segunda-feira, 9 de outubro de 2017

REVOLTA DE 3 DE FEVEREIRO DE 1927 - I

8.1.17 – Revolta de 3 de Fevereiro de 1927 - Revoltosos no cimo da Rua de 31 de Janeiro - Praça da Batalha - Largo do Corpo da Guarda - Rua Alexandre Herculano, General Sousa Dias, Jaime Cortesão, Quartel-General e Governo Civil, Regimento de  Aveiro e Amarante, GNR do Porto


Confluência das Ruas de Santa Catarina e 31 de Janeiro

Após a Revolução de 28 de Maio de 1926 houve, da parte de algumas unidades militares, tentativas para derrubar o novo regime.
A Revolta de 3 de Fevereiro de 1927 foi a mais violenta. 

“A rebelião iniciou-se pelas 4:30 da madrugada do dia 3 de Fevereiro, com a saída do Regimento de Caçadores 9, a que se juntou a maior parte do Regimento de Cavalaria 6, vindo de Penafiel, vários núcleos de outros regimentos da cidade e uma companhia da Guarda Nacional Republicana aquartelada na Bela Vista, Porto.


O comando das forças fora confiado ao general Adalberto Gastão de Sousa Dias, tendo como chefe do estado-maior o coronel Fernando Freiria, apoiado por um comité revolucionário constituído por Jaime Cortesão, Raul Proença, Jaime Alberto de Castro Morais, João Maria Ferreira Sarmento Pimentel e João Pereira de Carvalho. Entre os apoiantes incluía-se também José Domingues dos Santos, o líder da esquerda democrática que em 1918 dirigira a conspiração civil contra a Monarquia do Norte.


Jaime Cortesão foi de imediato nomeado governador civil do Porto e Raul Proença, além de conspirador, foi organizador e combatente de armas na mão, servindo de ligação aos co-conspiradores de Lisboa.


Antigo Quartel-General e Governo Civil na Batalha


Correios da Batalha no antigo palacete da família Guedes

Durante a madrugada e manhã do dia 3 de Fevereiro, as forças dos revoltosos dirigiram-se para a zona da Praça da Batalha, onde estavam as sedes do quartel-general da Região Militar e do Governo Civil e a mais importante estação do telégrafo. As forças governamentais, depois de algumas horas de desorganização, passaram a ser constituídas por uma parte reduzida do Regimento de Infantaria 18, que tinha como comandante o coronel Raul Peres, o Regimento de Cavalaria 9 e o Regimento de Artilharia 5, este aquartelado na Serra do Pilar. Na tarde do dia 3 de Fevereiro, sob o comando do coronel João Carlos Craveiro Lopes, chefe do estado-maior da Região Militar e governador militar da cidade, as forças pró-governamentais concentraram-se no quartel da Serra do Pilar e abriram fogo de artilharia contra os revoltosos. (Este coronel era pai do futuro Presidente Francisco Craveiro Lopes).
Na manhã desse mesmo dia 3 de Fevereiro, numa manobra arriscada, mas indicativa da certeza de que estava assegurada a fidelidade ao Governo das tropas de Lisboa, o Ministro da Guerra, coronel Abílio Augusto Valdez de Passos e Sousa, saiu de Lisboa num comboio com destino a Vila Nova de Gaia, onde chegou ao anoitecer. Assumiu então o controlo operacional das forças pró-governamentais ali instaladas sob o comando do coronel João Carlos Craveiro Lopes, mantendo-se na frente de combate até à subjugação dos revoltosos.


Regimento de Artilharia de Amarante em exercícios no Convento de S. Gonçalo

Logo na manhã de 4 de Fevereiro, juntaram-se aos revoltosos os militares do Regimento de Artilharia de Amarante, cujas peças de artilharia obrigaram as forças governamentais a recuar para o Monte da Virgem, de onde o bombardeamento sobre os revoltosos prosseguiu. 
Nessa mesma manhã, as forças revoltosas concentram-se na zona citadina em torno da Praça da Batalha, em redor da qual se montaram trincheiras, metralhadoras e peças de artilharia.


Na confluência da Praça da Batalha com a Rua de Entreparedes foram instaladas duas peças de artilharia 6.


