terça-feira, 6 de dezembro de 2016

COMBOIO XII - Linha do Porto à Póvoa de Varzim, acidentes de 19/9/1910 e 26/7/1964

6.26.4 – O Comboio XII -  Linha do Porto à Póvoa do Varzim. acidentes de 19/9/1910 e 26/7/1964



Automotora na Avenida da França – 1973 – foto Johannes Smit


Estação da Senhora da Hora


Estação da Senhora da Hora – a caminho da Trindade


Descarrilamento de 19/9/1910 na Senhora da Hora
“O comboio que vinha do Porto para Varzim, em 19 de Setembro, trazia uma velocidade de 50 Kms/hora, e ao chegar próximo da estação da Senhora da Hora descarrilou, e ao que se diz, em virtude de um alargamento da linha produzido por aquela rápida marcha e por impossibilidade de se abrir a agulha de sahida o que o chefe da estação ainda corajosamente tentou. Dos trezentos passageiros que as carruagens conduziam sessenta ficaram feridos: o machinista foi arremessado do seu logar quando a locomotiva se encravou entre as duas linhas e os wagons, saltando dos rails, rolaram para longe no meio do maior panico”.


Estação da Senhora da Hora – aqui encontravam-se as linhas para Póvoa e de Contumil a Leixões – 1980.


