus pyrenaica fazem parte de um continuum que se prolonga até à serra da Nogueira, constituindo uma das maiores e mais importantes manchas desta espécie. A flora, é muito variada, devido à grande variabilidade geológica e climática que caracteriza esta zona, sendo de destacar as plantas que ocorrem em solos derivados de rochas ultrabásicas, onde se encontram espécies que no mundo apenas aqui podem ser observadas.
Em termos faunísticos, observa-se uma elevada diversidade biológica, resultante da diversidade de habitats que ocorrem nesta área de montanha. Com mais de 110 espécies de aves nidificantes, é uma área importante para as aves de rapina, como a águia-real (Aquila chrysaetus), existindo 3-4 casais desta espécie, correspondendo, aproximadamente, a 10% da população portuguesa. Estão referenciadas para o Parque Natural de Montesinho 70% das espécies de Mamíferos terrestres ocorrentes em Portugal, apresentando cerca de 10% destas espécies estatuto de ameaçado no Livro Vermelho dos Vertebrados Portugueses. É de destacar a presença de uma das mais importantes populações de lobo-ibérico Canis lupus. Em relação aos répteis e anfíbios, podem ser observados nesta área 50% dos endemismos Ibéricos existentes em Portugal continental.
O Parque Natural de Montesinho possui um rico património sociocultural com práticas quotidianas vindas de usos e costumes ancestrais, embora já marcadas pelas crescentes mobilidades das gentes e pelas inovações tecnológicas. As festas, são um exemplo disso, sendo um elo de ligação entre as aldeias e um pretexto para o reencontro de famílias e amigos. Têm especial valor as antiquíssimas "Festas dos Rapazes", realizadas principalmente na zona da Lombada por altura do Natal ou dos Reis, segundo o costume de cada aldeia. Outra das facetas da cultura regional é a música tradicional, que acompanha sempre as festividades e onde se destacam as sonoridades da gaita de foles.
São notáveis ainda os exemplos de arquitetura popular, que utilizando os materiais característicos de cada região, resultam de milhares de anos de aperfeiçoamento e adaptação ao meio ambiente. Há também aspetos exclusivamente funcionais na arquitetura popular dignos de destaque, como os pombais, os moinhos e as forjas do povo”. In ICNF


Rio Sabor – foto de José Alves Teixeira

Rio Sabor da nascente à foz



Esta bela paisagem vai desaparecer com a construção da barragem do baixo Sabor 

Rio Sabor da despedida 



O Douro Illustrado – 1876


O Vale da Vilariça tem uma área aproximada de 34.000 hectares, constituindo uma pequena planície aluvionar de 5000 hectares, da ribeira que lhe dá o nome, e que nasce a cerca de 25 kms. na Serra de Bornes.
O Vale da Vilariça corresponde a uma mega fractura activa, que atravessa o distrito de Bragança no sentido N/S, provinda da Galiza e que se prolonga pelo distrito da Guarda. Esta falha alargou-se no curso inferior do rio Sabor e na ribeira da Vilariça. É esta grande estrutura que obriga o Douro a dar um meandro caprichoso na Quinta Vale de Meão, a quinta que há uns anos atrás produzia o vinho tinto mais famoso de Portugal (o Barca Velha).


Foz do Sabor


Cerca de 1900


Cerca de 1900


Na área do actual concelho de Bragança, existia já uma povoação importante ao tempo da ocupação romana. Durante algum tempo, teve a designação de "Julióbriga", dada a Brigância pelo imperador Augusto em homenagem a seu tio Júlio César.
Destruída durante as guerras entre cristãos e mouros, encontrava-se em território pertencente ao mosteiro beneditino de Castro de Avelãs quando a adquiriu, por troca, em 1130, Fernão Mendes de Bragança, cunhado de Dom Afonso Henriques. Reconstruída no lugar de Benquerença, Dom Sancho I concedeu-lhe foral em 1187, e libertou-a em 1199 do cerco que lhe impusera Afonso IX de Leão, pondo-lhe, então, definitivamente, o nome de "Bragança".
O regente Dom Pedro, em 1442, elevou Bragança a cabeça de ducado concedido a seu irmão ilegítimo dom Afonso, 8º conde de Barcelos, que fora genro de Dom Nuno Álvares Pereira.
Em 1445, Bragança recebeu a concessão de uma feira franca e, em 1446, Dom Afonso V elevou-a à categoria de cidade.
A 5 de março de 1770, Bragança tornou-se sede duma diocese. Passou a ter unida a si, desde 27 de Setembro de 1780, a diocese de Miranda (criada a 22 de maio de 1545), ficando a sede em Bragança, e por isso a designação oficial da diocese é de "Bragança e Miranda".
Foi feita Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito a 26 de Abril de 1919.


