quarta-feira, 2 de novembro de 2016

TRANSPORTES DE PASSAGEIROS IV - CARROÇÃO II, CHAR-A-BANCS, VAPOR DURIENSE

6.26.2 - Transportes de passageiros IV - o Carroção II, o Char-a-Bancs, o Duriense



Terminamos o divertidíssimo lançamento sobre o carroção com um longo, mas “delicioso” artigo de O Tripeiro, Volume 2:



Em meados do séc. XIX apareceram transportes mais civilizados, os “char à bancs”, que partiam da Porta Nobre até à Foz.


Nesta gravura da Cantareira, da autoria de Cesário Augusto Pinto (1849), pode ver-se um “char-a-bancs" a caminho do Porto – vêem-se ainda a Igreja da Foz, a Capela-farol de S. Miguel o Anjo e a Capela da Lapa.


A partir de 1851 apareceu uma alternativa ao carroção, o vapor Duriense.

Em O Tripeiro Série VI, Ano I escreve-se: “feitas as necessárias experiências foi destinado este dia 18 de Agosto de 1851 para o vapor Duriense começar as suas viagens entre a Praça da Ribeira no Porto até à Cantareira em S. João da Foz, podendo levar comodamente até 80 pessoas, pagando cada uma 50 reis à proa, ou 80 reis na ré, porque neste lugar havia melhores assentos, e cobertos com um toldo. Quem tomasse 12 bilhetes de proa ou 8 de ré tirava-os por 480 reis…o barco levava três quartos de hora em ir, desembarcar a gente que levava, e tomar a que devia trazer, pelo que estabeleceu fazer de manhã 4 viagens de ida e outras tantas de volta… e de tarde três viagens de ida e outras tantas de volta”. 

Faustino Xavier de Novais escreveu, em 1852, uns versos sobre este vapor: 

“…Immensa multidão lá se descobre
No logar onde esperam passageiros,
Que o vapor os vá pôr na Porta Nobre,
Ri-se a gente do tom, dos cavalleiros
Que, sem que áureo metal assaz lhe sobre,
Fidalgos querem ser, e não caixeiros;
Em quanto que o patrão, lá na cidade,
Ficou de mãos erguidas na Trindade. 

O Duriense partiu; marchei, por terra,
Porque sou mui cobarde nos revezes,
E escuto como alguma gente berra,
Quando o lindo vapor, não poucas vezes,
Com pedras, água e vento, em crua guerra,
Se dispõe a mangar dos portuguezes:
O passeio findei, bom de saúde,
Se mal o "descrevi, fiz o que pude”.


Cantareira - fim séc. XIX

Alberto Pimental, no seu livro "O Porto Há 30 Anos", editado em 1893, referindo-se à Foz do Douro por volta de 1862 e sobre transportes, escreveu: "Durante algum tempo uma companhia lembrou-se de organizar um serviço de navegação fluvial entre o Porto e a Foz. Havia um vaporzinho que fazia carreiras entre a cidade e a Cantareira, mas a empreza não deu bom resultado, tal o apego ao burro, no Porto d´aquelle tempo, como meio de transporte... Mas a viagem fazia-se tão ronceiramente, que só os pobres usavam d´esse meio de transporte. De mais a mais, havia muita gente que se temia dos perigos do rio Douro, especialmente no sítio chamado «Dezoito braças», porque tal é a profundidade do rio n´esse sitio." 
Mais adiante, referindo-se o autor à época em que escrevia (trinta anos depois) referiu: " Para onde foi o burro, o burro que se alugava á Maricas do Laranjal, e que levava gente á Foz com a condição de cahir pelo menos uma vez em cada jornada?"


Outros barcos a remos faziam já há muitos anos esta mesma viagem.

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