quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

RIO DOURO - AFLUENTES VIII

6.2.8 -  Rio Douro - Afluentes - Rio Tâmega II - Amarante


Ponte de Cavez, Cabeceira de Basto



Capela de S. Bartolomeu


Fonte santa de S. Bartolomeu

“O povo utiliza-a em doenças de pele vindo buscá-la em panelas, cântaros, etc., e tempos houve em que os doentes do hospital de Braga vinham aqui tomar banho. Segundo a tradição os efeitos eram mais notáveis desde que o doente lançasse rio abaixo as roupas interiores que trazia vestidas". (Almeida 1988) 
Esta tradição ainda se mantém, vendo-se em redor da fonte diversas peças de roupa abandonadas, não só roupa interior, mas calças, camisas, saias e blusas espalhadas no canavial que separa a nascente do rio Tâmega.


Portugal Antigo e Moderno


Amarante - c. 1900


Cerca de 1900


Cerca de 1900


Igreja e Hospital da Misericórdia – c. 1900


A. R. C. - 1788

Amarante teve provavelmente a sua origem nos povos primitivos que habitaram a serra da Aboboreira (habitada desde a Idade da Pedra), embora se desconheça exactamente o nome dos seus fundadores. Contudo, só começou a adquirir importância e visibilidade após a chegada de São Gonçalo (1187-1259), nascido em Tagilde, Guimarães, que aqui se fixou depois de peregrinar por Roma e Jerusalém. A este santo se atribui a construção da velha ponte sobre o Rio Tâmega.
Amarante torna-se alvo de peregrinações e a povoação foi crescendo. 
Já no Século XVI, D. João III ordena a construção do Mosteiro de São Gonçalo sobre a capela junto à ponte sobre o Rio Tâmega, onde segundo a tradição São Gonçalo terá vivido e foi sepultado.
Em 1763, ocorre a derrocada da velha Ponte de São Gonçalo devido às cheias do Rio Tâmega. Nos anos seguintes foi reconstruída com o aspecto que ainda hoje apresenta.


No início do Século XIX, Napoleão Bonaparte tenta invadir Portugal e sobre Amarante passaram também estas invasões francesas, sendo palco do heróico episódio da Defesa da Ponte de Amarante que valeu ao General Silveira o título de Conde de Amarante e a própria vila de Amarante teve a honra de ser agraciada com o colar da Ordem Militar da Torre e Espada que reflecte no seu brasão municipal. Após este episódio criam-se planos para a reconstrução da vila, pois os franceses tinham incendiado quase a totalidade das casas.
As reformas liberais do século XIX reorganizaram administrativamente o território e em 1855 extinguiram-se os municípios de Gouveia, Gestaçô e Santa Cruz de Ribatâmega, tendo o de Amarante recebido a maioria das suas freguesias e ainda algumas de Celorico de Basto.
O apogeu cultural dá-se nos inícios do Século XX, graças a amarantinos como Teixeira de Pascoaes nas letras e Amadeo de Souza-Cardoso na pintura.
Amarante adquiriu estatuto de cidade a 8 de Julho de 1985, sendo esta também a data do seu feriado municipal.