Quartel de Sá – Aveiro (sem data)

Na manhã do dia 4 de Fevereiro, o Regimento de Cavalaria 8, vindo de Aveiro, fiel ao Governo, conseguiu penetrar o fogo dos revolucionários e atravessar a Ponte de D. Luís, mas foi detido pelas barricadas que defendiam a Praça da Batalha. A mesma sorte tiveram as tropas fiéis ao Governo aquarteladas na própria cidade do Porto, que foram rechaçadas pelo intenso fogo das trincheiras dos revolucionários quando tentaram avançar sobre as posições dos sublevados.


Revoltosos na confluência das Ruas de 31 de Janeiro e de Santa Catarina. À esquerda vê-se a saudosa Tabacaria Africana

Entretanto começaram a chegar mensagens de adesão de diversas guarnições, mas não das esperadas guarnições de Lisboa. Aderem tropas pertencentes a unidades aquarteladas em Viana do Castelo, Figueira da Foz e Faro, estas últimas apoiadas por forças de Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António, mas por falta de apoio, particularmente de Lisboa, os recontros nestas cidades são esporádicos e a rebelião foi, na maior parte dos casos, subjugada em escassas horas.


Raul Proença

Na tarde de 4 de Fevereiro, quando as adesões militares não corresponderam ao esperado, Raul Proença, profundamente envolvido na revolta, convoca os civis para combaterem ao lado dos revoltosos, mas com pouco sucesso. O movimento haveria de se manter até ao fim essencialmente militar, sendo poucas as adesões civis.


Guarda Nacional Republicana no quartel do Carmo - 1910

Mesmo as restantes forças da Guarda Nacional Republicana estacionadas no Porto e seus arredores fizeram saber, através do seu comandante, major Alves Viana, que se manteriam neutrais, garantindo o policiamento da cidade "em defesa das vidas e dos haveres dos cidadãos", mas não interferindo na contenda entre militares.

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No alto da Rua 31 de Janeiro – de lado, o soldado Emídio Guerreiro

Ao longo do dia foram sendo consolidadas as defesas do perímetro em torno da Praça da Batalha, com a colocação ao cimo da Rua de 31 de Janeiro, na bifurcação com a Rua de Santa Catarina, de uma metralhadora para impedir a progressão naquelas ruas. Tal foi a mortandade causada pela metralhadora ali colocada que a posição foi cognominada de a trincheira da morte.


Largo do Corpo da Guarda antes das demolições para a abertura da Avenida da Ponte

Para completar o perímetro defensivo, foi colocada outra metralhadora numa trincheira construída na confluência das ruas de Cima de Vila e da Madeira, montada uma peça de artilharia à esquina do edifício do Hospital da Ordem do Terço, voltada para a Rua do Cativo, e colocada uma metralhadora no desaparecido Largo do Corpo da Guarda, ao cimo da rua que ainda mantém esta designação.


Guarnição na Rua de Alexandre Herculano

Para além disso, levantou-se o pavimento e montaram-se duas peças de artilharia na Rua de Alexandre Herculano, na junção com a Praça da Batalha e a Rua de Entreparedes.
Para além de soldados do Regimento de Infantaria 6, de Penafiel, e da GNR da Bela Vista estacionados ao longo da Rua Chã, foram colocadas "vedetas", patrulhas constituídas por soldados e civis, ao longo de todo o perímetro.

2 comentários:

  1. O meu Bisavô participou na Revolta de 3 de Fevereiro de 1927, fazendo parte das forças civis revoltosas da frente democrata e republicana.

    É com enorme orgulho que vejo aqui referência a este momento histórico, esquecido e feito censurar ao longo dos tempos; a Revolta do 3 de Fevereiro de 1927 foi um momento único de bravura e coragem na história da resistência contra a ditadura clerical do Estado Novo, aqueles que nela participaram foram homens de bravura e de um patriotismo imenso, movidos pelos valores do Ideal Republicano e pela férrea vontade em restaurar a Democracia.

    Infelizmente a revolução não triunfou devido à cobardia, traição, e reaccionarismo, típico de Lisboa.

    Aos cidadãos, às forças militares, e aos mártires desta revolta que não triunfou, a minha sincera admiração e homenagem por todos eles que se levantaram em defesa da República e da Democracia.

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  2. Muito obrigado pelo seu testemunho. O Porto foi sempre mais revolucionário por índole e porque os seus interesses baseavam-se no comércio e no trabalho e menos nas diversões e na classe nobre que nada fazia.

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