Domus municipalis



“O Mosteiro beneditino de Castro de Avelãs gozou da protecção de Afonso Henriques, exercendo este uma influência determinante na economia da região onde foi implantado, pelo menos até ao século XIII. Foi um núcleo monacal extremamente importante do Nordeste Transmontano, entre os séculos XII e XVI. A igreja situa-se entre as ruínas do convento e o que restou de uma torre e casa paroquial. A velha e incompleta igreja foi construída ao estilo românico mudéjar de raiz leonesa, com tijolo vermelho, um material pouco usado entre nós. Deste projecto, nunca concluído, restaram a cabeceira, com três capelas semi-circulares, uma das torres da fachada e o arranque da parede da nave lateral, visível no lado sul. No absidíolo sul encontra-se um sarcófago monolítico de granito, composto por arco feral paralelepipédico, com tampa de secção pentagonal com remate superior de duas águas. O túmulo está decorado por dois brasões e uma inscrição inacabada – "ERA DE MIL E CCC E" – gravada na sua tampa.
Lendas e Tradições: Uma velha tradição diz que o túmulo, guardado no interior de um dos absidíolos, pertence ao cavaleiro D. Pelaio, conhecido como conde de Ariães. Segundo reza a lenda, este conde fazia vitoriosas incursões bélicas contra os muçulmanos no tempo de D. Ramiro II, que encantavam os habitantes de Bragança. Este propusera-lhe entregar a cidade, caso concordasse entrar num desafio campal com um mouro, mas em força desigual. Confiante do seu triunfo, o conde aceitou o desafio marcado para o dia de São Jorge, a quem prometeu, em caso de vitória, erigir uma capela da sua invocação a qual visitaria anualmente em procissão. No Prado do Talho, o cavaleiro derrotou o inimigo, no limite da veiga de Ariâes, e mandou edificar um templo em honra de São Jorge. Outra tradição conta um episódio menos feliz da história deste conde. Certo dia, este zangou-se com a sua mãe, por esta não ter o jantar pronto quando voltava da caça e no pico da sua ira atiçou-lhe os cães que a mataram. Como forma de castigo, pelo crime horrendo que cometera, foi obrigado a tirar um cabelo da sua cabeça e metê-lo numa pia com água debaixo de uma pedra, até que este se transformasse numa cobra. Quando o animal estivesse bem crescido, seria metido com o conde numa tumba, identificada com o túmulo do mosteiro de Castro de Avelãs, para que fosse devorado pela cobra e assim fosse vingada a morte da sua mãe. In Património dos Concelhos da Terra Fria Concelho de Bragança

Mosteiro de Castro de Avelãs


Torre de Moncorvo


Praça e edifício da Câmara






"Torre de Moncorvo, burgo promovido a sede de concelho em 1285, pelo rei D. Dinis, era no século XVI uma vila florescente e um centro administrativo da maior importância, facto que propiciou a construção de uma igreja de grandes dimensões, denunciando o secreto desejo de ascensão a sede de diocese. Esta acabaria por ser criada em 1545, mas em Miranda do Douro, no extremo nordeste transmontano, o que deve ter contribuído para a morosidade da construção da matriz de Torre de Moncorvo.
Dedicada a Nossa Senhora da Assunção, terá sido iniciada por volta de 151O, de acordo com um testemunho quinhentista, erguendo-se, já então, extra-muros, no arrabalde da vila e no lugar da igreja medieval de Santa Maria. Dependente sobretudo de financiamentos municipais, a obra arrastou-se por mais de um século, trabalhando-se ainda em 1638 no estaleiro da grande fábrica, demora que não comprometeu, no entanto, a unidade arquitectónica do edifício. 
Na fachada, organizada como uma possante torre, ressalta o pânico central, de composição retabular ao estilo da Renascença, com uma minúcia escultórica que contrasta com a simplicidade dos restantes alçados: colocadas em nichos aparecem as imagens em granito da padroeira, Nossa Senhora da Assunção, no topo, ladeada por São Pedro e por São Paulo. A flanquear a porta estão Santa Bárbara e Santa Apolónia. Não se conhece o autor da traça da igreja, apenas a referência do mestre pedreiro João Martins que, em 1559, acompanhava a obra, embora as características do pórtico o aparentem com edifícios contemporâneos. In site Património no Território