ACIDENTE DAS CARVALHAS EM CUSTÓIAS FOI HÁ 50 ANOS

«69 Mortos e mais de 100 feridos. Desprendeu-se uma carruagem de uma automotora, que embateu na base de um viaduto. Ficou semidesfeita.
Assim anunciava na Iª página o JORNAL DE NOTICIAS, na edição do dia seguinte ao acidente. Adiantava o JN, que o acidente se deu após as 22 horas «Foi num sítio ermo, no Lugar do Carvalhas»
Dizia o JN: «Vinha para o Porto uma automotora que partira de Santo Tirso às 20,22 e devia chegar à estação da Trindade às 22,21. Sabe-se já que o desastre resultou do facto de se terem partido os engates das duas únicas carruagens que constituíam a composição, e de que a primeira era a motora»
Recorde-se que, nessa fatídica noite de 26 de Julho, terminavam as Festas em Honra de S .Tiago de Custóias, estando marcado para as 24 horas, o lançamento do Fogo-de-artifício, como era tradição. No Largo do Souto e nas imediações, estavam milhares de pessoas à espera da hora do fogo, quando a notícia chegou célere. A multidão debandou para as Carvalhas, a cerca de 1500 metros do Largo do Souto. O Fogo-de-artifício já não foi lançado.
Ainda na edição do dia 27 de Julho, lê-se no JN: «A carruagem da traseira pela força da inércia, seguiu em frente durante algum tempo e, desfez-se parcialmente contra a base de um pequeno viaduto que atravessa a linha férrea. O local é ermo, repetimos, mas a natureza do desastre é daquelas que originam imediatamente o afluimento de centenas de pessoas, avisadas não se sabe como, e desejosas de prestar auxílio. O espetáculo que se lhes deparou é daqueles que dificilmente se podem descrever por palavras, se tal é possível»
Lê-se ainda no JN: «Reinava em toda a parte, uma confusão indescritível. Os mortos e os feridos estavam amontoados uns sobre os outros, em volta de um caos infernal» Por outro lado «a falta de luz contribuía para aumentar o ambiente de pavor e de desordem que se gerara, e que tão cedo não pode ser atenuada»
Apenas como curiosidade, eu estava desde Janeiro de 1964, no Hospital Militar do Porto, na Avenida da Boavista, sendo 1º cabo enfermeiro, tinha então 22 anos! E, recordo como se fosse hoje, a confusão que se gerou naquela saudosa (para mim),unidade hospitalar mas, também, a onda de solidariedade que se gerou em volta do acidente.
Uma vez mais o JN noticiava: «Nas estradas que convergiam para aquela que levava a Custóias, os automóveis eram mandados parar, e aos seus condutores pedia-se que colaborassem no transporte das vítimas» 
Dezenas de médicos e dadores de sangue acorreram aos hospitais, entre os quais um grupo de cidadãos franceses que estavam de visita ao nosso país. No Hospital de S. João, até Catedráticos de Medicina compareceram para prestar auxílio às vítimas. No Hospital de Santo António, trabalharam 60 médicos, e no Hospital de João, 45. No Hospital Militar deram entrada 16 militares e um civil.
O motorista da carruagem motora, Manuel Ferreira,45 anos, residia no Bairro de S. Pedro de Campanhã (Porto) e, o condutor, Joaquim da Silva Valente, 44 anos, no Lugar do Pinheirinho, Santo Tirso.
Na carruagem sinistrada, viajava o Revisor, Orlando Mendonça, 51 anos, residente na Rua do Sobreiro, na Senhora da Hora, que sofreu ferimentos, dando entrada no Hospital de Santo António
O comboio da tragédia, noticiava o JN: «partira às 20 horas e 22 minutos de Santo Tirso com o nº 7622. Destinava-se em princípio à Póvoa de Varzim, onde tomou o nº 7926, e partiu às 21 horas e 31 minutos, com destino à estação da Trindade.
Como apontamento histórico, registe-se que a carruagem motora tinha o nº ME-302.
Não chegou à estação da Trindade. Quis o destino que ficasse nas Carvalhas, provocando mais de 90 mortos, e um número incalculável de feridos. 
Uma tragédia que Matosinhos não mais esquecerá.
SEGUNDA PARTE
Prossigo com a narrativa do acidente ferroviário das Carvalhas, socorrendo-me do JORNAL DE NOTICIAS.
FOI EXCESSO DE LOTAÇÃO, adiantou o JN.
Em depoimento ao Jornal de Noticias, no Hospital de S.João, Orlando Mendonça, Revisor da automotora, residente na Rua do Sobreiro, na Senhora da Hora, confessou o excesso de lotação na carruagem sinistrada. «Nós partimos à frente do comboio que devia sair da Póvoa de Varzim às 21,20. Em vez de virmos atrás, viemos adiante, e fomos recolhendo passageiros. Sabe como é o nosso povo! Havendo um lugar, quer sempre entrar. E uma pessoa não pode impedir, pois é quem mais empurra»
Como ironia do destino e parecendo adivinhar a tragédia, o chefe da estação de Modivas, Américo Augusto, conseguiu reter 50 passageiros, que não embarcaram na automotora fatídica.
A CP em comunicado, deu a saber que a lotação da carruagem sinistrada, era de 112 lugares: 68 sentados e 44 de pé mas, calcula-se que viajassem nela, cerca de 300 pessoas. Mas um verdadeiro milagre aconteceu: «Da amálgama de mortos e feridos, saiu uma criança sem uma beliscadura!»
Ao embater na sua base, a metade da frente da carruagem desapareceu totalmente, de forma a que a sua parede passou a constituir a parede da carruagem, refere o JN.
Sublinha ainda o diário portuense no que considero ser uma extraordinária reportagem, pese embora toda a tragédia que enlutou dezenas de famílias. «A remoção dos restos mortais, confrangedoramente esfacelados, constituiu uma das facetas mais impressionantes de toda esta catástrofe. De qualquer forma, eles eram arrancados do monte e depois, puxados por cordas até ao cimo do viaduto, donde se tratava para a sua transferência para o necrotério do Instituto de Medicina Legal»
Cinco pessoas da mesma família morreram no acidente. Também quatro agentes da Polícia de Segurança Pública, pereceram no desastre e, com eles, mais oito pessoas da mesma família. Impressionante!
«Apenas com candeeiros de petróleo como iluminação, as mãos ensanguentadas, o suor a confundir-se com as lágrimas que corriam abundantemente pelo rosto, aqueles homens deram uma grande lição de fraternidade», destaca o JN em referência aos socorristas no local da tragédia.
Aqui abro um parêntesis, para a palavra fraternidade, frase odiada pelo regime de então, e que passou pelo crivo do “lápis azul” da CENSURA, a que era sujeita a imprensa.
O Jornal de Noticias ouviu o motorista da automotora, que saiu ilesa do acidente, e que viria a parar logo após ter atravessado a ponte sobre o Rio Leça, já na subida para Esposade. JN: Quando se apercebeu do acontecido? - «Ao sair do pontilhão, senti que alguma coisa acontecera, pois o freio apertou. A princípio pensei que alguma pedra tivesse cortado a mangueira. A automotora pegou de zorro e fomos parar uns 90 metros adiante. Entretanto, ouvi um barulho muito grande. Olhei para trás e foi então que tive a noção exata do acontecido»
A composição era composta pelas automotoras “ALLAN”, de 1956, convindo lembrar que a linha tinha sido totalmente renovada três anos antes do horrível acidente.
De sublinhar que cerca das quatro horas da madrugada do dia 27, ainda havia corpos entre os destroços da automotora, (conforme noticiava o JN), enquanto que no dia 28, saíram do Instituto de Medicina Legal, os funerais de 55 das vítimas. No dia 29, estavam ainda hospitalizadas 71 pessoas.
Na edição do dia 30 de Julho, o JN anunciava que o número de vítimas tinha subido para 86, enquanto que no dia seguinte (31), informava que já se tinham realizado os funerais de todas as vítimas do desastre.
A 31 de Julho, o JN apontava que «luto não entra nos hospitais… escondem a sua dor sob fatos claros, a fim de que os feridos não saibam que lhes morreram parentes»
Na mesma edição do dia 31 «vestida de noiva desceu à cova a rapariga que não devia morrer», enquanto que, a 1 de Agosto, «aumenta o número de mortos da tragédia de Custóias: faleceram mais duas vítimas» A 4 de Agosto «morreram mais duas vítimas do desastre de Custóias» Lembra então o JN que «em meio século de desastres ferroviários», apenas tinham morrido 54 pessoas”. Blogue josévideira1942.