Amarante - vídeo 


Ponte de S. Gonçalo – cerca de 1900


Rio Tâmega e Igreja de S. Gonçalo – Foto Alvão




Convento e Igreja de S. Gonçalo 




Órgão




Claustro – as 5 fotos acima são do blogue Canelas do Douro

“Fundado em 1540, o convento dominicano de São Gonçalo de Amarante foi construído no local onde se erguia uma pequena ermida medieval dedicada ao santo eremita. A edificação do cenóbio prolongou-se até ao reinado de Filipe I, e embora, numa primeira fase, a direcção das obra fosse atribuída a Frei Julião Romero, a feição maneirista que hoje apresenta o convento amarantino deve-se ao risco do arquitecto Mateus Lopes (RUÃO, 1995, p.24). 
A primeira fase de obras situa-se entre 1545 e 1554, "embora seja difícil avaliar o que nesta década e mesmo na seguinte estaria feito" (Idem, ibidem). A obra seguia, assim, a um ritmo lento, e durante as décadas de 60 e 70 do século XVI, não se conhece qualquer referência documental ou cronológica à fábrica do convento (Idem, ibidem). 
No entanto, em 1586 foi realizada uma vistoria nas obras do cenóbio, levada a cabo por Gonçalo Lopes, que substituía nessa tarefa o seu irmão, o arquitecto Mateus Lopes, "mestre da obra do bem aventurado São Gonçalo da vila de Amarante" (Idem, ibidem). 
Nesta primeira vistoria verifica-se que estava praticamente concluída a capela-mor da igreja, faltando fechar a abóbada, bem como o primeiro piso do portal lateral e as paredes do templo. O lanço do dormitório, a sacristia, o refeitório e as suas dependências anexas estavam também edificados à data. 
A estrutura do Convento de São Gonçalo apresenta evidentes semelhanças com os templos edificados pelos arquitectos Lopes tanto no Minho como na Galiza. A concepção destas "igrejas-padrão", em que se destacam as fachadas retabulares, começa com São Domingos de Viana, edificada no terceiro quartel do século XVI por João Lopes o Moço (OLIVEIRA, 2002, p. 113), e onde Mateus Lopes trabalhou durante alguns anos. 
Será precisamente nas obras galegas de Mateus Lopes que este modelo atinge a sua maturação, nomeadamente em San Xoan de Poio, na Colegiada de Santiago, em Pontevedra, ou em San Martín Pinario em Compostela. 
O claustro nobre de São Gonçalo foi inspirado na estrutura claustral do mosteiro de Poio (RUÃO, 1995, p. 26), e a fachada retabular, localizada num dos panos laterais do templo, teria originalmente a mesma concepção das fachadas de São Domingos de Viana e da Colegiada de Santiago (Idem, ibidem). No entanto, o projecto inicial foi alterado, uma vez que "os registos superiores são obra de outra época" (Idem, ibidem), tendo sido executados na centúria seguinte pelo arquitecto portuense Manuel do Couto. 
No conjunto conventual destaca-se, ainda, a Varanda dos Reis. Rasgada no exterior do templo, ao nível do último registo do pórtico, este balcão foi, também, edificado por Manuel do Couto, apresentando nas pilastras de suporte dos arcos as estátuas dos reis que patrocinaram a construção do convento dominicano de Amarante (D. João III, D. Sebastião, D. Henrique e D. Filipe I)”. Catarina Oliveira - IPPAR/2007

Convento e Igreja de S. Gonçalo de Amarante

A Construção do Convento de S. Gonçalo de Amarante – por Lúcia Maria Ribeiro de Carvalho



Procissão de S. Gonçalo – postais antigos

“Gonçalo de Amarante foi um eclesiástico português considerado pela igreja como Beato, mas que goza de grande veneração popular, recebendo a designação carinhosa de Santo Gonçalo de Amarante. 
Nascido em 1187 em Arriconha, logo de peregrinar durante quatorze anos nas terras santas, voltou para o Portugal e começou a pregar o Evangelho até chegar às margens do rio Tâmega e daí à cidade de Amarante, lugar que achou apto para iniciar sua vida de eremita. 
Logo de conseguir o hábito da Ordem dos Pregadores, no convento de Guimarães, de volta para Amarante, onde ele tinha fundado uma ermida conhecida como Nossa Senhora da Assunção, continua com seu ministério de propagação do evangelho e com a promoção de obras sociais. 
A obra mais importante do beato foi a construção da ponte em granito sobre o rio Tâmega. 
Logo de sua morte no ano de 1262, a ermida foi transformada em igreja e depois, no século XVI sob o governo de D. João III foi erguido um templo e um convento em honor ao santo. 
Posteriormente Gonçalo de Amarante foi elevado à condição de Beato em três Processos Canónicos: o primeiro foi declarado pelo Papa Júlio III em 1551, com a concessão de poder oferecer culto público, processo que foi confirmado em 1561 pelo Papa Pio IV e levado a cabo por D. Rodrigo Pinheiro, bispo do Porto. 
O terceiro procedimento ocorreu em 1671 e foi declarado pelo Papa Clemente X e em que lhe foi concedida à Ordem dos Pregadores a permissão de oferecer missa e cultos litúrgicos próprios ao Beato. 
O processo de canonização não chegou ao bom termo e é por isso que não é considerado santo, mas sim Beato”. In História de Portugal/info 


Doces de S. Gonçalo

“Crê-se que a designação “Casamenteiro das Velhas” advém das suas idas à aldeia de Ovelha (situada em Aboadela) para oficializar em segredo os habitantes que viviam de forma pecaminosa e que da abreviatura ou supressão do “O” terá resultado “velha” ou velhas. Casou aqueles que a igreja recusava casar. E outros relatos, descritos por Katherine Byrne (artista residente da Casamarela e investigadora da vida e obra do santo padroeiro de Amarante) dão-nos conta da sua personalidade irreverente e insubmissa face à normatividade eclesiástica: “Conta-se, por exemplo, que aos sábados à noite se vestia de mulher e, de viola às costas, visitava bordéis, dando festas tão lendárias que as meretrizes caíam de exaustão, incapazes de pecar no dia santo.” E “em nome do amor e da fertilidade, milhares de mulheres afluíam à sua igreja epónima, desde moças a idosas, para beijar o seu túmulo ou, então, acolhiam as procissões onde se desfilava a sua estátua que, segundo a imaginação popular, sempre que a corda fosse puxada, levantava o hábito e exibia o seu falo erecto”.
E eis que nos deparamos com o “falo de S. Gonçalo” ou com o culto fálico, retomando a temática convergente das obras de arte expostas na Casamarela, o Bolo de S. Gonçalo.
Convém, no entanto, esclarecer que segundo Edward Whitmont, na obra A busca do símbolo, “o falocentrismo cúltico é originário da Índia com a prática do Brahmen de adorar o pénis do Deus supremo, Shiva. Durante o festival da primavera, os homens dançavam com falos de madeira.”
Tal significa que enquanto representação icónico-sacralizada, os falos se associavam, quer na Índia, quer em Amarante, a preces relacionadas com a fecundidade e com o casamento”. In Polegarmente.me