Torre de Moncorvo - vídeo


“A Ponte de Remondes entre Mogadouro e Macedo de Cavaleiros, teria sido construída em 1678, sendo obra da nobre Familia dos Távoras.
A ponte compõe-se por um tabuleiro horizontal assente sobre 5 arcos de volta redonda. 
Apresenta, entre os arcos, contrafortes com talhamares e talhantes triangulares.
Estas fotos foram tiradas ontem dia 31/8/20015, por onde passei em direcção a Mogadouro”. Fotos e texto de Maria Isabel Milheiro.

domingo, 27 de dezembro de 2015

RIO DOURO - AFLUENTES - I

6.2.1 - Rio Douro- Afluentes - Rio Coa

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Descrição dos afluentes do Douro em Mapa de Portugal Antigo e Moderno – P. João Baptista de Castro – 1762


É curioso que estes autores refiram alguns rios de pequeno tamanho e caudal, tais como, Barosa (hoje Varosa), Ferreira, Balsemão, Biturim (desagua “na Província do Minho”), Germude, Gafarinha, Inha (desagua a montante do Rio Arda), Mação, Pedonde, Tedo (desagua em frente de Covelinhas) e Pinheiro, além dos “riachos” Temitolas (passa em Armamar), Rio Tinto, Campanhã e Liceiras, esquecendo, no caso de Baptista de Castro, rios como Sabor, Corgo, Paiva.


Foz do Rio Tedo - era habitual irmos, durante as férias de verão, pescar para este rio com os nossos filhos. Nunca foram grandes pescarias, mas eram momentos muito divertidos.


Bacia Hidrográfica do Douro


Bacias principais do Douro em Portugal

Rio Douro – região hidrográfica - vídeo 


Blogue História da Raia


Fóios - nascente do Coa


O rio Coa é um rio português que nasce nos Fóios (Sabugal), mais concretamente na Serra das Mesas, a 1.175 m. de altitude, próximo da Serra da Malcata. Percorre cerca de 135 km até desaguar na margem esquerda do rio Douro, perto de Vila Nova de Foz Côa, a 130 m. de altitude. É dos poucos rios portugueses que efectuam um percurso na direcção Sul-Norte.
O rio Coa percorre a zona raiana do distrito da Guarda, as Terras de Riba-Coa. Tem um clima marcadamente mediterrânico. A zona de Riba-Coa é dominada por bosques, pinhais, fortalezas (castelos), planaltos e fantásticas paisagens típicas da Beira Interior.
Cidades na zona de Riba-Côa: Pinhel, Sabugal, Meda.
Do latim Cuda posteriormente Coda, com possível origem no pré-celta kut (javali) ou no basco kuto (porco). Está na origem de transcudano, que é relativo a Ribacoa (adjectivo), natural ou habitante de Ribacoa (nome) ou antigo povo da Lusitânia.


Ponte sobre o Rio Coa – Foto Felizes


Canada do Inferno – foto de António Martinho Baptista


Penascosa - Blogue Geocastemaia

“É verdade que as gravuras sempre foram vistas pelos pastores e pelos moleiros, deixando alguns destes as suas próprias criações ao lado dos que os antecederam em cerca de duzentos séculos ou mais. E verdade é também que o fozcoense Dr. José Silvério de Andrade, que foi médico, escritor e presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa, já nos anos 30 dava notícias de algumas gravuras, que descobrira, ao conceituado Abade de Baçal, através de um seu artigo num jornal de Mirandela. 
Foi no entanto o Dr. Nelson Rebanda o arqueólogo que, em 1995, ligou o seu nome à descoberta oficial de tais achados, na sequência dos trabalhos que lhe haviam sido incumbidos pela EDP, concessionária da barragem entretanto em construção no Côa. A este arqueólogo, no meio de acesa discussão pública, vieram juntar-se, entre outros, Mila Simões de Abreu, António Martinho Baptista, Mário Varela Gomes e João Zilhão. 
Declarada a suspensão da barragem pelo Governo que acedeu ao poder em Outubro de 1995, em breve o Vale do Côa, com os diversos "sítios" entretanto identificados ao longo de 17 quilómetros, recebia a classificação de monumento nacional. Segundo os entendidos, ali se encontrava o maior museu ao ar livre do Paleolítico, de todo o mundo. E a importância de tais achados chegou depois ao conhecimento da UNESCO, que não demorou a considerá-los Património Cultural da Humanidade”. Site do Concelho de Foz Côa. 