"Na noite de 26 de Julho de 1964, um comboio, composto pela automotora 9309 e por um reboque, estava a viajar da Póvoa de Varzim para o Porto, na Linha do Porto à Póvoa e Famalicão, com um grande número de passageiros, que regressavam de um fim de semana na praia. Quando a automotora estava a passar pela zona de Custóias, a cerca de 9 quilómetros de distância do Porto, o reboque soltou-se e descarrilou, tendo chocado contra o paredão de uma ponte, e incendiando-se em seguida. O comboio encontrava-se a circular a uma velocidade de cerca de 80 quilómetros por hora. O reboque estava completo, com todos os 68 lugares sentados ocupados, e os restantes passageiros a pé. 
Foi, até então, o pior acidente ferroviário em Portugal, tendo falecido 90 pessoas, e ficado feridas outras 105, tendo 74 ficado hospitalizadas. 
No local, estiveram os Bombeiros Voluntários de Leixões. Logo após a ocorrência, foi organizada uma comissão de três engenheiros da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, auxiliados por três técnicos da Direcção-Geral de Transportes Terrestres, para realizar um inquérito, e apurar as responsabilidades. O relatório produzido pela comissão foi entregue à Direcção-Geral, e apresentado ao Ministério das Comunicações, tendo sido, por sua vez, revisto por uma outra comissão da Direcção-Geral. 
Apurou-se que o reboque circulava com excesso de peso, uma vez que a sua capacidade máxima era de 100 passageiros, embora viajassem no seu interior, na altura do acidente, cerca de 300 pessoas; este factor, aliado a um possível excesso de velocidade, provocou a quebra dos engates entre o reboque e a automotora, e o consequente descarrilamento do reboque. O maquinista negou que a sua velocidade era superior a 50 quilómetros, embora alguns passageiros e o revisor tenham afirmado que o comboio circulava em excesso de velocidade"  In Wikipédia

Dois testemunhos sobre este trágico acidente: 
“Boa tarde, O meu pai tem 77 anos e esteve envolvido nesse acidente tendo falecido a sua esposa que se encontrava grávida de 8 meses. Quem sabe se teria sido o seu corpo que o avô bombeiro ajudou a retirar dos destroços... 
O meu pai passou 11 meses a recuperar no hospital onde acabou por se apaixonar por uma enfermeira e vir a casar com ela. Tiveram 2 filhos. Ainda hoje vivem felizes e por vezes recordam os títulos de jornal dessa altura sobre a sua relação: "Da tragédia nasceu o amor" 

“Boa noite, eu estive nesse tragico acidente, tinha entao 10 anos, a primeira carruagem descarrilhou e so parou muito a frente perto da entrada de um tunel, creio que nao morreu ninguem dessa carruagem, vinha acompanhada dos meus avos, voltamos para tras e lembro me de um horrendo cenario que revivi na tragedia de santiago. Lembro me de fazer um trajeto a pe ate ao centro de Custoias e haver uma festinha que parou com a noticia do tragico acidente e voltei para casa creio que novamente de comboio ate a antiga estaçao da trindade e chegar a minha casa em VALBOM GONDOMAR perto das duas da manha, a automotora saiu as 10 da noite da Povoa, portanto o acidente deve ter sido perto das 10,30 ou 10,45 da noite. Confesso que gostaria muito de visitar o lugar que me lembro ter uma ponte e passar um pequeno riacho mas nao sei o lugar, Abraço a todos os sobreviventes. e esta a pouca imagem de uma menina de 10 anos a data do triste acidente.....” 

Vídeo com imagens do acidente 

Vídeo sobre o acidente, 50 anos depois 


Automotora igual à do desastre de Custóias


Linha da Póvoa – Ponte de Vila do Conde


Linha Porto à Póvoa do Varzim – passando por baixo dos arcos do aqueduto de Vila do Conde

Antiga linha da Póvoa do Varzim 

1 comentário:

  1. Boa noite, acabei de ler esta notícia e queria acrescentar que a criança referenciada na publicação, que saiu sem uma beliscadura, era eu e de fato assim foi como posso comprovar.

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