terça-feira, 9 de maio de 2017

8.1.5 - É livre do flagelo da peste - Capela de S. Roque e Largo do Souto, Peste na Europa, S. Pantaleão, Ricardo Jorge - texto sobre a peste fome e guerra


“Meados do século XIV foi uma época marcada por muita dor, sofrimento e mortes na Europa. A Peste Bubónica, que foi apelidada pelo povo de Peste Negra, matou cerca de um terço da população europeia. A doença mortal não escolhia vítimas. Reis, príncipes, senhores feudais, artesãos, servos, padres entre outros foram pegos pela pestE.
(Morreram cerca de 25 milhões só na Europa, cerca de 1/3 da população).


Nos porões dos navios de comércio, que vinham do Oriente, entre os anos de 1346 e 1352, chegavam milhares de ratos. Estes roedores encontraram nas cidades europeias um ambiente favorável, pois estas possuíam condições precárias de higiene. O esgoto corria a céu aberto e o lixo acumulava-se nas ruas. Rapidamente a população de ratos aumentou significativamente.
Estes ratos estavam contaminados com a bactéria Pasteurella Pestis. E as pulgas destes roedores transmitiam a bactéria aos homens através da picada. Os ratos também morriam da doença e, quando isto acontecia, as pulgas passavam rapidamente para os humanos para obterem seu alimento, o sangue.


Após adquirir a doença, a pessoa começava a apresentar vários sintomas: primeiro apareciam nas axilas, virilhas e pescoço vários bubos (bolhas) de pus e sangue. Em seguida, vinham os vómitos e febre alta. Era questão de dias para os doentes morrerem, pois não havia cura para a doença e a medicina era pouco desenvolvida. Vale lembrar que, para piorar a situação, a Igreja Católica opunha-se ao desenvolvimento científico e farmacológico. Os poucos que tentavam desenvolver remédios eram perseguidos e condenados à morte, acusados de bruxaria. A doença foi identificada e estudada séculos depois desta epidemia.
Relatos da época mostram que a doença foi tão grave e fez tantas vítimas que faltavam caixões e espaços nos cemitérios para enterrar os mortos. Os mais pobres eram enterrados em valas comuns, apenas enrolados em panos.


O preconceito com a doença era tão grande que os doentes eram, muitas vezes, abandonados, pela própria família, nas florestas ou em locais afastados. A doença foi sendo controlada no final do século XIV, com a adoção de medidas higiénicas nas cidades medievais”. In suapesquiza.com


O tracejado corresponde à futura Rua de Mouzinho da Silveira que destruiu o mais belo largo do Porto e a capela.



O Tripeiro - Outubro de 1909 

Esta capela foi mandada construir pelo Senado da Câmara em 1776 e foi demolida para a abertura da Rua Mouzinho da Silveira em 1886. S. Roque era o advogado contra a peste. As imagens de S. Roque, S. Vicente foram transferidas para a Igreja da Irmandade de Nossa Senhora do Terço e Caridade.
Da primeira Capela de S. Roque nada existe, pois foi demolida dado o seu estado ruinoso.



Na Sé do Porto

O P. Fr. Manuel da Esperança atribui esta graça a S. Pantaleão, ao tempo padroeiro da cidade. Diplomaticamente, ARC prefere aceitar os dois santos como interventores, não vá um deles ficar amuado!



Jóias em que foram encastoadas restos da cabeça e braço direito de S. Pantaleão. A primeira está no Museu Soares dos Reis e este no museu da Igreja de Miragaia – fotos de Portojo