Parque geológico do Vale do Côa 






Foto de Victor Oliveira




Portugal Antigo e Moderno

No fim do séc. XIX esta vila tinha fábricas de cordas, calçado e carros de bois, ricos “carretões e vendilhões”, mas s sua grande riqueza era o sumagre. 



Portugal Antigo e Moderno


Pinho Leal (1816/1884)



Pinho Leal (1816/1884) iniciou a publicação em 1873, mas faleceu antes de a acabar. O último volume foi já coligido pelo Pe. Pedro Augusto Ferreira em 1890. 
A propósito de Vila Nova de Foz Coa escreve sobre as rivalidades políticas dos seus habitantes. Tem interesse para de poder ter uma ideia do que se passou no interior de Portugal durante o séc. XIX. Na verdade na leitura da História de Portugal ficamos a conhecer os importantes acontecimentos, mas muito pouco sobre as lutas entre os habitantes do interior.


E muitas outras, desde D. Manuel I ao fim do séc. XIX. Tremendas foram as lutas no tempo das Invasões Francesas, de D. Miguel (1829) e Liberais (1834), da Patuleia etc. até às eleições de 1876.
Muitas centenas de mortos, destruição de casas e quintas, fugas e prisões, desterros e abandono da vila pelos mais ricos.
Estamos certos que muitas vilas e cidades do interior português sofreram os mesmos desvarios. 


Ponte sobre o Coa


O maravilhoso espectáculo das amendoeiras em flor.



Quinta da Ervamoira – foto Adriano Ferreira

Em 1974, José António Ramos Pinto Rosas, então administrador da Casa Ramos Pinto, procurava persistentemente uma quinta em terreno pouco acidentado que permitisse a mecanização, porque já nessa altura se fazia sentir a escassez e o elevado custo da mão-de-obra no Douro. Estudando inclusivamente as cartas militares, encontrou e adquiriu a Quinta de Santa Maria, rebaptizada como Quinta da Ervamoira, aquela que viria a tornar-se quinta modelo em toda a região duriense. 
Dois anos mais tarde, com o auxílio do sobrinho João Nicolau de Almeida, José Rosas lançou mãos ao projecto de estudar e seleccionar as cinco melhores castas e trabalhar apenas com o material seleccionado, pensando já não só no Vinho do Porto, mas também no Vinho de Mesa. Este trabalho conjunto tornou Ervamoira um projecto piloto, a primeira Quinta do Douro a ser plantada ao alto e por talhões. 
A cada talhão correspondia uma casta diferente, acabando-se assim com a mistura de castas na mesma vinha. O resultado deste estudo viria a ser apresentado numa comunicação proferida por ambos, em 1981, na Universidade de Trás-os-Montes. 
Apesar da polémica gerada, as conclusões deste estudo foram aceites pelo Banco Mundial, que autorizou a plantação de 2500 novos ha de vinha. 
Com o início da construção da barragem do Côa, a Quinta de Ervamoira correu o risco de desaparecer submersa. A descoberta das gravuras rupestres do Vale do Côa, fez nascer uma nova esperança para todos os inconformados com a perda de muitos anos de trabalho, excelentes resultados, avultados investimentos e, no fim de contas, com o desaparecimento de uma paisagem única que, afinal, já os homens do paleolítico tinham sabido apreciar. 
Ervamoira livrar-se-ia do pesadelo do afogamento, quando em 1996 o governo recentemente eleito se decidiu pela interrupção definitiva das obras da barragem. 
Respeitando uma tradição já tão antiga quanto a sua própria história, a Casa Ramos Pinto não deixou de dar importância aos aspectos culturais que rodeavam a história da Quinta de Ervamoira. No sentido de os dar a conhecer ao público, investiu na criação de um museu de sítio, inaugurado em 1997 pelo então Ministro da Cultura, o Prof. Doutor Manuel Maria Carrilho. 
Com a decisão da UNESCO de elevar as gravuras do Vale do Côa à categoria de Património da Humanidade, a Quinta de Ervamoira teve o privilégio de se converter na primeira quinta vinhateira a usufruir do título de Património da Humanidade. 

Quinta da Ervamoira - vídeo