“Por ter querido fugir ao inverno, a grande festa de Amarante transferiu-se do dia de S. Gonçalo, 19 de janeiro, para o primeiro sábado de junho, conservando-se em janeiro a celebração religiosa e diversificando-se em junho os folguedos, sem esquecer a memória do santo popular. Popular a valer, especialmente invocado como casamenteiro das velhas, conforme reza longa tradição. Tal aura prodigiosa não se sabe lá muito bem quando principiou; ela, porém, tem-se mantido, com alguma apreensão das raparigas solteiras de cujas – pelo visto legítimas – queixas ficou a célebre quadra:

S. Gonçalo de Amarante,
Casamenteiro das velhas,
Por que não casais as novas?
Que mal vos fizeram elas?

Indaguei da fama e as conclusões são muito inseguras. Mas sempre me foram dizendo que uma quarentona ainda frescalhota, cujo noivo de anos não havia meio de morder o isco, sentiu um lampejo de fé no santinho e lá foi, apesar do janeiro invernoso, ajoelhar-se em frente da imagem. Que lhe punha umas velinhas no altar, que lhe havia de rezar muito, que fazia e que acontecia, se… Trigo limpo. Nesse mesmo dia, o noivo transviado pediu-a em casamento e a notícia correu mundo. Daí outra prece versificada que até as moças, reconciliando-se com o taumaturgo, passaram também a cantarolar:
S. Gonçalo de Amarante,
Casai-me, mas depressinha:
Quero ver o meu amor
Dormir na minha caminha.

E esta ainda, que é um brilhante achado eufemístico:

S. Gonçalo de Amarante,
Casai-me, que bem podeis:
Já tenho teias de aranha
Naquilo que vós sabeis.

Santo glorioso, não há dúvida. E bem apaparicado: promessas não lhe faltam. Se os políticos descobrem… É que este santo também resolve problemas de casais desavindos”. In António Cabral.com


Ponte da Amarante em 4/7/1909 – Centenário da Guerra Peninsular a que assistiu o Rei D. Manuel II

Há muitos séculos a festa de S. Gonçalo também era festejada no Porto e de uma forma muito divertida, digamos mesmo, demasiado e por isso foi extinta:


O Tripeiro - Volume 2


S. Gonçalo nas festas de V. N. de Gaia


S, Cristóvão

Festas de S. Gonçalo em V. N. Gaia - explicação

Vídeos 



Ponte de Amarante – In blogue Porto Cidade Invicta

No Portugal Antigo e Moderno (1877), Pinho Leal afirma que “Na margem direita do Tâmega é Amarante, propriamente dito, e na esquerda é Covello que, sendo um arrabalde da villa já é de diferente bispado (Braga). Aqui passam as novas estradas reais que vão para Vila Real e Peso de Régua”. 
Acredita-se ter existido primitivamente neste local uma antiga ponte romana, dado ser este o traçado da estrada romana que passaria em Amarante, em direcção a Guimarães e a Braga. 
De acordo com a tradição local, por volta de 1250 o beato Gonçalo de Amarante terá construído ou reconstruído esta ponte, com os recursos oriundos de esmolas por ele obtidas na região. 
Em 10 de Fevereiro de 1763, essa ponte, onde a meio se erguia um cruzeiro, desmoronou devido a uma cheia excepcional do rio. O cruzeiro, ou Senhor da Boa Passagem, conseguiu ser retirado uma hora antes desse acontecimento e, mais tarde, foi colocado na janela de um recanto da Igreja de São Gonçalo, ficando a Mãe de Deus a proteger o trânsito. É a imagem da Senhora da Ponte. 
Em 1782 foi iniciada a reconstrução da ponte com projecto de Carlos Amarante, vindo a ser aberta ao trânsito em 1790. No ano de 1791 foi completada com dois pares de coruchéus, dois adornos em forma de urna eleitoral e uma bancada em cada varandim. 
No contexto da Guerra Peninsular (1807-1814), quando da Segunda Invasão Francesa a Portugal, foi palco, durante 14 dias em 1809, da heróica defesa da Ponte de Amarante, contra as tropas napoleónicas em retirada para Trás-os-Montes. 
Encontra-se classificada como Monumento Nacional desde 1910. 


Trajes tradicionais

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