Em artigo no JN, Germano Silva afirma:
"No dia 22 de Novembro de 1841, oito anos depois do fim do Cerco do Porto, a Câmara Municipal desta cidade escreveu ao delegado do procurador Régio, o equivalente, naquele tempo, ao procurador da República dos nossos dias, no seguintes termos: "Tendo tido (ela, Câmara) conhecimento do roubo da prata da arca de S. Pantaleão que existia, em depósito, na igreja da Sé, e sendo este roubo de grave importância, não tanto pelo valor do metal, como pela preciosidade em que geralmente era tido o lavor da prata, que denotava grande antiguidade, rogo a vossa excelência que empregue todo o zelo e bons ofícios na descoberta do delinquente e seu imediato castigo".
O que era esta arca de S. Pantaleão da qual, alguém, no recuado ano de 1841, surripiou a prata? Pelos vistos, a tal arca encontrava-se no interior da catedral, onde "estava em depósito", como se infere do teor da carta acima reproduzida.
Vamos por partes. Primeiro, S. Pantaleão. Julgo que não há portuense que já não tenha ouvido falar deste santo que, durante muitos anos, foi o padroeiro da cidade e o patrono da classe médica. S. Pantaleão era arménio, da cidade de Nicomédia, e médico de profissão. Por professar a fé católica foi perseguido, às ordens dos imperadores Diocleciano e Maximiano, sendo martirizado no ano de 320, da Era de Cristo. Os seus restos mortais foram levados, por alguns companheiros, para a cidade de Constantinopla, onde ficaram muitos anos e sendo aí objecto de grande veneração popular. Mas os turcos andavam a preparar um assalto a Constantinopla. Perante tal ameaça os cristãos arménios, que viviam naquela cidade, pegaram no corpo de S. Panta­leão e meteram-se com ele num navio, atravessaram o Mediterrâneo, passaram o estreito de Gibraltar e chegaram ao Atlântico. Navegaram até à embocadura do rio Douro. Demandaram a barra e foram lançar ferro na praia de Miragaia, mesmo em frente à igreja de S. Pedro, em cujo interior fizeram recolher o corpo de S. Pantaleão. Os companheiros do mártir instalaram-se nas imediações do templo, em ruas que ainda hoje evocam, no nome, esse acontecimento: Rua Arménia e Rua Ancira, antiga Rua de Aljazira.
A chegada dos restos mortais do mártir a Miragaia aconteceu a 8 de Agosto de 1453. Pouco depois, um terrível surto de peste invade a cidade, pela então chamada Rua do Olival. A Câmara, no intento de evitar a progressão da epidemia, manda entaipar a artéria que, a partir daí, passa a ser a Rua das Taipas. 
Entretanto os moradores da zona de Miragaia apelam a S. Pantaleão para que os livrem da peste. O mal não chega à zona ribeirinha e isso é atribuído a milagre do santo. E a cidade promove-o, de imediato, a padroeiro do burgo, destronando S. Vicente, que ocupava aquele lugar desde, pelo menos, o século XII. 
Diz uma lenda antiga que, naquele tempo, uma relíquia de S. Vicente estava a ser transportada de Lisboa para Braga. E que ao passar no Porto houve uma milagrosa intervenção do santo no sentido de que a relíquia ficasse nesta cidade. E foi deste modo que S. Vicente apareceu como padroeiro do Porto. Ainda tem altar na catedral onde a sua imagem é venerada. 
Logo a seguir à entronização de S. Pan­taleão como padroeiro da urbe portucalense, o culto que a cidade lhe devotava aumentou consideravelmente e de tal forma que, em 12 de Dezembro de 1499, o bispo do Porto, D. Diogo de Sousa, ordenou a remoção dos restos mortais do padroeiro para a catedral. Em Miragaia ficou apenas um fragmento de um braço que ainda hoje se guarda no interior de um relicário de prata em forma de um braço. 
Na Sé, a arca com as relíquias de S. Pan­taleão foi metida num artístico e valioso relicário de prata, mandado fazer por D. João II mas que só foi entregue à cidade, em 1502, pelo rei D. Manuel I, numa sua deslocação ao Porto. Foi a prata desse relicário que roubaram. 
O furto aconteceu em 1834, já depois do fim do Cerco do Porto. E ao que consta, o autor do roubo nunca foi descoberto. Melhor dizendo: parece que se soube quem foi. Mas o autor da façanha nunca foi denunciado 
Muitos anos mais tarde, em 1875, Pinho Leal, no seu muito apreciado e célebre dicionário "Portugal antigo e moderno", no volume sétimo e na parte respeitante ao Porto, ao tratar do assunto S. Pantaleão, alude também ao roubo da arca e escreve isto: "tinha muito que dizer sobre o roubo deste cofre, o que não faço por certas considerações, sendo a principal envolver neste abominável crime pessoas de alta categoria que se não podem defender por estarem já cobertas com a lousa da sepultura". 
Tudo muito estranho, não é ?”
Em vários locais lemos que o roubo foi executado em 1841.

O ilustre portuense Dr. Ricardo Jorge escreveu:




In O Tripeiro, Volume 2




A peste negra na Idade Média
https://www.youtube.com/watch?v=xVj1mPatjCY

E continua Ricardo Jorge descrevendo outras calamidades do Porto:





Guerra medieval


Como era a vida na idade média

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